Tempo da próxima semana em Portugal: vem aí um poderoso anticiclone em crista, como afetará o país?
A corrente de jato polar e o fluxo de depressões vão mudar de direção perante a influência de um anticiclone em crista que surgirá sobre a Europa nos próximos dias. Eis como esta configuração sinóptica condicionará o tempo em Portugal na próxima semana.
No espaço de uma semana Portugal continental, Açores e Madeira estiveram “à mercê” de três tempestades atlânticas de alto impacto: Depressão Hipolito, Depressão Irene e Depressão Juan.
A última depressão referida - Juan - foi a única que não atingiu os Arquipélagos, “passeando-se” apenas pelo Continente. A maioria das ocorrências provocadas pela Depressão Juan teve lugar no Algarve (Faro), região onde se registaram várias inundações devido à chuva, pontualmente moderada ou forte.
Além disto, foi registada queda de neve na noite de quinta (18) para sexta (19) na Serra da Estrela, o que forçou as autoridades a encerrar temporariamente as estradas do maciço central. No entanto, tudo indica que este fluxo de depressões já chegou ao seu fim e poderá demorar algum tempo a aparecer novamente.
Nos próximos dias ocorrerá uma grande mudança no padrão à escala sinóptica sobre a Europa. As baixas pressões vão intensificar-se a sul da Gronelândia, a corrente de jato polar subirá em latitude e um grande anticiclone em crista irá desenvolver-se sobre o extremo leste do Atlântico e parte significativa da Europa.
A diferença de pressão atmosférica entre a Islândia e os Açores irá aumentar novamente e daqui será gerado um padrão NAO positivo, propenso a situações de fluxo zonal em latitudes altas.
Tendo este panorama em conta, prevê-se que as altas pressões prevaleçam sobre a Península Ibérica, com suporte quente em altitude e por um prolongado período de tempo, o que resultará no desvio das baixas pressões para o norte do continente europeu.
A longo prazo, não se exclui a possibilidade desta crista de altas pressões continuar a estender-se para norte, alargando a sua área de influência a uma parte considerável da Europa. Isto traduzir-se-ia, assim, no chamado padrão de bloqueio já no final do mês.
Que efeitos terá este anticiclone em crista tão invulgar para a época do ano?
O anticiclone em crista que estamos a analisar é bastante poderoso, de tal forma que o seu geopotencial, ou seja, a altitude em que se situa o nível de 500 hPa, pode vir a atingir valores recorde em vastas zonas do Sudoeste Europeu, de acordo com as previsões do nosso modelo de referência (ECMWF). Estes valores situar-se-ão entre 5940 e 6000 metros de altitude, o que implica ultrapassar o máximo absoluto para o mês de janeiro nalgumas zonas da Península Ibérica.
Um geopotencial desta envergadura implica uma atmosfera muito quente e expandida. E, de facto, os mapas mostram valores mais típicos do mês de julho no que concerne à altitude da isotérmica de 0 ºC nalguns pontos do território.
O elemento climático que nos irá poupar das temperaturas de verão será a reduzida radiação solar, que em janeiro continua a ser muito baixa e permitirá o desenvolvimento de inversões térmicas, nalgumas zonas de forma persistente. São esperadas máximas amenas e mínimas um pouco mais típicas desta época, não se descartando a formação de geadas nas zonas mais frias do país.
Sem chuva e neve até fevereiro?
No que diz respeito à duração deste cenário meteorológico, os modelos insistem que se irá manter ao longo do resto do mês de janeiro. Recorde-se: a previsão de um sistema meteorológico tão grande, lento e estável é fácil.
De momento, o aspeto mais chamativo deste poderoso anticiclone em crista reside no facto de se observar uma potencial tendência para se alongar para norte nos últimos dias de janeiro, o que poderá eventualmente conduzir a um novo cenário de instabilidade com a aproximação de sistemas de baixas pressões vindas de Sul.
De qualquer das formas, este é um cenário que diz respeito à reta final de janeiro ou até mesmo início de fevereiro e, por conseguinte, não é possível determinar quando ou como terminará este episódio de tempo estável.
Este anticiclone em crista será sem dúvida fulcral para pôr termo aos sucessivos episódios de chuva e vento que têm atingido Portugal continental. No entanto, com este panorama em perspetiva, o cenário de seca deverá agudizar-se nas regiões a sul do Tejo, nomeadamente em distritos como os de Setúbal, Beja e Faro.