Tempo para a primavera 2025 em Portugal: “poderá ser mais chuvoso do que o normal nestas regiões”, avisa Alfredo Graça

A primavera climatológica arranca a 1 de março e é um dos períodos mais chuvosos do ano em boa parte de Portugal. Analisamos as regiões em que se preveem meses húmidos e aquelas em que a seca poderá agravar-se.

Na primavera as trovoadas começam a tornar-se cada mais frequentes, fortes e organizadas, sobretudo na sua reta final, já em maio.

O inverno climatológico está prestes a terminar e a dinâmica atmosférica já está a evidenciar traços mais típicos dos meses primaveris. A curto-médio prazo, não se vislumbra a aproximação de grandes tempestades atlânticas, mas é expectável a formação e evolução de várias baixas nas imediações da nossa geografia devido a um jato polar que se apresentará mais ondulante na nossa latitude.

A primavera astronómica terá início no próximo dia 20 de março às 09:01 (hora Portugal continental e R.A. da Madeira, -01:00 na R.A. dos Açores), mas, para a Climatologia, começará este sábado, 1 de março. O próximo mês, juntamente com abril e maio, integra um trimestre em que a temperatura e a precipitação apresentam determinados padrões climáticos comuns. Em Climatologia considera-se que a primavera abrange estes três meses, tendo o seu fim a 31 de maio.

A primavera é conhecida pela sua brusca variabilidade de estados do tempo, com bons períodos de sol e estabilidade a alternarem freneticamente com períodos de fortes aguaceiros, trovoada e por vezes granizo.

A primavera é a estação de transição entre o inverno e o verão, diz respeito ao (“primo vere” - ‘primeiro verão’) e é normal que a atmosfera se apresente bastante dinâmica, razão pela qual são muito frequentes as mudanças bruscas no estado do tempo.

Como costuma ser o tempo nesta estação do ano?

De acordo com a normal climatológica 1981-2010, os valores de temperatura média mais elevados de Portugal continental para o trimestre entre março e maio - entre 14 e 18 ºC - dizem respeito, grosso modo, aos distritos de Santarém, Lisboa, Setúbal, Évora, Beja e Faro. Ocasionalmente, em maio, são registados valores estivais. Ainda quanto à temperatura média, na R.A da Madeira verificam-se normalmente valores entre 17 e 19 ºC e na R.A dos Açores entre 15 e 17 ºC.

Primaveras a tornarem-se mais quentes?
Na primeira metade do trimestre ainda chegam massas de ar polar marítimo ou continental, capazes de produzir um tempo de inverno durante alguns dias. Contudo, o que se tem observado com mais frequência nos últimos anos é que as primaveras estão a tornar-se cada vez mais quentes, com temperaturas anómalas nalgumas situações. A estação está a desaparecer face aos verões cada vez mais longos em Portugal: arrancam mais cedo e acabam mais tarde.

As temperaturas mais frias concentram-se nos planaltos e nas serras e, sobretudo, em alta montanha, onde ocasionalmente as temperaturas descem abaixo dos 0 ºC com a primavera já adiantada. À medida que as semanas vão passando, a geada fica confinada aos pontos mais elevados da nossa geografia, bem como a neve. Além disto, os dias tornam-se mais longos e o nevoeiro dissipa-se com mais rapidez, à medida que o sol fica mais intenso (ângulo de incidência dos raios solares).

Na primavera a precipitação do tipo frontal, contínua e persistente, abre progressivamente espaço para uma precipitação do tipo convectivo, forte e irregular.

A primavera é uma das estações mais chuvosas do ano em Portugal

Uma subtil análise aos valores da precipitação em Portugal permite concluir que esta estação do ano é de importância fulcral para toda a nossa geografia, com especial ênfase nas regiões situadas a sul do Tejo (Alentejo e Algarve), cronicamente mais afetadas pela falta de água.

Quando os invernos são secos nas regiões meridionais, a primavera assume-se como a ‘salvação’ para o armazenamento de água e mitigação da seca, face aos verões cruéis que estas regiões muitas vezes enfrentam. O trimestre março-maio é particularmente chuvoso em Portugal continental - sobretudo no Noroeste e nalgumas zonas do Centro -, o que se reflete no provérbio: “em abril, águas mil”.

