Tempo em Portugal este inverno, segundo a Meteored: mais quente do que o normal, significa isso que dificilmente nevará?
O inverno climatológico arranca esta sexta, 1 de dezembro, e prolongar-se-á até 28 de fevereiro. O que esperar para Portugal? Meses com grandes vagas de frio, muita chuva e queda de neve… ou nem por isso? Eis a previsão!
O inverno climatológico arranca a 1 de dezembro em Portugal. É importante recordar que, para a Climatologia, as estações definem-se e dividem-se, convencionalmente, em função de certos padrões comuns de temperatura e precipitação. Pegando no caso do inverno, esta estação dura desde 1 de dezembro a 28 de fevereiro, que são os três meses mais frios do ano com predominância de precipitação atlântica.
O inverno astronómico, aquele que toda a gente conhece, só irá começar com a mudança de estação no solstício de inverno, que neste ano de 2023 ocorrerá a 22 de dezembro (às 03:27 - Portugal continental e Madeira, 02:27 nos Açores). Os amantes do tempo frio e da neve estarão atentos ao panorama meteorológico ao longo das próximas semanas.
Mas, convém recordar que apesar das chuvadas abundantes de outubro e novembro, ainda há locais do Alentejo e do Algarve em seca (13% do território do Continente em final de outubro, sensivelmente), pelo que a chuva continua a ser necessária para os meses que aí vêm. Aliás, algumas barragens ainda estão em situação crítica no sul do país, nomeadamente no Barlavento Algarvio.
Um inverno que poderá ser mais quente do que o normal
De acordo com as últimas atualizações do nosso modelo de referência (ECMWF), o inverno será mais quente do que o normal na Europa, apesar do frio intenso dos primeiros dias de dezembro. Olhando para Portugal continental, observa-se uma anomalia térmica pouco expressiva, mas ainda assim com valores de temperatura entre 0,5 e 1 ºC acima da média, praticamente de norte a sul do país, o que se refletirá em semanas e meses com tempo mais quente do que o normal.
Atenção: isto não quer dizer que não vai estar frio ou que não haja queda de neve no nosso país, mas esta situação com temperaturas acima da média climatológica é algo que se está a tornar bastante recorrente nos últimos invernos.
Haverá certamente a possibilidade de se registarem algumas vagas de frio e períodos de tempo estável e anticiclónico, mas, tudo indica que, a partir de amanhã, iremos testemunhar um trimestre caracterizado por um forte fluxo zonal no Atlântico Norte, com os ventos de oeste a impulsionarem massas de ar relativamente quentes até à nossa latitude.
Será que vai chover muito nos próximos meses?
Como já dissemos na Meteored, o inverno é a estação mais chuvosa do ano de norte a sul de Portugal continental, embora com contrastes regionais evidentes, sendo que a Barreira de Condensação e o sistema montanhoso Montejunto-Estrela são os principais elementos orográficos responsáveis por essa distribuição pluviométrica desigual. O inverno também é a estação mais chuvosa no Arquipélago da Madeira e no Arquipélago dos Açores.
A última atualização da previsão mostra que esse é o cenário mais provável à data de hoje, com precipitação provavelmente acima da média em grande parte do continente Europeu, e com grande destaque na Península Ibérica para a Galiza e para a parte ocidental da Região Norte de Portugal. A anomalia de precipitação no resto da Região Norte, na Região Centro, no Alto Alentejo e nos Açores também se prevê positiva, mas menos expressiva que no Noroeste de Portugal.
Contudo no resto de Portugal continental (distritos de Lisboa, Setúbal, Santarém, Beja e Faro) e na Madeira não se verifica uma tendência significativa em relação à média. Esta previsão significa que não vai nevar? Não necessariamente: se os ventos de oeste realmente predominarem, dirigindo ar temperado de origem atlântica, as acumulações poderão ser volumosas, mas apenas nos pontos de maior altitude, nas zonas das cotas altas.
Se o cenário traçado nestes mapas se cumprir, não se vislumbram notícias muito animadoras para uma grande parte do Alentejo e do Algarve dado que são regiões que ainda estão bastante afetadas pela seca que perdurou vários meses e cuja reversão ainda está a ocorrer muito lentamente. Os solos, culturas, rios, ribeiros, barragens e albufeiras destas duas regiões continuam a necessitar do máximo de água possível e, embora não se vislumbrem níveis de precipitação inferiores ao normal, tampouco se perspetiva uma anomalia de precipitação positiva.
Uma previsão que acarreta enorme incerteza
Convém relembrar o seguinte: estamos a referir-nos a uma primeira tendência bastante geral do que poderá ocorrer no próximo trimestre, e não de uma previsão detalhada, dado que, à medida que a distância temporal se alarga, a incerteza aumenta. Assim, esta primeira aproximação prevista à data de hoje pelos modelos poderá alterar-se significativamente nas próximas atualizações.
Este ano estão em jogo vários fatores que baralham ainda mais as previsões a longo prazo e que também podem estar por detrás do que está a acontecer em 2023. Primeiro porque temos uma teleconexão climática conhecida por El Niño, apesar da sua influência chegar às nossas latitudes bastante dissimulada.
Depois ter em consideração os efeitos na atmosfera - sobretudo na estratosfera - provocados pela erupção do Hunga Tonga em 2022, bem como as anomalias térmicas significativas nas águas do Atlântico. Tudo isto amplificado pelos efeitos das alterações climáticas.