Primavera climatológica: que tempo fará em março, abril e maio?
Fevereiro foi soalheiro e estável na maioria dos dias, teve calor anómalo e escassez de precipitação. Climatologicamente, março costuma ser mais variável e até agora, chuva e vento não têm faltado. Confira a tendência do tempo para o próximo trimestre.

Apesar do inverno astronómico ainda ter 18 dias pela frente, o 'climatológico' terminou no passado dia 29 de fevereiro. Já estamos na primavera climatológica, que abrange os meses de março, abril e maio. Este último inverno foi mais quente que o habitual, poucos dias de frio teve comparando com outros anos, e mesmo os níveis de precipitação não estiveram dentro da média, talvez mesmo só na metade ocidental da região Norte e em algumas localidades do Centro.
Neste monótono panorama meteorológico, destacou-se o mês de fevereiro, com calor anómalo e totalmente fora de época, em que se registaram temperaturas especialmente elevadas, para além da precipitação que foi escassa. A priori é muito complicado saber se a primavera vai continuar neste registo ou se se irá comportar de forma totalmente diferente, contudo já temos alguns indícios.
Entre quinta-feira e sábado chegará a #Portugal continental uma entrada de ar polar marítimo
— Tempo.pt (@Tempo_Portugal) March 3, 2020
Resultará em nova descida das temperaturas e possivelmente, queda de #neve ️
️ Modelos de previsão: https://t.co/YgFQCwYoPu pic.twitter.com/KjMwigcUgZ
Primeiro, ter em conta que com março chega uma época de mudanças significativas a nível hemisférico. A radiação solar aumenta a um ritmo muito maior e o equilíbrio térmico que existia nas latitudes médias e altas durante o inverno, rompe-se. Assim, o jato polar tende a ondular-se, contribuindo para tempo muito mais instável, com desenvolvimento e circulação de tempestades em latitudes que no inverno eram pouco habituais. Este ano os modelos sazonais projetam mudanças em março quando comparado a fevereiro, mas revelam-se muito conservadores na previsão de uma primavera húmida ou fresca no seu conjunto.
Precipitação e temperaturas mais normais em março
O padrão climático de março assumirá contornos semelhantes ao dos meses de Janeiro e Fevereiro, embora com uma maior variabilidade. Prevê-se que ao longo do primeiro mês da primavera climatológica, se registem níveis de precipitação dentro da média, ou acima da média (somente região Norte), e que os termómetros evidenciem valores de temperatura mais normalizados ou ligeiramente acima da média. Em suma, março terá períodos de tempo seco e ameno a alternar períodos de tempo mais húmido e fresco, sobretudo no Norte e Centro. No Sul continuará a imperar o tempo seco e mais quente.
No entanto, abril e maio deverão ser diferentes. As primeiras pistas do modelo Europeu mostram uma tendência bastante firme para temperaturas acima do normal em toda a Península Ibérica, bem como chuva em quantidades menores que o habitual, em grande parte de Portugal continental. Destaque-se geograficamente, a escassez de precipitação estimada para as regiões do Alentejo e do Algarve.
Março arrancou com mudanças notórias no #tempo, comparado com fevereiro. Mas o #ECMWF estima um ambiente primaveril no trimestre climatológico que se iniciou, tal como mostram os mapas das anomalias térmicas previstas para março, abril e maio.
— Alfredo Graça (@alfredomgraca95) March 3, 2020
Fonte: https://t.co/0sFzOdWzvq pic.twitter.com/hw5C1TkLhk
São fiáveis estes modelos?
Antes de responder diretamente a esta pergunta há que ter em conta várias características fundamentais deste tipo de previsões. Estes modelos não operam da mesma forma que os convencionais que são usados para prognósticos a médio prazo. Antes de os utilizarmos, não só temos que considerar que só os devemos interpretar como um indicador de probabilidade, como também que trabalham à escala sinótica e planetária, isto é, não são úteis para previsões locais ou regionais. Quanto mais aprofundamos uma previsão climática ou meteorológica, maior é o erro cometido.
Portanto, respondendo à pergunta, podemos dizer que estes modelos são apenas uma ferramenta experimental que pode ser útil para projetar uma previsão geral e/ou probabilística, dando uma ideia aproximada da tendência que podemos esperar a longo prazo da evolução de parâmetros diretos como a temperatura ou a precipitação. Não podem detetar sistemas meteorológicos como frentes, ciclones ou depressões isoladas, essas sim, capazes de alterar o carácter geral de um mês em apenas uns dias de ocorrência, pelo que estas previsões podem mudar de umas regiões para outras com o decorrer das semanas ou inclusive não se cumprirem em determinadas áreas.