Tempo em dezembro em Portugal arrancará frio e com mínimas negativas: haverá chuva e neve também?

Prevê-se que novembro se despeça com chuva abundante e generalizada em Portugal continental, após uma “interrupção” proporcionada pelo ar frio polar e pelo anticiclone. O que se espera para dezembro? Consulte a previsão!

Será que em dezembro de 2023 haverá boas acumulações de neve nas principais serras de Portugal continental?

Para trás fica um novembro que se dividiu em três partes. Entre 1 e 16 de novembro - sensivelmente a primeira quinzena do mês - o estado do tempo em Portugal continental foi condicionado, maioritariamente, pela passagem de sucessivas frentes e depressões associadas a uma corrente perturbada de oeste.

Assim, houve ventos do quadrante Sul e Oeste, massas de ar temperadas e húmidas procedentes de latitudes subtropicais que se traduziram em temperaturas do ar invulgarmente acima da média e precipitação, que foi mais frequente no Norte e Centro. Também houve dias de vento intenso, agitação marítima e queda de neve. Por outro lado, houve jornadas nas quais o anticiclone conseguiu trazer dias pouco nublados e/ou soalheiros.

Dos dias 17 a 26 registou-se um panorama meteorológico estável, seco e predominantemente soalheiro. Inicialmente foi ameno, mas, a partir do dia 21, ocorreu uma descida brusca e acentuada das temperaturas. Neste período de cerca de 10 dias verificou-se nevoeiros e neblinas matinais, por vezes persistentes, bem como o aparecimento das primeiras geadas.

A incursão de ar polar de 20 para 21 de novembro, associado à estabilidade proporcionada pelo anticiclone, trouxe alguns dias de frio típico destas datas outonais e, os ventos de Norte, associados a essa entrada de ar polar provocaram o agravamento da sensação térmica de frio.

Principais características da climatologia em dezembro

Dezembro é o primeiro mês do inverno climatológico, período que convencionalmente inicia a 1 de dezembro e termina a 28 (ou 29) de fevereiro. Segundo a normal climatológica 1981-2010, a temperatura média mensal de dezembro é 2.5 ºC mais baixa em relação à de novembro, à escala de Portugal continental.

A descida das temperaturas é mais moderada nas regiões do litoral e no Algarve por causa do efeito de proximidade ao mar. A variação térmica de um mês para outro - neste caso um arrefecimento generalizado - nem sempre acontece todos os anos, nem de forma imediata.

Dezembro é um mês no qual as temperaturas são ainda mais baixas que as de novembro na generalidade do Continente. As geadas são mais frequentes, duram mais horas e abrangem zonas mais extensas do território, sobretudo no interior Norte e Centro. Além disto, os dias são cada vez mais curtos - pelo menos até ao solstício de inverno - pois até essa data vamos perdendo diariamente minutos de luz solar.

Em dezembro é habitual ter o casaco e outros elementos de vestuário invernal (gorro, luvas, cachecol) sempre à mão, pois o frio instala-se de maneira maciça e generalizada. Isto sem contar com o guarda-chuva, essencial para nos proteger da pluviosidade.

Prevê-se uma primeira quinzena de dezembro instável e com alguns dias de chuva na geografia do Continente.

Nas zonas altas e montanhosas as geadas expandem-se e, em muitos locais do interior Norte e Centro, - distritos de Bragança e Guarda, por exemplo - a temperatura mínima situa-se frequentemente nos 1 ºC ou 2 ºC, por vezes atingindo valores negativos. No Algarve é normal a temperatura máxima média ronda os 17 ºC. Nas Regiões Autónomas costuma-se atingir valores superiores (Açores cerca de 18 ºC e na Madeira quase 21 ºC).

Dezembro é o mês mais chuvoso do ano em Portugal continental

No que diz concerne à precipitação, dezembro caracteriza-se normalmente pelo domínio do fluxo zonal de oeste, com uma incursão cada vez mais frequente de frentes e depressões atlânticas, algumas de grande impacto, e que descarregam chuva praticamente de norte a sul da geografia do Continente.

De acordo com a normal climatológica 1981-2010, o mês de dezembro é o mais chuvoso do ano em Portugal continental (134 mm).

No entanto, como já é habitual, fruto de fatores como a latitude, a corrente perturbada de oeste e o efeito orográfico exercido pela Barreira de Condensação e pelo sistema montanhoso Montejunto-Estrela, a nebulosidade e a precipitação acabam por ser muito diferenciadas entre as várias regiões do país no que toca à sua distribuição e acumulação.

