Tempo da próxima semana em Portugal: iminente bloqueio em ómega, que efeitos pode trazer além do frio intenso?
Para a próxima semana vislumbra-se uma configuração sinóptica peculiar que permitirá a descida do jato polar em latitude sobre a Europa Ocidental. Isto permitirá a chegada de massas de ar frio a Portugal continental. Apesar de pouco provável, a neve não está totalmente descartada.
Entre as últimas horas de quinta-feira (4) e as primeiras horas desta sexta-feira (5), uma crista começou a estender-se para norte no Atlântico e permitiu a chegada de um centro de baixas pressões sobre o sudoeste Europeu.
O mencionado centro de baixas pressões foi o que favoreceu a chegada do forte fluxo de noroeste sobre Portugal continental e que está a arrastar ar polar marítimo. Isto resultou numa descida das temperaturas, em aguaceiros, e em queda de neve que aliás já ocorreu na quinta-feira à noite (4), nas principais serras do extremo norte e nalgumas localidades montanhosas.
Bloqueio em ómega e as condições meteorológicas dos próximos dias
Este panorama vai continuar a desenvolver-se. À medida que a crista se for deslocando para latitudes mais setentrionais, ganhando largura e extensão e facilitando a subida do ar quente para as latitudes polares, duas grandes depressões surgirão de cada lado e aí ocorrerá precisamente o oposto: o ar frio descerá em latitude.
A configuração descrita é o chamado bloqueio ómega. O jato polar será forçado a contornar a grande crista anticiclónica e depois descerá novamente em latitude numa trajetória que faz lembrar a letra grega ómega - (Ω). Isto começará a ser percetível já a partir deste fim de semana.
Normalmente, no seio desta circulação, a crista permite que as condições meteorológicas sejam estáveis e quentes em toda a área que cobre. Contudo, desta vez, Portugal continental estará localizado na extremidade direita do ómega, pelo que estaremos expostos a massas de ar muito frio e depressões.
Mas o nosso país, por estar situado na extremidade ocidental da Península Ibérica e virado para o Atlântico, não estará tão vulnerável como Espanha, que além do frio intenso, receberá depressões e queda de neve. Assim, passará apenas "de raspão" pela nossa geografia. Não obstante, as temperaturas vão descer bastante e os cuidados com o frio intenso não devem ser menosprezados.
Uma situação que ainda está para durar
Em princípio, segundo a maioria dos cenários projetados pelo ECMWF, o nosso modelo de referência, este panorama meteorológico manter-se-á em grande parte da próxima semana, existindo a possibilidade de várias injeções de ar frio, de origem polar continental, afetarem o país nos dias vindouros. As depressões ficarão maioritariamente cingidas a Espanha, mas não se descarta a chegada de alguns vestígios de instabilidade atmosférica, em particular às regiões do interior e aquelas que fizerem fronteira com o país vizinho.
Numa escala menor e a médio e curto prazo, terão de ser vigiados os sistemas de baixas pressões que se desenvolvem no flanco leste do ómega. Serão sistemas mais pequenos, de difícil previsão, mas que serão responsáveis por episódios de chuva e queda de neve.
Como já foi referido, estes sistemas praticamente não atingirão Portugal continental, devendo por isso concentrar a sua distribuição de precipitação de chuva e neve por Espanha, inclusive em cotas ao nível do Mar Mediterrâneo. O primeiro destes episódios deverá ocorrer entre terça (9) e quinta (11) da próxima semana.
Muito frio e pouca precipitação, mas mantém-se a hipótese de queda de neve
À medida que a depressão se for aprofundando de leste para oeste da Península Ibérica, deixando chuva e neve em várias partes de Espanha, Portugal estará livre destas ocorrências na maioria da sua extensão geográfica. No entanto, destaque-se o frio intenso que se prevê para terça (9), quarta (10) e quinta-feira (11) da próxima semana.
Serão alguns dos dias mais frios deste inverno até ao momento, é possível que se registe uma autêntica vaga de frio polar se se cumprirem os critérios estabelecidos oficialmente pela Organização Meteorológica Mundial (OMM).
Estão previstas temperaturas mínimas negativas em várias capitais de distrito, inclusive naquelas onde isso é raro (Portalegre, Santarém), naquelas em que isso é mais comum (Bragança, Viseu, Vila Real, Guarda) e termómetros a baixar até aos 0 ºC em cidades muito próximas do mar e onde este valor de temperatura mínima também é raro de se atingir, como o Porto.
Esta depressão que afetará Espanha (e pouco Portugal) deverá ainda assim ser acompanhada ao pormenor, pois a distribuição de precipitação e cobertura de neve dependerá da sua posição final e pode ainda vir a deixar algum impacto em zonas portuguesas. Daí que não se descarte totalmente a queda de precipitação, seja sob a forma de chuva, ou de neve.
Esperemos pelas próximas atualizações dos modelos para poder confirmar ou desmentir esta previsão. A única coisa que parece praticamente certa para a próxima semana é que vai estar muito frio, com temperaturas muito baixas e mínimas negativas em boa parte do nosso país, geadas muito fortes e frequentes que afetarão praticamente metade ou até algo mais do território continental, para além do céu nublado e com bons períodos de sol.