Tempo da próxima semana em Portugal: anticiclone perderá força, estará uma mudança significativa a caminho?
O anticiclone em crista que está a condicionar o estado do tempo em Portugal continental é suficientemente grande e robusto para se manter durante mais alguns dias, mas já se começa a detetar a possibilidade de frentes e depressões procedentes do Atlântico.
Ao longo dos últimos dias as condições meteorológicas têm sido caracterizadas por um anticiclone em crista completamente atípico para o mês de janeiro. Apesar dos anticiclones de inverno serem bastante comuns no nosso país, desta vez estamos perante um centro de altas pressões muito mais forte que o normal, com pressão atmosférica a rondar os 1040 hPa e uma altura recorde do nível de 500 hPa (geopotencial) que ultrapassa os 5900 metros, um claro indicador de como a atmosfera está quente e dilatada verticalmente.
A massa de ar quente associada ao anticiclone em crista está a atingir temperaturas a 850 hPa (cerca de 1500 metros de altitude) superiores a 15 ºC na vertical da Península Ibérica, entre 1 e 2 ºC mais elevadas do que em qualquer outra situação registada num mês de janeiro, pelo menos tendo em conta as reanálises levadas a cabo pelo ECMWF, que têm mais de 70 anos. Tal como se verificou nos últimos dias, isto traduziu-se em vários recordes de temperaturas máximas e mínimas distribuídos não só por Portugal continental, como também por Espanha.
À escala sinóptica não parece que este panorama se irá alterar: o anticiclone em crista dificilmente irá mudar de posição ao longo dos próximos dias. Porém, a escalas mais pequenas, haverá que prestar atenção aos movimentos das massas de ar mais frias e das depressões que as rodeiam, dado que no domingo (28) e nos primeiros dias da próxima semana (segunda, 29 e terça, 30 de janeiro), poderão provocar pequenas alterações no estado do tempo.
Vislumbra-se precipitação no curto prazo e possibilidade de trovoadas
A presença de um forte gradiente térmico no Atlântico central, com uma forte corrente de jato polar desde os Açores até à Escandinávia, abrirá caminho ao fortalecimento das baixas pressões, que assim se irão deslocar rapidamente neste quadrante. Devido a isto, algumas frentes irão surgir sobre as Regiões Norte e Centro de Portugal continental, em particular nas zonas do Litoral, entre domingo (28) e terça-feira (30). O vento soprará de Sul, com intensidade moderada, sobretudo na segunda-feira (29), surgindo de Leste ou Sueste nos restantes dias do período supracitado.
Tendo em conta este panorama, prevê-se céu nublado ou encoberto em praticamente toda a extensão do território do Continente no domingo (28) - apesar da possibilidade de abertas. Na segunda (29) e na terça (30), além da nebulosidade, espera-se a ocorrência de chuva fraca nos distritos do Litoral Norte e Centro (Viana do Castelo, Braga, Porto, Aveiro, Coimbra, Leiria, Lisboa e Península de Setúbal) pontualmente moderada no Minho. De maneira muito fraca, irregular e dispersa, alguns chuviscos ou aguaceiros poderão cair no interior Norte e Centro.
Não se exclui a possibilidade da precipitação ser, ocasionalmente, acompanhada de trovoada. Além disto, estima-se a chegada de massas de ar que, apesar de quentes para a época do ano, serão mais frescas do que as atuais, o que evitará recordes de temperaturas elevadas.
Todavia, a chuva e as temperaturas típicas de inverno continuarão a primar pela ausência em grande parte da geografia de Portugal continental. Salienta-se apenas o nevoeiro que, à semelhança destes últimos dias, poderá ser persistente em vales e depressões do Nordeste Transmontano e da Beira Alta, fazendo com que as temperaturas máximas nestas regiões sejam menos invulgares, mas a contrastar com os registos nas zonas de alta montanha - Serra da Estrela, por exemplo - onde as temperaturas continuarão a ser bastantes elevadas para um mês de janeiro, também por força do fenómeno da inversão térmica.
Enfraquecimento do anticiclone em fevereiro à vista… o que poderá significar isto?
A duração de um anticiclone em crista, forte e robusto como este, é incerta, dado que alguns cenários já estão a projetar um enfraquecimento no final da próxima semana ou uma deslocação para norte, condicionado o estado do tempo em zonas mais setentrionais do Continente Europeu. Caso esta tendência se mantenha, a possibilidade de alterações no panorama meteorológico ganha contornos mais significativos a médio/longo prazo.
Ainda assim, tendo em conta as mais recentes atualizações dos modelos meteorológicos, a probabilidade do anticiclone em crista continuar a determinar o estado do tempo em todo o Sudoeste da Europa (Portugal, Espanha e parte de França) parece elevada, pelo menos até ao final da próxima semana. Em suma, a situação meteorológica a curto/médio prazo não será muito distinta da que nos afetou nestes últimos dias, à exceção dos dias de segunda (29) e terça (30).
Resta continuar a esperar por mudanças mais importantes do ponto de vista meteorológico que tragam a precipitação e a temperatura típicas de inverno. Estes elementos climáticos são absolutamente cruciais nesta estação do ano, para que todo o país, mas sobretudo as regiões a sul do Tejo, possam enfrentar a seca e gerir a crise da água da melhor forma possível nos vindouros meses de primavera e da época estival.