Tempo em Portugal na Semana da Páscoa: uma sequência de depressões trará chuva abundante, neve e vento forte
Em poucas horas, o tempo mudará drasticamente em Portugal continental. Primeiro ar polar e neve e depois os ábregos, que darão lugar a chuva abundante e vento forte. As condições meteorológicas irão manter-se adversas durante toda a Semana da Páscoa.
Nestes últimos dias o calor assumiu o protagonismo da meteorologia e foram notícia as temperaturas quase de verão - elevadas e significativamente acima da média para a altura do ano - assim como as poeiras provenientes do Saara.
Contudo, já na segunda metade deste Domingo de Ramos (24), o panorama atmosférico começou a alterar-se novamente no Continente dado que, a gota fria que esteve praticamente estacionada nos últimos três dias nas proximidades dos Arquipélagos da Madeira e das Canárias, foi reabsorvida pela corrente de jato polar na sua deslocação rápida para as imediações da Região Sul de Portugal continental.
Portugal continental vai estar sob a influência de várias depressões durante a Semana da Páscoa
Durante o processo de reabsorção da gota fria na corrente de jato polar, um pequeno centro de baixas pressões à superfície desenvolveu-se verticalmente sobre a nossa geografia, contribuindo para o aumento da instabilidade atmosférica. Deixará os primeiros aguaceiros irregulares, por vezes localmente fortes e acompanhados de granizo e trovoada no interior alentejano e no Algarve nas últimas horas deste domingo (24) e nas primeiras horas de segunda-feira (25).
Logo após a passagem desta pequena depressão, uma grande massa de ar frio em altitude - de origem polar marítima - descerá vertiginosamente em latitude a partir do Atlântico Norte e gerará uma forte instabilidade baroclínica na área em redor da Península Ibérica. “Traduzindo por miúdos”, será gerado um terreno fértil para a formação de novas depressões.
Deste modo, a próxima depressão irá desenvolver-se a noroeste de Portugal continental, começando a afetar o país logo a partir de segunda-feira (25). Ocorrerá uma descida acentuada das temperaturas (que será localmente extraordinária em vastas zonas do território) logo após a passagem da sua frente fria. O vento soprará moderado a forte de nor-noroeste em todo o país e espera-se queda de neve em zonas de montanha nas últimas horas do dia.
Uma terceira depressão surgirá a partir de quarta-feira (27), intensificando o temporal de vento e arrastando um rio atmosférico de humidade de origem subtropical que reforçará ainda mais a chuva devido ao elevado teor de vapor de água, mas que deixará a neve restrita a cotas mais altas.
O modelo que merece a nossa maior confiança (ECMWF) vislumbra mesmo a hipótese de se desenvolver uma quarta depressão no fim de semana da Páscoa, algo que, caso se concretize, prolongaria ainda mais este cenário de instabilidade.
Chuva generalizada, que se prevê mais persistente e abundante no Centro, Alentejo e A.M de Lisboa
Tendo em conta esta previsão, a precipitação será relativamente frequente e abundante em todas as unidades territoriais de Portugal, incluindo Açores e Madeira, embora nesta última seja mais ocasional e dispersa e mais provável sob a forma de aguaceiros.
Para a geografia do Continente prevê-se a possibilidade de períodos de chuva ou aguaceiros fortes e localmente persistentes durante toda a Semana da Páscoa, sobretudo a partir da Quarta-feira Santa (27).
Neste momento, para os próximos cinco dias, os mapas estimam acumulações superiores a 50 mm em praticamente todo o território, sendo atingidos ou ultrapassados localmente os 100 mm nas serras e montanhas que compõem a Barreira de Condensação, grande parte da Região Centro (distritos de Aveiro, Guarda, Viseu e Coimbra parcialmente; Castelo Branco e Leiria na totalidade), Área Metropolitana de Lisboa, Litoral Alentejano, zonas do Barlavento Algarvio e distritos de Santarém, Portalegre e Évora.
A precipitação manifestar-se-á sob a forma de neve a cotas relativamente baixas durante o dia de terça-feira (26) - acima dos 600 metros de altitude nas serras e povoações do Norte e do Centro.
A cota de neve subirá gradualmente a partir de quarta-feira (27) devido à chegada de uma massa de ar mais quente de origem subtropical marítima, pelo que a eventual queda do hidrometeoro branco ficará remetida para pontos acima dos 1000/1200 metros de altitude. Todavia, não se descarta a hipótese de voltar a nevar no fim de semana da Páscoa.
Risco de inundações nalgumas zonas da geografia do Continente
A chuva persistente e o vertiginoso derretimento da neve nas principais serras e cordilheiras poderão impactar zonas historicamente vulneráveis à ocorrência de inundações, bem como causar o transbordamento de rios.
Nalgumas regiões do país os solos estão bastante saturados de água, os rios apresentam caudais muito volumosos e as barragens estão cheias. A isto deve-se acrescentar o derretimento da neve e, sobretudo, a precipitação abundante dos próximos dias.
Temporal de vento: estão previstas rajadas fortes
O forte gradiente de pressão associado às depressões cavadas que vão atingir o nosso país contribuirá para a geração de rajadas de vento muito fortes, em particular nas zonas mais expostas aos ventos de oeste. Entre as últimas horas deste domingo (24) e o dia de terça-feira (26) as rajadas de vento rondarão localmente os 70 km/h, sobretudo nas Regiões Centro e Sul, ao estarem associadas às frentes das duas primeiras depressões.
As rajadas mais fortes estão previstas para quarta (27) e quinta-feira (28), com a influência da terceira depressão barométrica em Portugal continental. As rajadas poderão atingir os 90 km/h nas terras altas e zonas montanhosas e de planalto. Não se exclui que este valor possa ser superado, mas a incerteza dos próximos dias impede uma avaliação precisa do impacto desta depressão que terá de continuar a ser monitorizada atentamente.