Vem aí a canícula! O que podemos esperar do período mais quente do ano em Portugal?

A canícula pode alternar, ou surgir quase em simultâneo, com as conhecidas trovoadas de verão, ou com dias mais frescos pautados pela típica nortada que caracteriza o clima estival em Portugal continental.

No entanto, ao longo do período conhecido como canícula (15 de julho - 15 de agosto) e que se caracteriza estatisticamente como o mais quente do ano, aquilo que se antecipa para este verão de 2023, em Portugal, são duas fases bem distintas. Abaixo descreveremos cada uma delas, com aquilo que se prevê para as próximas semanas!

O que é a canícula, porque se chama assim e quando começa e acaba?

A canícula é a época do ano em que costuma estar mais calor. Embora não existam datas fixas no calendário que assinalem o seu começo e o seu fim, a canícula tem por hábito desenrolar-se, ou ser identificada como o período que tem início a 15 de julho (próximo sábado) e que termina a 15 de agosto, tal como mencionado anteriormente. Todavia, isto não anula a possibilidade de aparecerem ondas de calor com impacto, antes ou depois da canícula.

A origem etimológica desta palavra reside no latim canis, que significa “cão”. A subida da estrela Sirius no horizonte sinalizava o início das inundações do rio Nilo no Antigo Egito, coincidindo com a chegada do verão. A Sirius é a estrela mais brilhante da constelação Canis Maior, daí o peculiar nome atribuído à época mais quente do ano.

A canícula é um termo que também pode ser utilizado para a referência ou indicação a possíveis ondas de calor ou vários dias consecutivos de muito calor, geralmente associadas à presença de configurações anticiclónicas quase estacionárias, geradas durante eventos de bloqueio atmosférico.

Nestes períodos de calor intenso ou tórrido a população que padece de maior vulnerabilidade deve procurar refugiar-se, abrigando-se à sombra ou dentro de casa, evitar exposição demasiado prolongada à radiação solar, beber muita água para manter-se hidratada. Isto já para não falar do grande risco de incêndios florestais.

A previsão para este ano de 2023

Durante o período veranil no qual a canícula está em vigor, os raios solares chegam até nós mais perpendiculares que nunca e, tanto o solo como a superfície marítima são sujeitos a um muito maior aquecimento. Desta forma reúnem-se todos os “ingredientes” meteorológicos para que o calor seja notável! Este ano de 2023 a canícula poderá ser variável em Portugal continental, com uma fase menos intensa e mais dentro do normal para o verão e com outra com temperaturas acima da média.

Irá a segunda quinzena de julho manter a tendência da primeira?

Para 2023, de acordo com as previsões do nosso modelo de maior confiança (ECMWF), a canícula não irá mostrar “sinais de vida” até ao final de julho. Isto significa que, as previsões para o tempo até ao final do mês, entre sexta (14) e segunda (31) sugerem um padrão meteorológico que seguirá aproximadamente a mesma tendência desta primeira quinzena, prestes a terminar.

Assim, para a segunda quinzena de julho em Portugal (sexta 14 a segunda 31), prevê-se temperaturas abaixo da média em praticamente toda a geografia continental (anomalia térmica negativa, isto é, entre 1 ºC e 3 ºC, destacando-se algumas áreas correspondentes às serras do extremo Norte e uma boa parte da Região Centro), sendo que a nortada desempenhará um papel preponderante na suavização do calor na faixa costeira atlântica - as temperaturas máximas nos distritos do litoral serão consideravelmente amenizadas. Espera-se assim, um tempo relativamente ventoso, sem calor excessivo, com alguma frescura e inclusive precipitação.

Por outro lado, o Sotavento Algarvio será, de acordo com as últimas atualizações, a única área de Portugal continental a registar tempo quente para a próxima semana, isto é, espera-se uma anomalia térmica positiva na semana de 17 a 23 de julho na parte mais oriental do distrito de Faro (até 1 ºC acima da média da normal climatológica de referência). Como se não bastasse a frescura, entre sexta (14) e sábado (15) espera-se chuva fraca no Minho, Douro Litoral e chuviscos nalguns pontos do Litoral Centro, Oeste e áreas montanhosas do interior Norte.

Não se espera precipitação na próxima semana (terceira de julho com tempo seco), mas, na última semana - entre 24 e 31 de julho - o mapa do modelo Europeu sugere uma anomalia pluviométrica positiva bem evidente de norte a sul de Portugal continental - exceto Sotavento Algarvio e parte do distrito de Beja. Isto significa, muito provavelmente, ou a chegada de uma depressão isolada em altitude que provocará aguaceiros convectivos (chuva, trovoada e granizo) ou a chegada de uma frente ou até de uma depressão atlântica. Prevê-se, no cômputo geral, entre 0 e 10 mm acima do normal.

Primeiras tendências para a primeira quinzena de agosto de 2023

Para os primeiros 15 dias de agosto em Portugal continental, os modelos começam a projetar um cenário meteorológico distinto em relação àquele que o precedeu, podendo, finalmente, significar boas notícias para os amantes do sol e do calor.

Segundo os mapas meteorológicos semanais, as primeiras tendências em relação ao estado do tempo na primeira semana de agosto de 2023 em Portugal continental ainda sugerem temperaturas relativamente dentro do normal na generalidade da nossa geografia, sendo que apenas no distrito de Beja e em partes dos distritos de Setúbal e Lisboa se prevê que os termómetros registem temperaturas acima da média (anomalia térmica positiva de até 1 ºC).

No entanto, para a segunda semana de agosto (dias 7 a 14), as primeiras tendências sugeridas na cartografia do ECMWF já exibem outro cenário, verdadeiramente estival. As primeiras previsões apontam para temperaturas até 3 ºC acima da média no distrito do Porto e na generalidade do território entre a Beira Baixa e o Algarve, à exceção dos distritos de Leiria, Lisboa e a região do Barlavento Algarvio. No resto do país a anomalia térmica positiva não será tão acentuada (até 1 ºC acima dos valores de referência).

Saliente-se que o valor destas previsões a longo prazo é relativamente reduzido: convém, isso sim, acompanhar a situação diariamente. Apesar disto, é de realçar que a tendência meteorológica para a canícula aponta para um aparecimento gradual do calor de verão, com possibilidade de temperaturas mais altas antes do final da primeira quinzena de agosto, apesar da enorme variabilidade meteorológica que poderá ser vivida pelo meio!