Tempo nos próximos dias: Ciarán será a primeira de várias depressões colossais, saiba que fenómenos afetarão Portugal
A “torneira do Atlântico" continuará ativa mais uma semana. O arranque de novembro será marcado por uma ciclogénese explosiva que originará Ciarán, outra depressão de grande impacto. Prevê-se mais chuva, vento intenso, forte agitação marítima e possibilidade de queda de neve.
O mês de outubro terminará com Portugal continental completamente envolvido em depressões. Contudo, uma mudança radical irá ocorrer nas características destas, pois abandonarão os traços subtropicais, adotando os polares marítimos.
Estas sim, costumam ser as depressões mais típicas da nossa latitude, pois possuem núcleos frios e grandes frentes de nuvens que se estenderão a partir dos seus centros. Estas características já serão visíveis na recém-nomeada Depressão Ciarán pelo Met Office, prevista para meados da próxima semana. O seu raio de ação será enorme.
Contrariamente a Aline ou Bernard, depressões que continham núcleos quentes e dimensões muito reduzidas - apesar dos fenómenos associados terem sido bastante gravosos - os efeitos das próximas tempestades poderão ser notados desde a Islândia até ao Estreito de Gibraltar.
Os elementos climáticos que irão assumir o protagonismo do tempo nos próximos dias serão, além da chuva, os temporais de vento e mar, fruto do grande cavamento destes ciclones cujo processo evolutivo, nalguns casos, será do tipo “explosivo”.
Mais uma semana muito chuvosa no Noroeste de Portugal continental
A tendência semanal do modelo Europeu (ECMWF), aquele em que depositamos a nossa maior confiança, insiste noutra semana chuvosa e instável na maioria das regiões a norte do sistema montanhoso Montejunto-Estrela, com tempo bem mais seco naquelas a sul deste acidente geográfica.
Regiões como as dos Açores, Madeira, Algarve e Alentejo serão menos atingidas pela precipitação, mas ainda assim seguirão a tendência húmida e chuvosa do resto das unidades territoriais portuguesas. Este panorama meteorológico deve-se, sobretudo, ao chamado fluxo zonal de oeste.
As acumulações pluviométricas serão bastante expressivas no Minho (Viana do Castelo e Braga), no Douro Litoral (Porto), na Região de Aveiro e, por último, nos distritos de Vila Real e Viseu, em particular a metade ocidental destes territórios, por causa da entrada constante de frentes e ventos de longo curso marítimo, carregados de humidade.
Nas áreas montanhosas do Minho poderão acumular-se quase 200 mm no decorrer dos próximos dias, e mais de 100 mm em grande parte do território dos distritos supracitados, correspondentes, grosso modo, ao Noroeste de Portugal continental.
Temperaturas a descer, mas sem frio intenso
Prevê-se uma semana ligeiramente mais fria nas regiões do interior, mas sem grandes desvios para a altura do ano. Para as regiões do litoral, de um modo geral, as temperaturas estarão mais amenas, ligeiramente acima da média ou então com valores térmicos normalizados. As massas de ar que irão chegar ao nosso país não serão excessivamente frias pois o regime de vento dominante continuará a ser o de Oeste e Sudoeste.
No entanto, na quinta 2 de novembro e na sexta, dia 3, o vento mudará de rumo, passando a soprar forte de noroeste por causa de uma advecção polar marítima que alcançará a Península Ibérica.
Antes de sexta-feira (3) - dia em que se prevê uma descida generalizada e significativa das temperaturas em praticamente toda a geografia do Continente - o Nordeste Transmontano e a Beira Alta já irão testemunhar um ambiente substancialmente mais fresco, com uma temperatura máxima a oscilar entre os 10 ºC e os 15 ºC durante toda a semana e com o frio noturno a tornar-se gradualmente mais evidente, sobretudo na Guarda, onde se espera, por vezes, mínimas abaixo dos 5 ºC.
Nas áreas montanhosas não se descarta a formação de algumas geadas. Pelo contrário, em Lisboa e vale do Tejo e do Sado, Baixo Alentejo e Algarve, as máximas irão variar entre 18 ºC e 22 ºC.
Ciarán será uma depressão muito cavada resultante de uma ciclogénese explosiva
Em somente 24 horas a pressão mínima central cairá de 992 hPa para 963 hPa. Isto representa uma descida de 29 hPa, um valor que ultrapassa largamente o limiar das ciclogéneses explosivas na nossa latitude (18-20 hPa em 24 horas). Este sistema de baixas pressões deverá então crescer e espalhar uma língua de ar polar ao longo da sua retaguarda, no flanco oeste.
Uma frente fria muito ativa desdobrar-se-á no seu flanco frontal. A linha de nebulosidade produzirá quantidades de chuva generosas e abundantes em várias regiões de Portugal continental, tanto na quarta-feira 1 de novembro feriado e Dia de Todos os Santos, como na quinta-feira (2).
De acordo com o nosso modelo de referência, as acumulações de precipitação não serão tão significativas como nos episódios pluviosos recentemente testemunhados, uma vez que as nuvens já não terão um importante fator extra que intensificava a eficácia da precipitação: o ar subtropical mais quente e que era um melhor transportador da humidade.
Como já é habitual, as regiões a sul do sistema montanhoso Montejunto-Estrela receberão uma quantidade de chuva substancialmente inferior, e de uma maneira muito mais irregular, intermitente e dispersa.
Possibilidade de queda de neve, rajadas de vento de até 100 km/h em várias regiões e um poderoso temporal marítimo
Apesar da chuva prevista, o temporal de mar e vento será, provavelmente, ainda mais significativo na generalidade das regiões. Quinta-feira, 2 de novembro, será, muito provavelmente o dia mais agreste associado à passagem indireta da Depressão Ciarán.
Haverá rajadas de vento a rondar os 100 km/h em várias regiões do Norte e Centro de Portugal continental, mas também nalgumas de Espanha, França, Ilhas Britânicas e Países Baixos. Esta será uma das consequências mais diretas desta ciclogénese tão brusca.
A agitação marítima estima-se muito agreste na faixa costeira ocidental, sobretudo a norte do Cabo Carvoeiro onde se prevê ondas de até 8 ou 10 metros.
Como se isto não bastasse, a combinação do ar polar marítimo em altitude com a precipitação poderá originar queda de neve nas montanhas do extremo Norte (serras do Parque Nacional Peneda-Gerês, e do Nordeste Transmontano, por exemplo).
O que poderá ocorrer a partir de sexta?
Para sexta-feira (3) deverão ocorrer tréguas, ainda que de curta duração, dado que, logo no sábado (4) poderá surgir outra depressão com características semelhantes no noroeste da Europa e que também afetaria Portugal continental indiretamente.