Risco de trovoadas na quinta-feira em Portugal: um fenómeno invulgar em dezembro causado pelo rio atmosférico que vem aí
Uma massa de ar, temperada e muito húmida, trará características peculiares à frente fria que chegará até Portugal na quinta-feira, permitindo que a nebulosidade e a convecção associadas sejam mais intensas do que o habitual. Eis a análise ao fenómeno.
O estado do tempo deste início da semana tem sido marcado por alguma variabilidade: desde a passagem de uma frente e de uma pequena baixa (a primeira mais a Norte e a segunda mais pelo Centro e Sul) até ao frio e à ausência de precipitação proporcionadas pelas condições de relativa estabilidade devido à proximidade do anticiclone, que ainda assim não impediu as mencionadas frente e baixa de chegarem a Portugal continental.
Entretanto, ao final do dia de quarta-feira (6), mas sobretudo durante todo o dia de quinta (7), prevê-se que uma frente, reforçada por um rio atmosférico, se destaque com intensidade em várias regiões do país, produzindo chuva abundante, persistente e localmente forte.
A já mencionada frente penetrará pelo noroeste da geografia do Continente durante as últimas horas de quarta (6) e a madrugada de quinta-feira (7) e deslocar-se-á para leste, deixando chuva localmente forte no Noroeste de Portugal, em concreto nas regiões a oeste da Barreira de Condensação (distritos de Viana do Castelo, Braga, Porto, Aveiro, Vila Real e Viseu), grosso modo, Minho, Douro Litoral e algumas zonas adjacentes. A precipitação irá alcançar todo o território, ainda que, nalgumas zonas do Alentejo e do Algarve, se manifeste de forma fraca e dispersa.
A frente fria de quinta-feira (7) convergirá com o ar quente e húmido transportado pela frente quente que esteve esta terça (5) a afetar sobretudo o Centro e Sul do território do Continente e, além disto, arrastará uma massa de ar de origem subtropical marítima a grande distância sobre o Atlântico (rio atmosférico).
Com este panorama em vista, prevê-se que o teor de água precipitável contido neste sistema frontal seja muito abundante. Além disto, a massa de ar que este rio atmosférico de origem subtropical arrastará será bastante instável, pelo que os movimentos convectivos no interior da frente serão notáveis e, juntamente com o efeito orográfico a que estará sujeita ao atravessar as principais cordilheiras de Portugal continental (Barreira de Condensação e Cordilheira Central), estes acidentes geográficos vão contribuir para aumentar a eficácia da chuva.
Uma frente com trovoadas dispersas e incorporadas
Durante a passagem da frente, de acordo com o nosso mapa de densidade de raios, as zonas que podem vir a registar trovoadas mais intensas por km2 são os distritos de Coimbra, Leiria, Santarém, Lisboa e Évora, em diferentes fases do dia de quinta-feira (7).
Também poderão eclodir trovoadas isoladas e dispersas nas redondezas do Minho, Porto, Aveiro, Vila Real, Viseu, e outras zonas do Norte e Centro. Vale a pena relembrar o seguinte: apesar de faltarem menos de 48 horas, a previsão de descargas elétricas atmosféricas pressupõe sempre um elevadíssimo grau de incerteza, pelo que o mais provável é que esta previsão sofra alterações até poucas horas antes.
A orografia de Portugal continental e a própria frente irão atuar como mecanismos de disparo muito eficazes, pelo que se estima a possibilidade de desenvolvimento de células de tempestade incorporadas na frente.
Estas trovoadas não serão generalizadas nem tão fortes como as que acontecem no final da primavera e no verão, mas poderão produzir algumas descargas elétricas e, pontualmente, granizo e fortes rajadas de vento. Tampouco se exclui a possibilidade de aparecimento de tornados, embora este tipo de acontecimentos em Portugal seja muito raro.
Chuva intensa e risco de inundações e transbordamentos de rios
Com esta situação meteorológica, espera-se que a precipitação acumulada em 24 horas alcance facilmente os 20 a 30 mm em grande parte do país na próxima quinta (7), no entanto, no Minho, Douro Litoral e noutros pontos a oeste da Barreira de Condensação (sobretudo as zonas montanhosas), bem como em partes da Cordilheira Central, as acumulações poderão facilmente ultrapassar os 50 mm e chegar até aos 85 mm nalguns pontos.
Em grande parte do Algarve, do Alentejo, e em zonas da Beira Alta, de Lisboa e da Península de Setúbal a acumulação variará, grosso modo, entre os 5 e os 15 mm.
Além disso, esta chuva, associada à chegada de uma massa de ar húmido e a uma subida significativa das temperaturas, poderá levar à ocorrência de derretimento de gelo em zonas do interior e a um forte aumento dos caudais dos rios e ribeiras, que pode levar ao transbordamento de alguns cursos de água. Tampouco se exclui o risco de inundações em áreas urbanas, ou rurais, sobretudo naquelas que são historicamente vulneráveis a este tipo de ocorrência.