Tempo em Portugal na segunda quinzena de fevereiro: frio e temporais de chuva e neve a caminho?
A segunda quinzena de fevereiro diz respeito à última etapa do inverno climatológico. Após a passagem da gota fria de ontem, irão o frio e a neve voltar a surgir em Portugal ou estaremos perante várias semanas de tempo anticiclónico?
A primeira quinzena de fevereiro em Portugal continental caracterizou-se por um vasto conjunto de fenómenos meteorológicos: nevoeiro e geada típicas do tempo influenciado pelo anticiclone, chuva, queda de neve e ventos com rajadas muito fortes provocados pela depressão Karlotta, uma gota fria, temperaturas muito amenas e significativamente acima da média e até mesmo poeiras do Saara e “chuva de lama”.
Entramos agora na última fase do inverno climatológico (terminará a 29 de fevereiro) e os episódios de queda de neve ao longo de toda a estação têm sido muito escassos e pontuais, com o mais recente a ter ocorrido no passado fim de semana do Carnaval. É também notório que, após curtos episódios de temperaturas ligeiramente mais baixas e de neve, ocorre um aumento generalizado das temperaturas, quase sempre bastante acima da média, associado à presença da crista subtropical.
Esta tendência meteorológica de uma generalizada ausência de neve, frio e temperaturas baixas - cada vez mais constante em Portugal continental - é preocupante, uma vez que são elementos climáticos que tipicamente caracterizam o inverno.
Anticiclone impõe-se após a gota fria, irá durar muito tempo?
Após a passagem da gota fria, o fim de semana de 17 e 18 de fevereiro será influenciado pelo predomínio de um padrão NAO+, com as depressões a circularem em latitudes muito mais elevadas - a norte - e com a subida em latitude do anticiclone, que assim se situará nas imediações de Portugal continental e impedirá as frentes e depressões de cá chegarem, exercendo um efeito de bloqueio.
Preveem-se temperaturas entre 0 e 1 ºC acima da média em praticamente toda a geografia de Portugal continental no período entre 19 e 26 de fevereiro, exceto no distrito de Lisboa, no Barlavento Algarvio e nas zonas mais ocidentais e junto à costa dos distritos de Leiria e Setúbal, onde as anomalias térmicas positivas serão mais pronunciadas - entre 1 e 3 ºC acima da média climatológica de referência.
No que diz respeito à precipitação, o céu estará geralmente nublado ou pouco nublado, mas com possibilidade de abertas e bons períodos de sol entre 17 de fevereiro e meados da próxima semana, não se esperando ocorrência de chuva pelo menos até à próxima quarta-feira, 21 de fevereiro.
No entanto, de acordo com a mais recente atualização do nosso modelo de referência (ECMWF) o estado do tempo registará uma mudança radical a partir de quinta-feira, 22 de fevereiro, com o anticiclone a ver o seu domínio quebrado. Estarão os temporais de chuva e neve à vista?
Na reta final de fevereiro poderão aparecer temperaturas mais baixas e neve
Segundo os mapas da nossa confiança, a partir de quinta-feira (22), vislumbra-se a possibilidade de uma alteração abrupta da situação sinóptica. Contudo, como é habitual em prazos temporais tão longínquos, impera uma incerteza elevada na previsão.
Um dos cenários mais prováveis, projetado pelos regimes de probabilidades do estado do tempo do ECMWF, sugere que a teleconexão climática NAO+ poderá dar lugar a um panorama de bloqueio ou a uma crista atlântica. Isto resultaria assim numa deslocação para norte do anticiclone, o que favoreceria, potencialmente, a entrada de fluxos húmidos e frios de noroeste, ou seja, as massas de ar polar de origem marítima típicas desta altura do ano.
Caso isto se concretize, estaríamos perante uma descida das temperaturas para valores normais e característicos desta estação do ano em toda a geografia de Portugal continental, ainda que consideravelmente mais percetível nas regiões do interior.
Este panorama poderá durar pelo menos até segunda-feira 26 de fevereiro, não se excluindo que se arraste até quinta-feira, dia 29 e último dia do mês de fevereiro, numa semana que poderia registar anomalias térmicas negativas (temperaturas inferiores ao normal) e já a incluir os primeiros 4 dias de março. Os Açores e a Madeira permanecerão fora desta ‘equação’ já que tanto num arquipélago como no outro se preveem anomalias térmicas positivas e níveis de precipitação inferiores ao normal até ao fim do mês.
Quanto à precipitação no Continente, no caso de o fluxo de noroeste efetivamente se concretizar a partir de quinta-feira (22), a chuva seria particularmente abundante na Região Norte - especialmente nas zonas a oeste da Barreira de Condensação como o Minho e Douro Litoral - mas também a poder espalhar-se com alguma expressividade pelo resto do Norte e pela Região Centro. Não chegaria com tanta fartura às regiões mais meridionais como o Alentejo e o Algarve.
Além disto, com o frio associado a esta tipologia de entradas de ar, a precipitação ocorreria sob a forma de neve nas cidades mais altas e nas serras, provavelmente acima dos 800 metros de altitude, e em particular nas zonas mais elevadas e mais expostas ao vento de noroeste.
Tendo todos estes aspetos em conta pode-se pressentir, a longo prazo, uma atmosfera bastante dinâmica, pelo que podemos esperar constantes mudanças do estado do tempo em curtos prazos cronológicos, um sintoma da chegada iminente da primavera climatológica a Portugal continental.
Oxalá as previsões de chuva, frio e neve da típica “loucura de fevereiro” para os dias que restam deste mês se concretizem, antes do final de um inverno que tem sido tudo menos normal no nosso país.