Tempo em julho em Portugal: a possível influência de um bloqueio escandinavo trará calor extremo ou trovoadas? Veja aqui
Junho despediu-se com uma onda de calor e uma forte nortada. Para julho, o que se prevê? Será extremamente quente ou a possível formação de um bloqueio escandinavo poderá resultar numa situação meteorológica muito diferente?
Para trás fica um mês de junho caracterizado por múltiplos episódios de aguaceiros fortes, trovoada, granizo e temperaturas comedidas, que se desdobraram por praticamente todo o território de Portugal continental, embora com mais incidência numas regiões, do que noutras.
Agora chega julho, um dos meses do ano no qual muita gente desfruta de férias! No entanto, ainda está bastante vívida a excecional onda de calor de julho do verão passado (2022), caracterizada por temperaturas muito elevadas de norte a sul de Portugal continental. Até agora, não houve episódios de calor extremo (pelo menos não de uma maneira generalizada), mas será que a situação irá mudar nas próximas semanas?
Julho, um dos meses mais quentes e secos do ano
Julho não tem grandes segredos em Portugal continental. Tendo em conta a normal climatológica 1981-2010, no que diz respeito à temperatura média (22,5 ºC), julho é praticamente tão quente e seco como agosto à escala do Continente, sendo superado por este último em apenas duas décimas. Sendo ambos meses da estação estival, não é surpresa portanto que julho, mês de pleno verão, costume ser bastante quente e seco. Quanto à precipitação média acumulada, julho ronda os 12 mm.
Julho é conhecido também por ser um mês de calor intenso, com registos de temperatura que, por vezes, podem atingir ou ultrapassar os 45 ºC. Por exemplo, em 2022, foi atingido o recorde de temperatura para julho em Portugal continental (47 ºC no Pinhão). Aliás, é precisamente a 15 de julho que inicia a canícula, estatisticamente o período mais quente do ano e que se prolonga até 15 de agosto.
Por outro lado, embora a precipitação seja habitualmente muito escassa em julho, algumas partes do território, como o litoral Norte ou o Nordeste Transmontano e outras partes do interior a norte do Tejo, podem registar trovoadas violentas e queda de granizo.
Existe a possibilidade de uma grande onda de calor nas próximas semanas?
De acordo com o mapa concebido no nosso Departamento de Meteorologia na Meteored, prevê-se um julho mais quente do que o habitual, mas sem atingir os valores extremos do ano passado. A temperatura máxima poderá situar-se entre 0,5 ºC e 1 ºC acima da média climatológica de referência (anomalia térmica positiva) em grande parte da geografia do Continente.
Ainda assim, espera-se uma anomalia térmica positiva ligeiramente maior - entre 1 ºC e 1,5 ºC nas regiões do país correspondentes à parte mais setentrional do distrito de Viana do Castelo, ao Nordeste Transmontano, a pequenas áreas dos distritos de Viseu e Vila Real, à faixa do litoral entre o Porto e Melides (distrito de Setúbal) e à totalidade ou quase totalidade do Alentejo e dos distritos de Lisboa e Santarém.
Embora para a primeira metade de julho não se antecipe calor extremo, dado que a previsão aponta para temperaturas próprias da época estival em praticamente todo o país, a segunda quinzena poderá trazer um episódio de calor intenso ou prolongado, com valores entre 1 ºC e 3 ºC acima da média climatológica em Portugal continental, Açores e Madeira. Onda de calor à vista? Neste momento, é demasiado precoce lançar uma previsão desse género.
O que ocorrerá caso se desencadeie um bloqueio escandinavo?
Nos últimas atualizações do nosso modelo de maior confiança (ECMWF) começou-se a desenhar a possibilidade da formação de um bloqueio anticiclónico em redor da Escandinávia, o que resultaria num padrão meteorológico semelhante ao da segunda quinzena de maio e primeiras semanas de junho, com os efeitos que todos nós ainda nos lembramos. Até agora, este verão, tem tido uma atmosfera muito dinâmica, com um padrão que se distingue do de verões anteriores (para já).
Com uma maior dinâmica dos centros de ação, as ondas de calor não são tão prolongadas e, além disto, pode abrir-se a via para outra tipologia de situações meteorológicas. De facto, algumas previsões a longo prazo projetam a possibilidade do estabelecimento de altas pressões em redor da Islândia-Escandinávia. Assim sendo, descargas de ar frio poderão baixar até à nossa latitude. Todavia, realce-se que os modelos de curto prazo espelham outros cenários, mais típicos desta altura do ano.
Será que vai chover e trovejar este mês?
Julho é um dos meses mais secos do ano e a chuva é normalmente bastante escassa em praticamente todo o país. Contudo, este mês também é famoso pelas suas trovoadas de verão - que podem ser fortes nalgumas regiões do país - e às quais está associado o temido e catastrófico granizo devido à destruição que pode acarretar para muitas culturas agrícolas. Para já, no que diz respeito à precipitação, o nosso modelo de referência não vislumbra anomalias significativas tendo por base a climatologia de julho.
Ainda assim, ao contrário de uma primeira quinzena que se antecipa seca e estável, a segunda poderá trazer novidades do ponto de vista meteorológico. Não obstante, e tal como já explicamos anteriormente na Meteored, estas previsões a longo prazo possuem um valor preditivo muito baixo, sobretudo no que toca a aguaceiros de carácter convectivo.