Será que o tempo em abril vai ser “águas mil”? Eis a previsão para Portugal
A primavera climatológica prossegue a bom ritmo e o seu segundo mês – abril – já está aí à porta. Irá o tempo, em Portugal, fazer jus ao provérbio “abril, águas mil”? Consulte a previsão!
Abril de 2023 arrancará neste próximo sábado (1), prevendo-se a continuidade do padrão meteorológico do final de março: muitas nuvens e chuviscos ou chuva fraca, dispersa pela geografia de Portugal continental e bastante intermitente (despejada pela passagem de uma nova frente).
Este estado do tempo também se verificará devido à ondulação do jato polar que permitirá a chegada de uma entrada de ar mais fresco (polar), daí o vento que soprará moderado a forte de Noroeste no primeiro dia de abril.
Climatologicamente, como costuma ser abril?
Abril é um mês que em Portugal é popularmente conhecido como “Abril, águas mil”, isto é, por ser um período no qual existe a perceção popular de que chove muito.
E, de facto, não é de admirar que haja esta perceção uma vez que abril é, de acordo com o histórico observado da normal climatológica de referência (1971-2000), o sexto mês mais chuvoso à escala nacional (Continente), posicionando-se em último lugar na primeira metade da tabela no que toca à média de precipitação acumulada (78,9 mm) dos doze meses do ano. Além disso, revela uma média de chuva acumulada superior à de março (61,2 mm), verificando-se uma tendência crescente entre um mês e outro.
Há contrastes regionais evidentes no nosso país em abril. As estações meteorológicas de uma boa parte das capitais distritais do Norte (Viana do Castelo, Braga e Porto) apresentam uma média de precipitação acumulada superior a 100 mm, sendo que nas restantes capitais distritais nortenhas o valor varia entre 60 e 80 mm. Na Região Centro, que abarca uma grande parte do país, só uma das capitais distritais ultrapassa os 100 mm (Viseu). Numa boa parte das restantes capitais distritais do Centro a média de precipitação acumulada ronda os 80/90 mm.
Castelo Branco não passa dos 58 mm, mas na região de Lisboa e Vale do Tejo há uma média acumulada de chuva que se estende entre 63 e 76 mm (Leiria, Lisboa, Setúbal e Santarém). No Alentejo varia entre 58 e 78 mm, com o valor mais baixo em Évora e o mais elevado em Portalegre. Por último, a região mais austral do país (Algarve) é a que possui o valor mais reduzido à escala nacional (apenas 40 mm), em Faro.
Quanto à temperatura média, esta é superior à de março (11,9 ºC), com um valor de 13,2 ºC. No interior Norte e Centro a média da temperatura média varia entre os 8 ºC e 12 ºC, no litoral Norte ronda os 13 ºC, do litoral Centro até ao Alto Alentejo varia entre 12 ºC e 14 ºC e de Lisboa até ao Algarve os valores situam-se entre 13 ºC e 15 ºC.
Semana Santa 2 a 9 de abril: começará estável, poderá terminar com chuva e trovoada isolada?
Para os dias seguintes, a partir do Domingo de Ramos (2), mas sobretudo a partir da Segunda-feira Santa (3), espera-se uma subida da temperatura máxima (mas mínimas bem mais baixas o que poderá traduzir-se em geadas tardias – sobretudo no interior Norte e Centro, e num acentuado arrefecimento noturno), um estado do tempo condicionado pelo anticiclone, o que resultará num ambiente maioritariamente seco, soalheiro (mas com alguns períodos nublados) e muito estável.
Este panorama meteorológico deverá arrastar-se até à Quinta-feira Santa (6), o que se traduzirá numa anomalia térmica positiva de norte a sul de Portugal continental (1 a 3 ºC acima do normal em grande parte do país, sobretudo no litoral; 3 a 6 ºC acima do normal em boa parte do interior, com maior ênfase nos distritos de Castelo Branco, Santarém, Setúbal, Portalegre, Évora e Beja), e que se prevê para a Semana Santa inteira (mais calor do que a média climatológica de referência, tal como se pode ver no mapa do ECMWF, acima).
