Tempo em Portugal em fevereiro: estarão o frio e os temporais de chuva e neve de volta no próximo mês?
Janeiro despede-se com temperaturas elevadas em várias regiões de Portugal continental, e com dias dignos de primavera. Irá o próximo mês trazer o frio, a chuva e a tão desejada neve? Eis a análise e previsão para fevereiro.
A segunda quinzena de janeiro foi marcada por uma grande variedade de fenómenos meteorológicos em Portugal, desde a depressão Juan, que desencadeou um breve temporal de chuva e neve, até à imposição de um anticiclone em crista muito forte e robusto para a época do ano, que deixou temperaturas a rondar os 25 ºC nalgumas zonas meridionais do Continente, nomeadamente Baixo Alentejo e Algarve. É provável que tenham sido atingidos recordes de temperatura para janeiro em várias localidades do país.
Janeiro de 2024 foi um mês razoavelmente chuvoso nas Regiões Norte e Centro do país, tendo inclusive chegado a precipitar nas regiões mais austrais (a sul do Tejo) e mais castigadas pela seca. No entanto, a água caída dos céus ao longo do mês foi claramente insuficiente para reverter a crise hídrica que se vive no Algarve, obrigando à aplicação de novas restrições no abastecimento, consumo e gestão de água para os seus diversos fins.
Por último, as serras do Continente pouca ou nenhuma neve registaram neste mês de janeiro, apesar dos primeiros dias do novo ano terem sido marcados pela queda de neve, nomeadamente na Serra da Estrela.
Análise à climatologia do mês de fevereiro
Fevereiro caracteriza-se por mudanças bruscas de tempo que podem ocorrer numa questão de horas. Climatologicamente, é o terceiro mês mais frio do ano, a seguir a janeiro e dezembro, em todo o país. No interior, a temperatura média em fevereiro é entre 1 e 1,7 ºC mais elevada do que em janeiro. Mas, mesmo assim, já se nota o dia ganhar gradualmente terreno à noite.
As geadas tendem a ser persistentes e localmente fortes nas zonas montanhosas do interior Norte e Centro (distritos de Vila Real, Bragança, Guarda, Viseu, entre outros). Nalgumas regiões, nomeadamente no Nordeste Transmontano e na Beira Alta, os termómetros apresentam temperatura mínima média entre 0 e 2 ºC. As restantes zonas do interior apresentam valores de mínima baixos, mas mais próximos ao patamar dos 5 ºC.
Por outro lado, em zonas do Litoral Centro e Oeste, Lezíria do Tejo, Baixo Alentejo e Algarve (Coimbra, Leiria, Lisboa, Santarém, Setúbal, Beja e Faro), as temperaturas máximas médias oscilam entre os 16 e os 17 ºC (com registos absolutos de até 26 ºC). O nevoeiro começa a levantar-se mais cedo devido à maior insolação, e o vento também tende a desempenhar um papel importante no segundo mês do ano.
Fevereiro é um dos meses mais chuvosos em Portugal continental
Fevereiro tem a reputação de ser um mês muito variável em termos meteorológicos. Pluviometricamente, é um dos meses mais chuvosos no conjunto do país (78,7 mm), mas abril, o mês que lhe sucede no que toca à precipitação média mensal, apresenta quase a mesma quantidade (77,9 mm).
Assim, numa análise exaustiva às dezoito principais estações meteorológicas de Portugal continental, constata-se que apesar de em termos quantitativos fevereiro ser o quinto mês mais chuvoso do ano, metade das principais estações meteorológicas (Braga, Bragança, Porto, Aveiro, Viseu, Guarda, Coimbra, Évora, Beja) regista mais precipitação em abril do que em fevereiro e, nalguns casos, até mesmo o mês de março ultrapassa o de fevereiro.
De acordo com a normal climatológica (1981-2010), a pluviosidade média mensal é superior a 100 mm no Minho e no distrito de Viseu, aproximando-se destes registos nos distritos do Porto e Vila Real. O mais comum é o predomínio dos fluxos ou circulações zonais, apesar do possível aparecimento das primeiras depressões isoladas em altitude ou gotas frias notáveis da estação. Sem esquecer os períodos de frio extremo que podem dar lugar a grandes vagas de frio, como as do histórico fevereiro de 1956.
Fevereiro de 2024: alguma vaga de frio à vista?
Neste momento, a previsão que gerimos na Meteored aponta para temperaturas entre 1 e 3 ºC acima da média climatológica de referência na primeira quinzena de fevereiro de norte a sul de Portugal continental e nos Arquipélagos dos Açores e da Madeira. Provavelmente não serão atingidos valores recorde como alguns dias deste mês de janeiro, mas mesmo assim as anomalias térmicas positivas serão significativas.
Para a segunda metade do mês, o cenário mais provável atualmente é que os valores se mantenham até 1 ºC acima da média no Algarve, enquanto no resto do país não se observam desvios significativos em relação à média climatológica de referência (áreas pintadas a branco no mapa).
Assim sendo, caso isto se cumpra, parece que o tempo de inverno se irá despedir sem uma vaga de frio. Todavia, nunca se deve excluir a possibilidade do “louco” tempo de fevereiro, conhecido pela sua drástica variabilidade meteorológica, nos trazer surpresas.
Será que a chuva vai chegar às regiões mais castigadas pela seca e pela crise da água?
A situação é crítica nas bacias hidrográficas alentejanas e algarvias, e para a primeira metade de fevereiro não é possível dar boas notícias. De acordo com o nosso modelo de referência (ECMWF), a precipitação será inferior aos valores normais precisamente na região que mais necessita de água: o Algarve.
No resto do país não se observam anomalias de precipitação significativas, exceto no Noroeste onde deverá chover acima da média na semana de 5 a 12 de fevereiro, fruto possivelmente do aparecimento de uma depressão atlântica ou de uma depressão isolada em altitude.
Na Madeira observa-se também uma anomalia de precipitação negativa na primeira quinzena. Já para os Açores, prevê-se que sejam registados níveis de chuva acima da média na primeira metade do mês de fevereiro, sobretudo os Grupos Ocidental e Central.
Para a segunda quinzena, a mais recente atualização dos mapas de tendência semanal aposta na gradual normalização da precipitação do dia 19 em diante, podendo inclusive ser registadas quantidades de chuva acima da média em quase toda a geografia de Portugal continental nos últimos dias de fevereiro e primeiros de março. O mesmo se observa para Açores e Madeira. No entanto, o valor preditivo deste último mapa é baixo, pelo que será necessário continuar a seguir as atualizações dos mapas.