Tempo em Portugal na segunda quinzena de abril: irá a chuva regressar ou mantêm-se as “temperaturas mil”?
A primeira metade de abril em Portugal tem sido marcada pela ausência de precipitação na maioria dos dias, mas sobretudo por temperaturas significativamente acima da média para a época. Segunda quinzena do mês com “águas mil”, ou mantêm-se as “temperaturas mil”?
Apesar de se inserir na estação primaveril, abril é um mês que costuma ser frutífero em precipitação e instabilidade atmosférica, ou não fosse popularmente conhecido pelo provérbio “Abril, Águas Mil”. Porém, neste 2024, são as temperaturas elevadas que se têm destacado. Irá a segunda quinzena manter a toada da primeira ou vislumbram-se alterações para o estado do tempo em Portugal?
Tal como temos vindo sucessivamente a adiantar nas nossas últimas previsões, para o curto prazo (até domingo, 14 de abril), dominará um estado do tempo quente e soalheiro, sustentado por uma forte crista subtropical e pela circulação de leste. Este panorama meteorológico torna praticamente impossível a ocorrência de precipitação abundante e generalizada, contribuindo para a estabilidade atmosférica de norte a sul do Continente e também no arquipélago da Madeira.
O único destaque prende-se, isso sim, com as temperaturas elevadas para a época do ano, com um calor que faz lembrar o verão e que “chama” para “banhos de sol” na praia - e mergulhos no mar (embora este último aspeto seja desaconselhado caso não saiba nadar, dada a falta de vigilância nas praias e o facto da época balnear só se iniciar em junho).
Próximos dez dias sem grandes novidades do ponto de vista meteorológico: então quando haverá mudanças?
Entre domingo (14) e segunda-feira (15) ocorrerá uma pequena mudança no regime de ventos dominantes em Portugal continental e isso irá refletir-se, sobretudo, nas temperaturas. Do ponto de vista térmico, será notório um arrefecimento devido ao fluxo que passará a ser vigente de noroeste, mas nem por isso as temperaturas estarão propriamente baixas, enquadrando-se dentro de valores relativamente normais para abril. Este fluxo de noroeste deverá durar, em princípio, até quarta-feira 17 de abril.
De acordo com o gráfico de probabilidades de regimes meteorológicos do modelo de referência da Meteored - ECWMF -, Portugal continental está atualmente condicionado por um padrão climático profundamente “monótono” do ponto de vista meteorológico: a NAO+, isto é, fase positiva da Oscilação do Atlântico Norte.
Este padrão faz com que a circulação de depressões ocorra em latitudes mais setentrionais do que a nossa, isto é, muito mais a norte. Entre os dias 16 e 22 de abril, o modelo insiste no padrão de crista atlântica, outro padrão que tampouco resultaria em grandes novidades do ponto de vista meteorológico.
Assim, de 12 a 22 de abril, ora sob o padrão de NAO+, ora sob o de crista atlântica, as condições meteorológicas dominantes serão definidas pela estabilidade atmosférica, por um panorama maioritariamente soalheiro, com nuvens dispersas e nevoeiros matinais nalguns locais do território, e temperaturas diurnas amenas a quentes, com valores acima da média.
Embora nalguns destes dias impere o vento de Noroeste, em grande parte do período predominará o vento de Leste que reforçará as altas pressões e o calor.
Realce-se também, que durante estes 10 dias, as altas pressões manter-se-ão relativamente próximas da nossa geografia, bloqueando a tentativa de aproximação de qualquer sistema de baixas pressões e suas frentes e/ou linhas de instabilidade associadas que poderiam eventualmente despejar chuva em Portugal continental.
De 23 a 30 de abril vislumbram-se alterações no padrão meteorológico: voltará a chuva?
Apesar da “monotonia” meteorológica dos próximos 10 dias, as mais recentes atualizações do modelo em que mais confiamos na Meteored sugerem alterações no cenário meteorológico a médio prazo: os períodos de chuva ou aguaceiros e as trovoadas poderão regressar nos últimos dias de abril.
A partir de terça-feira, 23 de abril, observa-se uma provável mudança para o padrão climático conhecido como bloqueio escandinavo. Quando este padrão surge, os sistemas de baixas pressões - com a devida instabilidade atmosférica associada - têm uma maior probabilidade de se aproximar e deslocar para a geografia de Portugal continental.
Este padrão, que pinta as barras de vermelho no gráfico de probabilidade de regimes meteorológicos, sai reforçado pelo cenário de clusters do ECMWF, na medida em que o bloqueio também é o padrão mais dominante na variável analisada: o geopotencial a 500 hPa.
Além disto, se tivermos em conta os mapas de anomalias de precipitação, temperatura, pressão média ao nível do mar e geopotencial a 500 hPa, a última semana de abril (dias 23 a 30) também é consistente com uma alteração no padrão atmosférico - isto é - “bate certo” com as mudanças que o gráfico de probabilidades de regimes meteorológicos e o cenário de clusters auguram.
Analisando o mapa de anomalias médias semanais de precipitação, prevê-se mais chuva do que o normal em boa parte do território de Portugal continental e em ambos os arquipélagos.
As anomalias de precipitação positivas verificam-se em parte do Nordeste Transmontano, na Beira Alta, na Beira Baixa, em Viseu Dão-Lafões, no Ribatejo, no Alentejo, nos Açores e na Madeira. Em todas estas regiões poderá chover até 10 mm acima da média.
Deste modo, apesar da previsão de um possível regresso do tempo instável na última semana de abril, que se manifestaria através de chuva ou aguaceiros e trovoadas, a incerteza na previsão é bastante elevada pois referimo-nos a um prazo superior a 10 dias e em que a precisão meteorológica baixa consideravelmente.
Por último, no que diz respeito ao mapa de anomalias médias semanais de temperatura, é expectável que o calor “fora de época” continue em todas as unidades territoriais de Portugal (entre 1 e 3 ºC acima do habitual), pelo que é de esperar uma continuidade das “temperaturas mil” para a segunda quinzena de abril no nosso país.