Segunda quinzena de junho em Portugal: tão quente como a primeira?

Junho tem sido tórrido, ao registar vários dias consecutivos de temperaturas anormalmente altas. Como se não bastasse, têm ocorrido aguaceiros, trovoadas e granizo. Para a segunda quinzena do mês, irá continuar muito calor em Portugal continental ou irá o tempo mudar? Consulte a previsão!

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Junho de muito calor, com aguaceiros fortes, trovoada e granizo. Assim foi a primeira quinzena do mês em Portugal continental. E a segunda, como poderá ser?

A previsão mensal meteorológica que lançámos para junho de 2022 em Portugal continental revelou-se, até ao momento, muito certeira. Na altura indicávamos a probabilidade de um mês de junho muito quente, com uma anomalia térmica significativa (até 2 ºC acima do normal em boa parte do território).

Contudo, para o que resta do mês, tanto os que são fãs do calor e do tempo estável e soalheiro, como aqueles que não suportam as altas temperaturas, estarão de olho na meteorologia seja por motivos de trabalho, atividades ao ar livre, lazer ou até mesmo por causa de ir de férias. De acordo com dados oficiais, a temperatura máxima acima de 35 ºC e até mesmo 40 ºC já foi registada em várias localidades do país durante vários dias, com destaque para o período entre 9 e 16 de junho, ou seja, esta última semana.

Além do calor tórrido, excecionalmente acentuado para um mês de junho, até mesmo para as regiões habitualmente mais quentes como é o caso do Alentejo, Sotavento Algarvio, Beira Baixa ou Vale do Tejo, há que destacar a temperatura noturna, tropical em muitos casos, registada em várias localidades na primeira metade do mês. Algo que acontece quando a mínima é igual ou superior a 20 ºC durante toda a noite.

Tampouco podemos esquecer os aguaceiros localmente fortes, com trovoadas e granizo, que já causaram danos - especialmente na agricultura - neste junho em vários pontos do país. É bastante provável a ocorrência de mais chuva, acompanhada de atividade elétrica e ocorrência de granizo até ao dia 19, isto é, para o que resta da corrente semana. Apesar disso, a partir de quinta-feira (16), as temperaturas vão começar a diminuir gradualmente, sobretudo na Região Norte, e em particular no litoral, a norte do Cabo Carvoeiro.

Será que na segunda quinzena do mês vai repetir-se o panorama de calor tórrido?

Segundo os mapas meteorológicos do ECMWF, nosso modelo de maior confiança, a próxima semana, que se estende entre os dias 20 e 27 de junho, não apresenta anomalias consideráveis do ponto de vista térmico. O que quer isto dizer? Que, no geral, não há sinais estatisticamente significativos que indiquem desvios em relação aos valores térmicos da normal climatológica de referência em Portugal continental, pelo que as temperaturas deverão apresentar valores normalizados, dentro do padrão climatológico de um mês de junho.

anomalia precipitação ecmwf
Para a próxima semana prevê-se valores de chuva dentro do normal para Portugal continental.

No entanto, haverá algumas exceções. Para os distritos de Bragança, Guarda, Viseu, Castelo Branco, Portalegre e Évora prevê-se uma anomalia térmica positiva (entre 1 ºC a 3 ºC acima do habitual).

No que diz respeito à precipitação, não existe evidência de qualquer anomalia significativa do ponto de vista estatístico pelo que, para um mês de junho, os níveis de pluviosidade no nosso país rondarão o habitual da normal climatológica. Isto não significa que não ocorra chuva, simplesmente não existe previsão de que caia em excesso, ou pelo contrário, por defeito.

Quando o mapa não apresenta anomalias significativas do ponto de vista estatístico, não quer dizer que não chova ou não faça calor nessas semanas, numa determinada região. O facto da cor branca estar representada no mapa indica sim, que em princípio, a precipitação e a temperatura estarão dentro dos trâmites da normal climatológica de referência.

Em suma, o modelo não antecipa nem anomalia positiva nem negativa para todo o território de Portugal continental, daí o facto do nosso país estar pintado a branco no mapa acima representado.

E do dia 27 em diante?

Com base no mapa meteorológico de anomalia térmica semanal atualmente projetado pelo ECMWF para a semana entre 27 de junho e 4 de julho, existe uma boa possibilidade do calor anómalo regressar a Portugal continental, embora não com os valores térmicos exageradamente elevados, vividos ao longo da primeira quinzena de junho. Até 3 ºC acima do normal para grande parte do país (praticamente em todas regiões do interior) e entre 0 ºC a 1 ºC acima do habitual no litoral.

mapa anomalia temperatura ecmwf
É possível que na semana de 27 de junho a 4 de julho os termómetros registem temperaturas acima do normal em quase todo o território de Portugal continental.

Quanto à precipitação, o cenário meteorológico previsto à data de hoje é deveras semelhante ao da semana que lhe antecede. Os mesmos trâmites se aplicam: estando todo o território “coberto de branco”, dificilmente ocorrerá algo muito fora do comum em termos pluviométricos, tendo em conta a normal climatológica 1971-2000. Mesmo assim, no que concerne a todo o tipo de previsões que se estende para além do prazo de 5 dias, há que ter muita cautela na hora de a interpretar.

Estes modelos são fiáveis?

O estado da arte da previsão científica não permite realizar previsões detalhadas e deterministas num prazo superior a 5-7 dias e os erros de previsão nos modelos crescem à medida que a distância temporal aumenta. Portanto, é necessário abordar estas previsões como tendências em relação à Climatologia.

Isto porque estes modelos não trabalham da mesma forma que os convencionais, usados em previsões de médio prazo. Devem ser interpretados como um indicador de probabilidade, sabendo que trabalham à escala sinótica e planetária, e não são úteis para previsões locais ou regionais. O erro é tanto maior quanto mais for aprofundada a previsão climática ou meteorológica.

Fornecem uma ideia aproximada de uma tendência a longo prazo da evolução de parâmetros diretos como a temperatura ou a precipitação e não detetam sistemas meteorológicos como frentes, ciclones ou depressões isoladas. Estas previsões podem alterar-se entre regiões em questão de dias, ou no decorrer das semanas.