Tempo em Portugal na próxima semana: ar ártico “invade” a Europa, eis os impactos que deixará no nosso país

Ao longo dos últimos dias, apesar de uma ligeira descida das temperaturas, as anomalias térmicas continuaram positivas em Portugal continental, isto é, o calor “fora de época” manteve-se de norte a sul da nossa geografia.

Este panorama térmico, com temperaturas acima da média para o mês de abril manter-se-á durante o fim de semana de 20 e 21 de abril. Porém, a partir da próxima semana, registar-se-á uma mudança no estado do tempo no nosso país. Abaixo contamos-lhe pormenorizadamente o que se prevê.

Ao longo dos primeiros dias da próxima semana, o anticiclone em crista sobre o Atlântico Norte estender-se-á para latitudes mais altas, enquanto no continente Europeu o ar frio descerá em latitude até atingir o Mediterrâneo. As massas de ar polar continental - muito frias e secas - irão circular gradualmente de nordeste para sudoeste, até alcançarem a Península Ibérica.

Tendo em conta este panorama, ocorrerá uma descida acentuada das temperaturas no terço norte do país vizinho a partir de segunda (22) e nas restantes regiões espanholas na terça (23) e na quarta-feira (24).

Irá o ar ártico deixar frio em Portugal da mesma maneira que em Espanha?

Devido a fatores como a latitude, a proximidade ao mar e pelas características inerentes desta massa de ar polar continental, tanto na sua intensidade como na extensão geográfica, Portugal continental passará “praticamente ao lado” deste episódio de tempo frio. Nada comparado com Espanha, portanto, uma vez que em vários locais do país vizinho estão previstos valores até 8 ºC abaixo da média climatológica para o mês de abril, sendo invulgares para a época do ano e mais típicos do inverno.

No que diz respeito à latitude é natural que massas de ar que tenham de percorrer milhares de quilómetros vindas do Ártico acabem por não afetar tanto, quer em intensidade, quer em abrangência geográfica o nosso território, que se situa precisamente no recanto mais ocidental da Europa - na parte mais ocidental do Sudoeste Europeu continental, juntamente com a Galiza - para sermos mais concretos.

Quanto à proximidade ao mar, é inegável que a influência marítima (Oceano Atlântico) desempenha um papel na regulação térmica, impedindo que se registem temperaturas demasiado quentes no verão ou demasiado frias no inverno - neste caso, embora estejamos na primavera, estaremos perante uma massa de ar com características invernais, ainda que “bata apenas de raspão” em Portugal.

Assim, apesar da descida de temperaturas prevista para a próxima semana, esta não será de modo algum tão acentuada como em várias regiões de Espanha ou da grande maioria dos países europeus. Será muito mais suave, esperando-se que ocorra apenas nalgumas zonas do nosso país.

Estas serão as zonas de Portugal continental mais afetadas pelo ar polar continental

Na segunda-feira (22) espera-se uma descida da temperatura máxima no interior Norte e Centro. Contudo, de segunda (22) para terça (23) e de terça (23) para quarta-feira (24), nas capitais distritais destas zonas (Vila Real, Bragança, Viseu e Guarda), as máximas voltarão a subir.

Pelo contrário, as mínimas baixarão gradualmente ao longo dos primeiros dias da próxima semana, não só nas cidades acima referidas, mas também de uma maneira praticamente generalizada.

Entre segunda (22) e quarta-feira (24) vigorará claramente um regime de ventos de Es-Nordeste, associado à massa de ar polar continental, embora nas últimas horas de quarta-feira (24) se preveja uma mudança para os ventos de Noroeste. O dia mais frio será terça-feira, 23 de abril, quando se preveem mínimas de 0 ºC nas cidades de Bragança e Guarda.

Haverá risco de formação de gelo e geadas fortes e localizadas em zonas do interior Norte e Centro, nomeadamente em planaltos, serras e montanhas. Nestes locais, em momentos em que o vento estiver a soprar fraco no período noturno, poderá formar-se gelo ou geada.

A partir de quinta-feira, dia 25, ocorrerão mais mudanças e a incerteza aumenta

De momento, o modelo de referência da Meteored - o ECMWF - não descarta a hipótese de que as temperaturas máximas voltem a baixar a partir de quinta-feira (24), algo que poderia prolongar-se para os dias seguintes e possivelmente até ao fim do mês de abril, abrangendo mais zonas de Portugal continental para além do interior Norte e Centro.

A verdade é que não há um anticiclone em crista significativo ou um padrão anticiclónico muito marcante sobre o sul e oeste da Europa. As altas pressões manter-se-ão no Atlântico, espalhando-se muito para norte e as massas de ar frio continuarão a percorrer o continente europeu.

Com esta situação sinóptica, é provável que Portugal continental se mantenha envolto num ambiente ameno ou fresco, potencialmente instável e variável (alternância de dias soalheiros com dias de chuva) e favorável ao desenvolvimento de pequenas depressões e à passagem de frentes e linhas de instabilidade associadas a estas baixas pressões.

Deste modo, é possível que a próxima semana termine com temperaturas dentro do normal para abril, ou então ligeiramente inferiores à média climatológica de referência em zonas como a Região Norte, Beira Alta e Beira Baixa, Alto Alentejo e Alentejo Central, bem como com precipitação bastante irregular.