Tempo em Portugal na segunda quinzena de janeiro: irá a chuva manter-se ou chegarão dias de muito frio e queda de neve?
A segunda quinzena de janeiro arranca com uma atmosfera muito amena em Portugal continental, apesar da previsão da chegada de ar polar entre sexta e sábado. Irá o tempo chuvoso e ameno dominar a segunda quinzena, ou virá frio e queda de neve?
A primeira quinzena de janeiro trouxe-nos uma vasto gama de fenómenos meteorológicos: nevoeiro e geada típicos do tempo estável e influenciado pelo anticiclone, depois uma massa de ar polar que deixou alguns dias de tempo frio e alguma neve nas principais serras do país e, por fim, a partir de dia 13, impôs-se um fluxo subtropical muito ameno, algo que estamos a testemunhar com ainda mais intensidade nesta terça-feira (16) à medida que a Depressão Irene vai produzindo condições meteorológicas instáveis em Portugal continental.
Já estamos a meio do inverno climatológico (dura de 1 de dezembro a 28 de fevereiro) e a neve tem sido muito escassa e de muita curta duração, pois nos poucos locais em que acumula, não tem capacidade para se manter, derretendo facilmente, algo para o qual também contribuiu a subida geral e acentuada das temperaturas nestes últimos dias. Por oposição a isto, no outro lado do Atlântico, o frio e as tempestades de neve fazem manchete na América do Norte. Grande parte da Europa também tem estado exposta às baixas temperaturas e à queda de neve.
Para sexta-feira prevê-se um arrefecimento do estado do tempo
Como já explicámos aqui na Meteored Portugal, esta semana a geografia de Portugal continental vai manter-se condicionada pela chegada de sucessivas frentes e depressões. Prevê-se chuva de norte a sul do território e temperaturas bem acima da média do que seria de esperar para esta altura do ano. Todavia, os mapas sugerem que entre sexta-feira (19) e sábado (20) as condições meteorológicas mudarão radicalmente no nosso país graças à chegada de uma entrada de ar polar.
Isto não só originará uma descida significativa das temperaturas, como dará azo à possibilidade de queda de neve na sexta-feira (19) - acima dos 1000 metros de altitude - em pontos do interior Norte e Centro, devido à colisão entre a massa de ar subtropical (mais quente e húmida) e a massa de ar polar (mais fria e seca). Também não se descarta a hipótese de geadas localmente intensas no sábado (20).
Este episódio de tempo mais fresco/frio terá, provavelmente, uma duração curta. Não será um episódio fora do normal, pois sendo inverno é perfeitamente normal que ocorram entradas de ar polar no território do Continente. No entanto, será provavelmente uma das situações meteorológicas mais interessantes desta segunda quinzena de janeiro se as previsões do nosso modelo de referência se concretizarem, pois vislumbra-se queda de neve nalgumas localidades e serras do Norte e Centro de Portugal continental. No domingo (21) a crista subtropical anticiclónica posicionar-se-á sobre a Península Ibérica, fazendo com que o tempo estável prevaleça e ocorra uma subida das temperaturas.
Deitando um olhar para a próxima semana (22-26 Janeiro), o cenário mais provável à data de hoje aponta para a persistência do anticiclone em crista, que ficaria “estacionado”, pelo menos durante alguns dias, sobre a Península Ibérica. Além disto, devido à referida posição das altas pressões à superfície, poderiam predominar ventos de Sul/Este/Sudeste, pelo que se deverão registar temperaturas diurnas muito amenas, mas frias ou frescas à noite, o que resultaria numa grande amplitude térmica na próxima semana.
Temperaturas bastante invulgares para a próxima semana
O panorama anticiclónico e com temperaturas amenas tornar-se-á provavelmente uma realidade, a não ser que uma depressão fria isolada em altitude ou gota fria tenha a capacidade de romper o anticiclone em crista. Em grande parte da geografia das Regiões Norte e Centro de Portugal continental preveem-se temperaturas entre 3 e 6 ºC acima da média climatológica de referência.
Trata-se de anomalias muito significativas, pelo que não se exclui a possibilidade de estarmos perante uma situação que poderá produzir recordes térmicos para um mês de janeiro. Nas restantes regiões do país, especificamente do Tejo para Sul, a anomalia térmica positiva será menos acentuada, mas, ainda assim, com valores de temperatura até 3 ºC acima do normal.
Devido à possível formação de nevoeiros, não se exclui que as temperaturas estejam mais moderadas e aproximadas do normal em pontos da bacia do Douro, vales do Tejo e do Guadiana, mas, mesmo assim, de uma forma geral os termómetros deverão registar valores de temperatura acima da média. Estão previstas anomalias térmicas semelhantes, tanto no Arquipélago da Madeira, como no Arquipélago dos Açores.
A exceção prevê-se para o Grupo Ocidental dos Açores - ilhas do Corvo e das Flores - as únicas zonas do território nacional que registarão uma suave anomalia térmica negativa, isto é, temperaturas até 1 ºC abaixo do habitual na semana de 22 a 29 de janeiro.
A probabilidade de uma vaga de frio durante o resto de janeiro é muito baixa, praticamente nula. De facto, é mais provável que se registem temperaturas, possivelmente recorde, durante a próxima semana.
Para os últimos dias de janeiro e primeiros de fevereiro, não se espera uma mudança radical no estado do tempo, tendo em conta as projeções do nosso modelo de referência. As altas pressões manter-se-ão firmes pelo Sul e Sudoeste Europeu, apesar da previsível moderação das temperaturas no nosso país. Mesmo assim, estariam entre 1 e 3 ºC acima da média em todo o país, exceto nos Açores (até 1 ºC acima da média).
Há esperança em queda de neve nos últimos dias do mês de janeiro?
Com este domínio esmagador das altas pressões, a precipitação será muito escassa ou inexistente em praticamente toda a geografia de Portugal continental. Como já foi referido, para tal situação se alterar, teria de chegar alguma bolsa de ar frio que fosse capaz de romper o “escudo” anti-depressões.
As temperaturas amenas e a ausência de precipitação num mês tipicamente frio e chuvoso como o de janeiro constituem indubitavelmente más notícias, sobretudo para a Região do Algarve que vive uma situação crítica no que concerne à situação de seca, e que foi obrigada a restrições no consumo doméstico de água.
Em suma, parece que o mês de janeiro se vai despedir sem os típicos dias de frio invernal e queda de neve significativa nas zonas de montanha, e com o predomínio de um padrão de bloqueio ou NAO+, em que as altas pressões estarão centradas nas nossas latitudes e as depressões circularão em latitudes muito elevadas. Oxalá fevereiro traga o inverno que teima em não chegar ao país, e também precipitação dado que a seca continua a agravar-se no Baixo Alentejo e no Algarve, regiões onde a situação já está bastante crítica.