Tempo em dezembro em Portugal: com a NAO negativa, o que podemos esperar?
A Oscilação do Atlântico Norte (NAO), índice climatológico que fornece “pistas” sobre o estado do tempo a médio prazo em Portugal, antecipa uma primeira quinzena de dezembro instável. O que vem aí? Consulte aqui a previsão!
O índice NAO (Oscilação do Atlântico Norte, em português), é uma ferramenta importante utilizada para a previsão de padrões meteorológicos de longo prazo e uma das teleconexões que mais influencia o clima português, sobretudo no inverno. Este índice fornece excelentes informações sobre o comportamento do fluxo atmosférico, e “pistas” sobre a sua potencial evolução, ou seja, indica-nos a possível movimentação das diferentes de massas de ar frio e quente que estão a norte e a sul da nossa corrente de jato.
O seu cálculo é bastante simples, tratando-se apenas da diferença de pressão ao nível do mar entre a depressão da Islândia e o anticiclone dos Açores. O resultado deste cálculo pode dar um índice positivo ou negativo e, de acordo com as previsões dos modelos, está prestes a tornar-se negativo. Algumas vezes a diferença de pressão é elevada, outras vezes não é assim muito robusta. E é esta variação, que é a dita oscilação: a NAO.
Quais são os efeitos de uma NAO negativa?
Ao longo desta fase, quer as altas pressões dos Açores quer as baixas pressões da Islândia estão enfraquecidas e o gradiente de pressão entre ambos os sistemas é pequeno. Esta redução na diferença de pressão traduz-se numa corrente de jato mais fraca e mais ondulada, o que gera uma maior instabilidade.
Este panorama parte a Europa em “dois”. Por um lado, a Europa setentrional (norte) verifica, por norma, uma diminuição das tempestades, com chuva inferior à média e temperatura também ela abaixo do normal. Todavia, o sul da Europa, e especificamente Portugal e Espanha, costuma registar um aumento das depressões, com precipitação superior à média.
Os principais eventos meteorológicos associados a uma NAO negativa são as frentes, as depressões e as advecções polares, siberianas ou continentais.
Dois possíveis cenários para a primeira quinzena de dezembro
Um dos possíveis cenários deste “puzzle atmosférico” sugere a Península Ibérica no caminho de vários sistemas depressionários. Ou seja, uma depressão posicionada a oeste de Portugal continental e dois centros de altas pressões sobre o Atlântico Norte e a Escandinávia, fazendo com que Portugal e Espanha ficassem “entalados” numa área favorável ao nascimento e desenvolvimento de depressões durante vários dias.
Esta configuração implicaria temperaturas menos frias, mas chuva abundante durante a primeira quinzena de dezembro, algo que também parece ser projetado pelos mapas de tendências de pressão ao nível médio do mar do ECMWF.
Frio intenso com uma advecção siberiana
Os modelos também projetam, entre todos os fenómenos associados ao índice de NAO negativa, a possibilidade de que Portugal seja influenciado por uma advecção siberiana, isto é, por uma entrada de ar frio e seco do continente europeu. Em todo o caso, Portugal, neste tipo de comportamento atmosférico, raramente é tão severamente afetado pelo tempo gélido e nevado como outros países da Europa Central ou Espanha o são.
Para que este padrão meteorológico se venha a concretizar, é preciso primeiro que ocorra uma atmosfera estável no norte da Ásia. A superfície terrestre deveria estar, idealmente, coberta por uma longa e espessa camada de neve e, por fim, um forte anticiclone de bloqueio entre a Escandinávia e a Rússia. Com a NAO negativa, os ventos de oeste que tipicamente vêm do Atlântico tornam-se consideravelmente mais fracos, abrindo caminho para a entrada do vento de Nordeste que transportaria a massa fria da Rússia até à Península Ibérica.
De acordo com a previsão, todos estes critérios poderão cumprir-se. Aliás, cada vez mais, parece possível que a massa de ar das estepes russas se desloque para a Europa. Isto originaria uma colossal entrada de ar frio continental que faria descer a pique as temperaturas e a humidade.