Tempo em Portugal no Natal: eis a última previsão sobre a possibilidade de frio, chuva ou neve até à Passagem de Ano
Portugal continental tem registado, regra geral, temperaturas acima da média climatológica de referência neste mês de dezembro. Contudo, há indícios de possíveis alterações meteorológicas durante a semana do Natal. Eis os possíveis fenómenos de risco.
A cada ano torna-se cada vez menos apetecível escolher Portugal continental como destino de montanha ou de neve para passar as típicas férias de Natal em estâncias de esqui. Seja devido às características naturais do nosso clima, seja devido aos efeitos das alterações climáticas, que contribuem ainda mais para um clima já de si pouco propício à formação de neve. Tudo isto porque o nosso país possui um clima bastante influenciado pelo efeito termorregulador do Atlântico.
A proximidade ao mar e a largura bastante curta (apenas 218 km) do nosso território situado no extremo ocidental da Península Ibérica, a par do facto de existirem poucas montanhas com altitudes superiores a 1000 metros, faz com que Portugal não seja, em comparação com outros países europeus como por exemplo a vizinha Espanha, um destino turístico e/ou de lazer atrativo para esquiar.
Os invernos dos últimos anos na nossa latitude têm sido pouco rigorosos no que diz respeito às temperaturas baixas e à precipitação sob a forma de neve, elementos climáticos mais do que necessários para que o turismo de neve e de montanha possa funcionar adequadamente.
Ora, isto faz com que a única estância de esqui em Portugal continental, situada na Torre, freguesia de Loriga, concelho de Seia, distrito da Guarda (Serra da Estrela) funcione com imensas dificuldades, dado que a queda de neve é escassa e poucas vezes têm-se gerado boas acumulações.
Um Natal de manga curta ou de casaco, luvas, cachecol e gorro?
Neste momento, o cenário mais provável denunciado pelo modelo que merece a nossa maior confiança (ECMWF) aponta para o domínio das altas pressões (anticiclone) na nossa latitude, mas com temperaturas que se exibirão abaixo da média para esta altura do ano de norte a sul de Portugal continental (anomalia térmica negativa geralmente de 1 ºC, isto é, temperaturas até 1 ºC abaixo da média).
Contudo, tal como se observa no mapa abaixo, a anomalia térmica negativa poderá ser ainda mais pronunciada (temperaturas até 3 ºC abaixo da média) nalgumas zonas do território, tais como o Baixo Alentejo (Beja) e a zona fronteiriça do distrito de Portalegre.
Por outro lado, nos Açores e na Madeira, as temperaturas preveem-se acima da média desta estação. Esta distribuição das anomalias de temperatura sugere que na semana de 18 a 25 de dezembro predominará o nevoeiro, especialmente nos vales abrigados, onde será localmente denso ou persistente. As noites também serão frias, sobretudo nos fundos de vales ou depressões, dado que o panorama meteorológico será propício às inversões térmicas.
Portanto, apesar do domínio das altas pressões, tudo indica que o Natal não será passado em manga curta como no Brasil ou na Austrália, isto sem esquecer a “Pérola do Atlântico”, oficialmente conhecida como Ilha da Madeira, onde as temperaturas, no mês de dezembro, variam, em média, entre os 15 ºC (mínima) e os 21 ºC (máximas), valores bastante agradáveis e amenos, quando comparados com os que se registam no Continente.
Um Natal mais seco do que o normal em Portugal, mas com a possibilidade de pequenas nuances
No que diz concerne à chuva e à queda de neve, com as altas pressões a prevalecerem, é bastante provável que a chuva fique afastada do país, ou pelo menos de uma grande parte da geografia de Portugal continental.
Ainda assim, o padrão NAO+ revela indícios de prolongamento até ao início de 2024, o que resultaria, possivelmente, na circulação de frentes e/ou depressões muito a norte. Os modelos não parecem ter dúvidas: a precipitação será consideravelmente inferior ao habitual para esta altura do ano nos Açores, na Madeira e em grande parte do Continente.
Isto não significa que não irá chover em nenhum lugar, mas é importante recordar que dezembro é um mês muito húmido, chuvoso e instável, sobretudo nas Regiões Norte e Centro, com destaque para o Noroeste (Minho, Douro Litoral e outras zonas situadas a oeste da Barreira de Condensação).
Aliás, se analisarmos com atenção o mapa de anomalia de precipitação projetado pelo ECMWF para a semana do Natal, as regiões a norte do Mondego não registam qualquer anomalia (“pintadas” a branco). Isto significa que a precipitação poderá apresentar-se em torno da média nestas regiões, provavelmente devido às frentes atlânticas que chegariam ao Norte do nosso país com alguma atividade.
A probabilidade de neve na véspera e no dia de Natal em Portugal continental é bastante reduzida
Assim, caso este cenário se concretize, as perspetivas para a única estância de esqui em Portugal continental são sombrias, provavelmente tendo de recorrer a neve artificial.
Como se isto não bastasse, a estagnação do ar e a ausência de precipitação durante vários dias consecutivos favorecem o aparecimento de cortinas de poluição nas grandes cidades e áreas metropolitanas do Porto e de Lisboa, pelo que a má qualidade do ar poderá fazer manchete.
Como poderá estar o tempo na Passagem de Ano?
Tal como para o Natal, ainda é muito cedo para afirmar qual será o estado do tempo na Passagem de Ano, mas os mapas insistem na manutenção do padrão NAO+ deverá até aos primeiros dias do Ano Novo. Todavia, começam a surgir sinais de que a partir daí as altas pressões comecem a enfraquecer no Atlântico Norte, com tendência a deslocarem-se para os Açores.
Com este cenário, as temperaturas ficariam gradualmente com valores mais normais para a época do ano nas regiões do interior, possivelmente acima da média nas do litoral. A chuva poderia seguir uma evolução semelhante, com a possibilidade de uma normalização de norte a sul nos primeiros dias de 2024, uma vez que as frentes já seriam capazes de penetrar mais por Portugal adentro.