Segunda quinzena de março em Portugal, tão chuvosa como a primeira?
A primeira metade do mês em Portugal continental registou chuva e instabilidade, quase ao ritmo do provérbio “em março, chove cada dia um pedaço”. A precipitação há muito desejada finalmente caiu para atenuar a seca. E a segunda quinzena de março, que tempo nos reserva?
Estamos a escassos dias, 5 para ser mais preciso, da chegada da primavera astronómica (20 de março). Para a Climatologia, a primavera arrancou no passado 1 de março e, logo nesse dia, caiu chuva, que durante tantos meses, esteve praticamente ausente. De facto, ao longo dos meses do inverno, praticamente não houve eventos de precipitação generalizada e abundante, o que desencadeou uma situação de seca muito grave em Portugal continental.
Agora, após uma primeira quinzena que fez jus ao provérbio popular “em março, chove cada dia um pedaço”, na qual a seca já foi atenuada, é possível observar as ribeiras, os rios, as barragens, os campos e os solos agrícolas a recuperar os seus níveis hídricos. Assim, a questão que se impõe é: irá a segunda quinzena do mês de março ser tão chuvosa quanto a primeira? E das temperaturas, o que podemos esperar?
Arranque quente e “poeirento”, com distribuição de precipitação desigual
A terceira semana de março começou ontem, com um panorama ligeiramente húmido e instável, um pouco por todo o país. As maiores acumulações de chuva no Continente estão a ocorrer no Baixo Alentejo e Algarve graças à tempestade Celia, uma tempestade de alto impacto (apenas a terceira a ser nomeada em 2021/2022) que começou por “bombardear” a Madeira com ventos com força de furacão, neve e granizo.
Agora, como está situada entre o sul de Portugal continental e Marrocos, e isolada em altitude, o seu flanco mais instável deixa precipitação nas áreas mais meridionais do Continente. Além disso, outro fenómeno curioso, é a presença de poeiras do Saara, transportadas desde o Norte de África até à Península Ibérica pelo fluxo de sudeste induzido pela tempestade Celia.
Ao mesmo tempo, assistimos a uma subida acentuada das temperaturas em todo o país, desencadeada pelo arrasto do ar quente e seco do Norte de África, associado a Celia e ao dito fluxo. Portanto, não é de estranhar que as temperaturas, de acordo com as previsões do modelo Europeu, apresentem valores acima do normal durante esta semana inteira no território de Portugal continental.
Quanto às poeiras, estas darão origem a paisagens “marcianas” pelo país até dia 17 de março, próxima quinta-feira. Atenção ao agravamento da qualidade do ar. Como as concentrações estarão elevadas, recomenda-se o uso de máscara FFP2. A partir de sexta-feira, dia 18, as poeiras dissipar-se-ão.
No que diz respeito à precipitação, nas áreas onde estiver prevista, ou seja, mais provável a sul do Tejo, com destaque para Alentejo Central, Baixo Alentejo e Algarve, poderá cair “chuva de lama”, fenómeno desencadeado pela combinação de precipitação com as poeiras saarianas, o que sujará superfícies.
Assim, naquilo que diz respeito à distribuição e acumulação da precipitação total semanal, esta deverá ser muito desigual ao longo desta semana, provavelmente graças à localização e deslocação da tempestade Celia, que afetará sobretudo o Centro e o Sul de Portugal continental. Não se descarta a ocorrência pontual de trovoadas dispersas, sobretudo no interior e durante a tarde.
Possibilidade de chuva e ocorrência de trovoada no início da próxima semana
Para a próxima semana, os mapas do Europeu antecipam uma situação semelhante a esta, termicamente falando. Estará mais calor do que o habitual em todo o país, esperando-se uma anomalia positiva de 1 ºC de norte a sul do país. No Nordeste Transmontano os valores serão ainda mais expressivos, com até 3 ºC acima da média de referência.
Aliás, segundo as atuais tendências projetadas pelo ECMWF, até final de março, com probabilidade de se estender pelos primeiros dias de abril, as temperaturas estarão mais elevadas do que o normal para a época do ano.
Quanto à precipitação, quer o mapa de tendência semanal do geopotencial quer o de tendência semanal da precipitação, sugerem o aparecimento de uma área de baixas pressões a oeste/sudoeste de Portugal continental, posicionada sobre a Madeira e as Canárias, para a semana de 21 a 28 de março.
Numa primeira fase, traduzir-se-ia em instabilidade meteorológica nesses arquipélagos, e, posteriormente, de acordo com a normal circulação zonal (oeste-este), resultaria na chegada de mais chuva a Portugal continental, possivelmente acompanhada por trovoada, sobretudo entre os dias 21 e 24 de março.
A anomalia positiva de precipitação deverá registar-se na Península de Setúbal, Alentejo e Sotavento Algarvio. Para o resto do país prevê-se precipitação dentro dos valores da normal climatológica de referência. Do dia 28 de março em diante, a precipitação deverá apresentar níveis habituais para a altura do ano.
Estes modelos são fiáveis?
Por último, saliente-se que estes modelos são apenas uma ferramenta experimental, útil para uma previsão geral e/ou probabilística, que fornece uma ideia aproximada de uma tendência a longo prazo da evolução de parâmetros diretos como a temperatura ou a precipitação.
Não detetam sistemas meteorológicos como frentes, ciclones ou depressões isoladas, capazes de alterar o carácter geral de um mês em apenas alguns dias. Assim, estas previsões podem mudar de umas regiões para outras com o decorrer das semanas, ou inclusive, não se cumprirem em determinadas áreas.