Tempo em Portugal na próxima semana: um grande rio atmosférico de humidade vai intensificar a chuva prevista
A próxima semana vai arrancar com tempo estável. Contudo, uma forte advecção de oeste ou sudoeste poderá impor-se em meados da próxima semana, trazendo ar muito húmido do Atlântico subtropical e chuva abundante a Portugal continental.
O anticiclone em crista persistente que tem influenciado o estado do tempo em Portugal continental seria típico da estação do inverno, não fosse a intensidade dos seus valores de pressão atmosférica e a temperatura da massa de ar que possui.
Com pressões e geopotenciais excecionalmente elevados, e temperaturas nas camadas baixas da atmosfera comparáveis às de um mês de maio, foram batidos inúmeros recordes de temperatura, tanto em Portugal como em Espanha e outros países do Sudoeste Europeu. Todavia, o “reinado” anticiclónico está prestes a acabar, uma vez que se avizinha o seu iminente enfraquecimento.
A partir da próxima quarta-feira (7), a crista terá desaparecido e o anticiclone que a acompanha, posicionado sobre Portugal e Espanha nos últimos dias, rumará para o Norte de África, abrindo caminho à chegada de frentes e depressões atlânticas. É provável que, numa fase inicial, esta situação se traduza numa forte advecção de oeste/sudoeste. Começará por atingir o noroeste de Portugal continental na quarta-feira (7), estendendo-se ao resto do território na quinta-feira (8).
Com esta situação sinóptica, prevê-se um início de semana estável propiciado pelo anticiclone, com céu nublado ou muito nublado e vento fraco de direções variáveis. No entanto, a partir de quarta-feira (7), o fluxo de Sudoeste prevalecerá e as primeiras frentes começarão a chegar ao noroeste de Portugal continental (distritos de Viana do Castelo, Braga e Porto), com chuva que se estenderá a outras regiões nos dias seguintes, acompanhada de fortes rajadas de vento.
A humidade, procedente de latitudes subtropicais, será transportada por um rio atmosférico
A trajetória assumida pela massa de ar será particularmente marcante, uma vez que atravessará o oceano Atlântico a partir das latitudes subtropicais. Recordemos o facto de o oceano, em algumas zonas próximas à Europa, estar a apresentar mais de 2 ºC acima da sua temperatura normal para esta época do ano. Este aspeto não só contribui para o aumento da evaporação como favorece um maior teor de humidade da massa de ar.
Daqui resultará chuva potencialmente forte e persistente, dependendo das características finais das frentes e depressões que chegarem a Portugal continental. Nas Regiões Norte e Centro, sobretudo a norte do sistema montanhoso Montejunto-Estrela, a precipitação poderá ser particularmente abundante.
Um rio atmosférico é uma faixa longa, estreita e de transição na qual ocorre um transporte horizontal de vapor de água, e está normalmente associado a uma corrente de jato de baixo nível antes de uma frente fria de uma depressão. O vapor de água nos rios atmosféricos é fornecido por fontes de humidade tropicais e/ou extratropicais.
Não se exclui a possibilidade de queda de neve nas principais montanhas do país, especialmente nos pontos mais elevados da Serra da Estrela. Contudo, devido ao cariz subtropical da massa de ar, o aparecimento do hidrometeoro branco será muito improvável e ficará restrito às cotas mais altas das cadeias montanhosas, pelo menos no que diz respeito aos primeiros dias do evento.
Esta situação sinóptica é favorável à chegada de chuva às regiões mais meridionais de Portugal (Alentejo e Algarve - as que possuem maior carência de água), embora, como já é habitual, se preveja que tal aconteça em menor quantidade e intensidade. Ainda assim, os mapas preveem alguma abundância de precipitação nas regiões supracitadas, dado que a pluviosidade associada a este episódio meteorológico poderá alcançar a totalidade da geografia do Continente.
É preciso continuar a acompanhar nas próximas previsões a evolução do episódio, para se averiguar se a precipitação irá realmente ocorrer nestas regiões.
Risco de vento forte e tempestuoso
Estará um forte vendaval à vista? Embora a posição e o cavamento dos centros de baixas pressões estejam longe de estarem definidos, o panorama meteorológico mostra-se favorável para que algumas destas depressões evoluam suficientemente e deem origem a um temporal de vento generalizado numa grande parte do Noroeste da Península Ibérica (Galiza e Norte de Portugal continental).
Isto estaria associado à intensidade do jato polar que passará pela nossa latitude e ao forte contraste térmico a todos os níveis. Ainda é muito cedo para determinar a sua magnitude, mas é um cenário possível e é necessário continuar a monitorizá-lo ao longo dos próximos dias.