Tempo em março: será que em Portugal “irá chover cada dia um pedaço”?
A primavera climatológica e o terceiro mês do ano arrancaram esta quarta-feira em Portugal continental com aviso amarelo por tempo frio, mas maioritariamente estável e soalheiro. Irá a meteorologia ser fiel ao provérbio “em março, chove cada dia um pedaço?” Consulte a previsão!
Março de 2023 arrancou esta quarta-feira (1) com aviso amarelo por tempo frio em 17 dos 18 distritos de Portugal continental e deverá manter-se assim, pelo menos até sexta-feira, dia 3. Além do ambiente gélido, com temperatura substancialmente abaixo do normal (anomalia térmica negativa e persistência de valores baixos da temperatura mínima) para a época do ano, predomina um tempo anticiclónico, isto é, estável, em geral seco e maioritariamente soalheiro, embora intercalado por algumas nuvens.
Contudo, o padrão meteorológico deverá alterar-se muito em breve. Entre domingo (5) e segunda-feira (6) prevê-se a imposição do fluxo zonal de oeste (ventos de Oeste) e do jato polar, que mostrando-se mais dinâmico e ondulado poderá permitir a chegada de mais frentes associadas a depressões atlânticas às nossas latitudes.
Climatologicamente, como costuma ser o mês de março em Portugal continental?
O mês de março em Portugal continental é, de acordo com o histórico observado da normal climatológica de referência (1971-2000), apenas o oitavo mês mais chuvoso na nossa geografia, posicionando-se na segunda metade da tabela no que toca à média de precipitação acumulada do doze meses do ano. Todavia, esta média não revela os importantes contrastes regionais que existem à escala nacional.
Se por um lado se verifica, por norma, um Noroeste húmido, com uma média de precipitação total acima dos 100 mm nas principais estações meteorológicas dos distritos de Viana do Castelo, Braga e Porto; por outro, verifica-se que uma grande parte do país possui um valor pluviométrico acumulado, em média, no intervalo entre os 50 e os 85 mm. Abaixo dos 50 mm situam-se vários outros distritos, espalhados um pouco por todo o país, destacando-se claramente os de Castelo Branco (36.9 mm) e Faro (34.9 mm) como os mais secos.
Quanto à temperatura, esta reflete um interessante padrão de contraste entre as regiões do litoral – com valores mais amenos e com menor amplitude térmica diária, em média, - e as regiões do interior, com valores mais extremados e a evidenciar uma maior amplitude térmica diária. A média da máxima varia, em geral, entre 16 ºC e 18 ºC no litoral e, no interior, entre 14 ºC e 18 ºC. Destaque também para a média da mínima: o valor mais baixo regista-se, habitualmente, no Nordeste Transmontano (2,9 ºC) e o mais elevado em Lisboa, capital de Portugal (10,4 ºC).
Irá março ser um prolongamento do tempo invernal ou uma manifestação do calor primaveril?
De acordo com os nossos mapas de previsão mensal, elaborados no Departamento de Meteorologia da Meteored, março de 2023 não deverá apresentar qualquer anomalia de temperatura estatisticamente significativa em Portugal continental no conjunto geral das semanas que o compõem. Isto também se aplica às Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira.
A ausência de anomalias manifesta-se pela existência dos mapas dos territórios nacionais manchados a cinzento. Assim, este ano, o mês de março deverá apresentar valores de temperatura totalmente enquadrados com a normal climatológica de referência.
Prevê-se um mês chuvoso em Portugal continental, Madeira e parte dos Açores
A previsão que gerimos na Meteored destaca que março de 2023 será um mês muito chuvoso de norte a sul de Portugal continental. Segundo as primeiras projeções, o período de 31 dias que temos por diante registará chuva acima da média em todas as regiões do nosso país.
Prevê-se que o Arquipélago da Madeira também registe anomalia de precipitação positiva (entre 5 e 30 mm acima do normal, destacando-se, especialmente, a metade oeste da Ilha).
Prevê-se que a anomalia de precipitação positiva em março se divida da seguinte maneira: entre 10 e 20 mm acima do normal, grosso modo, nas regiões de Lisboa e Vale do Tejo, Alentejo e Algarve e partes do Nordeste Transmontano e Beira Alta.
Entre 20 e 30 mm em partes do Norte e Centro do país, tais como na parte oriental dos distritos de Vila Real, Noroeste do distrito de Bragança, centro-leste do distrito de Viseu, sudoeste do distrito da Guarda, praticamente toda a Beira Baixa, áreas setentrionais dos distritos de Leiria, Santarém e Portalegre, oeste da Região de Coimbra e sudoeste da Região de Aveiro.
Entre 30 e 50 mm, a oeste da Barreira de Condensação – grosso modo Noroeste de Portugal (mas também em pontos do centro como o interior aveirense e conimbricense) – para as regiões do Alto e Baixo Minho, Área Metropolitana do Porto, Alto Tâmega e Douro e Viseu Dão-Lafões.
Quanto ao Arquipélago dos Açores, prevê-se um março com valores de precipitação dentro do normal no Grupo Ocidental, bem como nas ilhas da Graciosa e Terceira no Grupo Central. Já para o Faial, espera-se um março mais chuvoso do que o habitual, bem como uma grande parte da área da Ilha do Pico (metade ocidental) e uma pequena parte do oeste da Ilha de São Jorge no Grupo Oriental.
A metade oeste da Ilha de São Miguel, à semelhança de algumas das ilhas do G. Central, também se prevê mais húmida do que o habitual. Em todos estes territórios insulares os valores de anomalia de precipitação poderão ser positivos e semelhantes (5 a 10 mm). Por último, está previsto que a ilha de Santa Maria registe níveis de precipitação dentro do standard tal como a Graciosa, a Terceira, o Corvo e as Flores.
Fiabilidade das previsões a longo prazo
Todos sabemos o quão incertas podem ser as previsões de longo prazo, pelo que recomendamos que as encare como tendências, e não como certezas. Além disso, como março é o primeiro mês da primavera climatológica - uma estação já de si imensamente variável do ponto de vista meteorológico - tem ainda esta agravante (ser o primeiro mês deste período trimestral de março, abril e maio) o que, pode resultar num caos em termos de previsão meteorológica por representar a sempre dinâmica transição entre inverno e primavera no hemisfério norte.