Essas mudanças surgiriam, possivelmente, devido à presença de um centro de baixas pressões nas proximidades do Sudoeste da Península Ibérica que, caso se aproxime o suficiente do território de Portugal continental, traria chuva isolada e trovoada a algumas regiões do nosso país. É um cenário ainda por validar, mas que começa a assumir um contorno mais definido. Será preciso esperar até três/quatro dias antes das datas mencionadas para haver uma maior fiabilidade na previsão.
E na semana a seguir à Páscoa, 10 a 17 abril, o que se pode esperar?
À data de hoje, vários mapas de tendências meteorológicos que dizem respeito a diferentes elementos climáticos (anomalia da temperatura, anomalia da temperatura e anomalia de geopotencial a 500 hPa) apontam para uma semana marcada pela instabilidade atmosférica. Resta perceber se será devido a frentes de depressões atlânticas, depressões isoladas em altitude, retrógradas ou qualquer outro tipo que possa provocar tempo adverso.
De momento, os mapas supracitados antecipam mais calor do que o habitual para a data de norte a sul de Portugal continental – embora a anomalia térmica positiva seja ligeiramente mais suave em relação à semana anterior (isto é, 1 ºC a 3 ºC acima do normal em todo o país).
Ao mesmo tempo, prevê-se chuva acima do normal nessa semana em grande parte do Continente (anomalia de precipitação positiva 0 a 10 mm, sendo em pontos do Algarve 10 a 30 mm), exceto curiosamente na área que costuma ser a mais regada em Portugal (Noroeste e parte do Centro, área a oeste da Barreira de Condensação – nestas regiões não se estima qualquer anomalia estatisticamente significativa daí o mapa a branco, que corresponde a valores “normais” de precipitação).
Por último, saliente-se o mapa de geopotencial para essa semana (exposto mais abaixo no artigo), que antecipa uma anomalia negativa de geopotencial a 500 hPa precisamente sobre Portugal continental e o Sudoeste de Espanha, o que poderá estar relacionado com a possível instabilidade atmosférica.
Mesmo assim, realce-se que, a esta distância temporal, é pura ficção científica estar a traçar qualquer previsão concreta à escala local sobre o estado do tempo para essas datas, pelo que apenas nos referimos a uma tendência que os mapas da nossa maior confiança começam agora a revelar.
Segunda quinzena de abril: de 17 até ao final
Abril é o segundo mês da primavera climatológica, um dos três que constituem esta estação que para a disciplina da Climatologia terminará a 30 de maio, e é também considerado o mês primaveril por excelência devido à enorme variabilidade do estado do tempo, às vezes no próprio dia. Esta característica acaba por baralhar imenso as previsões do tempo, até mesmo nas previsões realizadas a curto prazo (3-4 dias). Assim sendo, referir-nos-emos às projeções meteorológicas que, à data de hoje, aparecem nos mapas de tendências.
Para a semana de 17 a 24, quer quanto à temperatura, quer quanto à chuva, não se observam anomalias estatisticamente significativas. Estando o mapa “pintado” a branco, qualquer cenário meteorológico está “em aberto” para essas datas. E, não havendo anomalias visíveis, uma das possibilidades que se afigura são valores de temperatura e precipitação dentro do standard.
Para a semana seguinte, e que já irá abarcar o período entre 24 de abril e 3 de maio, a previsão à data de hoje é, tal como já referimos acima, pura ficção científica. Ainda assim, o nosso modelo de referência aposta por um cenário marcado por temperatura ligeiramente acima da média para a época do ano de norte a sul de Portugal (exceto na Região Norte e em pontos montanhosos do Centro). Quanto à chuva, não se observa qualquer anomalia estatisticamente significativa.