As únicas exceções verificam-se em Leiria, Santarém e Lisboa, distritos onde, em média, a precipitação é mais abundante e expressiva no mês de novembro, com o de dezembro a surgir logo de seguida.

Espera-se um dezembro com temperaturas acima da média, apesar do frio inicial

De acordo com a última atualização do modelo de referência da Meteored (ECMWF), uma grande parte do mês de dezembro poderá registar temperaturas superiores à média climatológica de referência. Isto fundamenta-se pelo facto de os mapas de tendência semanal expressarem anomalias térmicas positivas entre 1 ºC e 3 ºC para toda (ou quase toda) a geografia do Continente (e Madeira) nas semanas compreendidas entre os dias 11 e 18 de dezembro, 18 e 25 e 25 de dezembro e 1 de janeiro de 2024.

Aliás, esta mesma observação pode aplicar-se a praticamente todo o Continente Europeu neste mesmo período, exceto a algumas partes da Escandinávia. Já nos Açores, essa anomalia de temperatura não será tão vincada (até 1 ºC acima da média, por vezes até 3 ºC acima do normal).

previsão mensal; dezembro; portugal continental
No conjunto do mês de dezembro o modelo mostra temperaturas acima da média em Portugal continental.

A única exceção em Portugal continental, e também na Europa, prende-se com a semana em que se prevê um frio autenticamente invernal: 4 a 11 de dezembro. Em vários países europeus isto irá manifestar-se geralmente com temperaturas baixas ou muito baixas (muitas vezes abaixo dos 0 ºC), chuva, grandes acumulações de neve, geadas e anomalias térmicas negativas, isto é, com temperaturas inferiores ao habitual.

Já em Portugal continental, o tempo frio não deverá ser tão agreste e rigoroso como no resto da Europa, algo que é corroborado por um mapa de anomalia térmica positiva nas regiões a sul do rio Mondego. No entanto, nas regiões a norte do rio supracitado, observam-se temperaturas dentro da média, o que sugere que o ar frio e gélido proveniente de latitudes setentrionais poderia chegar a outras latitudes bem mais meridionais da Europa, sendo exemplo disso as Regiões Norte e Centro do nosso país.

Mas atenção! Isto não significa que não tenhamos de ter cuidado com o que o frio e as temperaturas baixas habitualmente exigem. Anomalias térmicas positivas não significam que o tempo frio não se expresse. Simplesmente não o faz de uma maneira tão duradoura, intensa e frequente. Assim, haverá espaço à formação de gelo e geadas, ventos que agravarão a sensação térmica de frio e inclusive potencial queda de neve nas serras do Norte e do Centro.

Será que vai chover muito em dezembro?

De momentos, os mapas do modelo que merece a nossa maior confiança mostram uma primeira quinzena de dezembro bem diferenciada da segunda. A primeira metade do mês poderá ser caracterizada por uma anomalia de precipitação positiva (chuva acima da média), sobretudo no período entre 4 e 11 de dezembro, já que os níveis de precipitação superiores ao normal abrangeriam a totalidade do território do Continente, incluindo Alentejo e Algarve, regiões que ainda possuem locais em seca fraca e com grave déficit hidrológico. O mesmo aplicando-se a Açores e Madeira.

Neste mapa observa-se uma anomalia de precipitação positiva de norte a sul de Portugal continental, Açores e Madeira na semana de 4 a 11 de dezembro.

Entre 11 e 18 de dezembro deverá verificar-se a continuidade de um padrão meteorológico que se traduziria, eventualmente, em instabilidade, humidade, nebulosidade e chuva, algo que se evidencia pela anomalia de precipitação positiva nas Regiões Norte e Centro de Portugal continental. Nessa semana, possivelmente, o tempo chuvoso e instável já não se manifestaria nas regiões a sul do sistema montanhoso Montejunto-Estrela.

Para o período correspondente à segunda quinzena de dezembro, do dia 18 em diante, não se verificam anomalias de precipitação significativas, o que sugere valores de chuva dentro da média da normal climatológica de referência. Contudo, a incerteza da previsão quanto a este cenário aumenta uma vez que estamos a referir-nos a um prazo significativamente maior, mais distante cronologicamente, pelo que tanto poderemos registar dias frios, secos e soalheiros, como dias repletos de chuva e eventualmente neve.