Última hora do perito Alfredo Graça sobre o fim da canícula: alguma "perturbação" poderá alterar os dias de tempo quente
Estamos a escassas horas de agosto, o mês de férias por excelência em Portugal, cuja primeira quinzena coincide com a segunda parte da canícula: será que se prevê uma mudança radical do tempo no nosso país?
O arranque desta semana, que coincidiu com os últimos dias de julho, foi marcado pelo aparecimento de uma depressão isolada em altitude (ou gota fria) que distribuiu trovoadas localmente fortes, aguaceiros e queda de granizo em várias regiões de Portugal continental, rompendo com a situação de estabilidade atmosférica quase generalizada, típica da canícula. No entanto, o calor e as poeiras em suspensão tampouco perderam o seu protagonismo.
Após este pequeno parêntesis meteorológico, arrancará agosto, o mês de férias por excelência em Portugal, cuja primeira quinzena coincide com o fim da canícula, que é, estatisticamente, o período mais quente e seco do ano em todo o país.
Estará à vista uma onda de calor?
As perspetivas para o resto desta semana são claras, como já explicámos na Meteored Portugal. Apesar da massa de ar muito quente que chegará à Península Ibérica, a sua influência praticamente não se notará em Portugal continental, roçando apenas ao de leve as regiões do interior, e em particular a Beira Baixa e o Alentejo.
Tal como mencionado nas últimas previsões, o calor intensificará nos próximos dias, especialmente no fim de semana de 3 e 4 de agosto, e em particular no domingo (4), quando se prevê até 40/41 ºC nalgumas zonas do interior, mais expostas à influência do ar quente.
A nortada e a latitude são os principais fatores que explicam o facto de Portugal continental “escapar” quase por inteiro ao calor extremo a que Espanha estará submetida nos próximos dias. Assim, os dias serão marcados por temperaturas normais de verão, estáveis, secos e geralmente soalheiros, mas sem o calor extremo ou excessivo que afetará boa parte do país vizinho. Apenas as regiões do interior e boa parte do Algarve estarão sujeitas aos chamados dias de tempo quente entre quinta-feira, dia 1 e domingo, 4 de agosto.
Para a próxima semana - período de 5 a 12 de agosto - o país continuará a viver grandes contrastes térmicos na sua curta largura de pouco mais de 200 km. De acordo com o modelo de referência da Meteored, o Barlavento Algarvio, algumas zonas dos distritos de Portalegre e Évora e os distritos de Leiria e Santarém vão registar anomalias térmicas negativas (até 1 ºC abaixo da média).
Por outro lado, o Sotavento Algarvio e o interior Norte e Centro (Vila Real, Viseu, Bragança e Guarda) vão registar anomalias de temperatura positivas (entre 1 e 3 ºC acima do habitual). No resto do território do Continente não se observam anomalias estatisticamente significativas, o que denuncia uma “normalidade” térmica, isto é, temperaturas dentro daquilo que é normal para esta altura do ano.
Quanto aos arquipélagos, em ambos se observam anomalias de calor, sendo que a mais pronunciada está prevista para o dos Açores, com previsão de temperaturas entre 1 e 3 ºC superiores à média. No da Madeira essa anomalia será mais suave, estimando-se até 1 ºC acima dos valores da normal climatológica de referência.
Como poderá terminar a canícula?
Como é habitual, a dispersão nos mapas aumenta à medida que nos aproximarmos do fim de semana prolongado da Nossa Senhora da Assunção, que marca o fim da canícula. O que aqui está a ser discutido são tendências e aproximações muito gerais com um elevado grau de incerteza.
No que diz respeito à chuva, nesta época do ano - a estival, predomina a precipitação convectiva, ou seja, aguaceiros localizados e irregulares. Até ao fim de semana prolongado, as últimas previsões indicam que a precipitaç��o será inferior à média em grande parte do país ou dentro da média no resto da geografia do Continente. Nos Açores a precipitação será geralmente superior à média no que resta da canícula, enquanto na Madeira será igual ou inferior ao normal.
No que diz respeito à circulação atmosférica, o cenário mais provável à data de hoje mostra que a estabilidade típica da canícula em Portugal predominará, ainda que sem situações de calor extremo ou excessivo.
Mesmo assim, a possibilidade de algumas depressões isoladas ou bolsas de ar frio se isolarem sobre o Atlântico e eventualmente alguma delas chegar ao nosso país deve ser considerada, tendo em conta a previsão de longo prazo das probabilidades de padrões meteorológicos do modelo que mais confiança merece da Meteored.
Para o fim de semana prolongado da Nossa Senhora da Assunção, a situação não deverá alterar-se drasticamente pelo que, por enquanto, não se vislumbra uma situação de instabilidade mais acentuada e generalizada, que é mais comum na segunda metade de agosto. A única novidade para essa altura seria mesmo a possível intensificação generalizada do calor em Portugal continental.