Neste trimestre, os valores médios da precipitação total ultrapassam os 600 mm no Minho (soma dos distritos de Viana do Castelo e Braga) e superam os 275 mm nos distritos do Porto e Viseu, contra o Algarve - a região mais seca - e que, em média, não chega aos 100 mm. Na R.A da Madeira os valores são geralmente inferiores a 150 mm e, nos Açores, rondam normalmente os 250 mm.

Nas primeiras semanas da primavera, as frentes associadas às tempestades atlânticas costumam ter uma grande influência na distribuição da chuva. Posteriormente, as ondulações do jato polar ganham gradualmente terreno, o que se traduz na chegada de bolsas de ar frio, vales depressionários ou depressões isoladas em altitude à nossa latitude: em suma, a precipitação frontal dá lugar a uma precipitação convectiva, mais irregular. No mês de maio, as trovoadas já conseguem ser fortes e muito organizadas.

Em 2025 prevê-se uma primavera ligeiramente mais quente do que o habitual

De acordo com o modelo de referência da Meteored, é muito provável que as temperaturas registem valores superiores à média em quase todo o território de Portugal continental, Açores e Madeira - entre 0,5 e 1 ºC - no mês de março. A priori, não há perspetiva de anomalias quentes históricas em Portugal, sendo que seriam bastante suaves no Algarve.

De norte a sul de Portugal continental perspetiva-se a possibilidade de temperaturas ligeiramente mais quentes do que o normal (até 1 ºC acima da média) em março, exceto numa pequena porção do Algarve (sem anomalia) e numa pequena zona fronteiriça do Nordeste Transmontano (anomalia térmica positiva 1/1,5 ºC).

Este padrão observa-se tanto para março, como para abril e maio, com temperaturas não superiores a 1 ºC à média do período. As anomalias de calor mais significativas estão previstas para algumas zonas fronteiriças do Nordeste Transmontano e do Alto Alentejo (distritos de Bragança e Portalegre).

Apesar de não parecer ser esse o caso para 2025, recorde-se que, sobretudo em março, a possibilidade de ocorrência de fortes vagas de frio ainda existe, o que por vezes provoca temperaturas baixas e grandes nevões nalgumas zonas.

Poderá chover com mais frequência nas regiões a sul do rio Douro

Antes da análise às tendências da precipitação, é necessário realçar que é praticamente ficção científica afirmar se será, ou não, uma primavera muito chuvosa, dado que, como já foi mencionado, nesta estação do ano tendem a ocorrer vários tipos de situações meteorológicas.

De momento, os nossos mapas de referência revelam probabilidade de precipitação acima da média para o mês de março na R.A da Madeira, nas ilhas de São Jorge e Terceira (Grupo Central) e São Miguel (Grupo Oriental) - R.A dos Açores e em todas as regiões situadas a sul do rio Douro (incluindo o Algarve), com uma anomalia positiva de 5 a 10 mm.

A atual previsão para março aposta num mês mais chuvoso do que o habitual em todas as regiões situadas a sul do rio Douro, incluindo o Algarve. A norte do referido curso de água, apenas o distrito de Viana do Castelo registaria mais precipitação do que o normal.

Para algumas zonas dos distritos de Coimbra e Leiria prevê-se uma anomalia especialmente positiva e acentuada, de até 20 mm acima do normal.

Caso este cenário se concretize, estaríamos perante uma excelente notícia para as regiões mais afetadas pela seca, tais como o Barlavento Algarvio e o Alentejo Litoral. Ainda para março 2025, para as regiões a norte do rio Douro, não há uma tendência definida no que concerne à chuva, exceto no Alto Minho onde também se perspetivam valores acima da média climatológica.

Os mapas mostram a possibilidade de alternância entre dois padrões dominantes na Europa durante as próximas semanas: o bloqueio anticiclónico, que favoreceria a circulação de baixas pressões sobre as latitudes mais meridionais do continente, onde se encontra Portugal e o NAO+, que favorece o tempo estável e anticiclónico no nosso país.

Todavia, isto não significa que não surjam outros padrões, com o potencial de desencadear situações mais propícias à ocorrência de precipitação.