Primavera climatológica em Portugal: chegou a hora do tempo de chuva?
Na próxima terça-feira, 1 de março, arranca oficialmente a primavera em climatologia. Após um dos invernos mais secos de que há registos, o que nos poderá reservar a nova estação? Chegou a hora do tempo de chuva? Confira aqui a previsão meteorológica trimestral!
O inverno astronómico ainda tem por diante algumas semanas, mas para a Climatologia, a estação mais fria do ano termina dentro de poucos dias (28 de fevereiro). A 1 de março, que coincide com a terça-feira de Carnaval, iniciar-se-á também a primavera climatológica, período que corresponde aos meses de março, abril e maio, e que termina oficialmente a 31 de maio de 2022.
Depois de um dos invernos mais secos e quentes de que há registos graças à ausência generalizada da típica precipitação invernal, o ideal seria que a primavera climatológica trouxesse chuva. De preferência, em quantidades suficientes para aliviar o panorama de seca moderada e severa que Portugal continental atravessa. A concretizar-se o cenário de chuvas primaveris, essa água seria como “ouro para os campos” e uma autêntica benesse para a agricultura e pecuária, imensamente carentes dos recursos hídricos.
Um dos elementos meteorológicos responsáveis pela seca tremenda em que estamos mergulhados em pleno inverno foi a persistência quase ininterrupta de um poderoso anticiclone de bloqueio que teimou em não “fraquejar”, impedindo portanto, a chegada de depressões ou frentes que regassem o país com a precipitação que é tão necessária.
Com a chegada da primavera, o jato polar tende a ondular-se, o que contribui para uma maior instabilidade meteorológica, com formação e circulação de tempestades mais próximas das nossas latitudes. Assim, impõe-se a questão: irá a tão desejada chuva chegar a Portugal continental na primavera climatológica de 2022?
Um começo quente e seco… mas com mudanças à espreita
Março terá um início algo húmido no Norte de Portugal continental, precisamente na terça-feira de Carnaval, dia no qual se prevê precipitação fraca e dispersa. No resto do país estará céu encoberto e calor. Mesmo assim, prevê-se, em traços gerais, tempo mais quente e seco do que o normal na primeira semana do mês, à semelhança das últimas semanas. Contudo, para as semanas seguintes de março, possivelmente a partir do dia 7, poderá já não ser bem assim.
De acordo com as mais recentes atualizações do ECMWF, da segunda semana até ao final de março os valores de precipitação estarão, em geral, dentro da referência da normal climatológica, especialmente na Região Sul; (a média mensal para Portugal continental são 111,3 mm, pelo que o valor final de pluviosidade deverá ser ligeiramente inferior a isto no cômputo geral). Isto intui prováveis entradas de depressões isoladas em altitude (gotas frias) pelo sul do país, à semelhança daquela que ocorreu no final desta semana.
Se este cenário de previsão de chuva se confirmar, algo que parece mais provável na segunda quinzena, teremos boas notícias no que toca ao alívio da situação de seca. Não se exclui também a possível entrada de frentes ou até mesmo depressões atlânticas pelo Noroeste Peninsular.
Quanto às temperaturas, deverão estar mais elevadas do que o normal em quase todo o mês e em praticamente todo o território. Ainda assim, segundo o modelo Europeu haverá exceções, nomeadamente na segunda semana e, possivelmente na última (embora nesta última apenas no Norte e pontos do Centro). Estão previstos valores térmicos dentro do normal, provavelmente graças a entradas de ar frio que causem a descida das temperaturas.
Será que abril vai ser “águas mil”?
Para abril, de momento, as tendências dos mapas mensais do ECMWF apontam para um cenário meteorológico distante do provérbio popular “Abril, Águas Mil”. Apesar disso, prevê-se um panorama pluviosamente benéfico para toda a área do território continental a sul do sistema montanhoso Montejunto-Estrela, onde se prevê valores de precipitação dentro do habitual. Pelo contrário, a norte do acidente geográfico supra-citado, os níveis de precipitação estimados deverão ser consideravelmente inferiores ao normal.
Naturalmente que, sendo abril o mês primaveril por excelência, é preciso sempre contar com eventuais episódios de instabilidade, típicos de uma estação bastante variável climatologicamente. Quanto às temperaturas, tudo aponta para que o oeste da Península Ibérica, o que corresponde à totalidade de Portugal continental, registe tempo mais quente do que o normal (anomalia térmica positiva de até +1,5 ºC).
Um mês de maio ameno e húmido?
Para maio antecipa-se um cenário com níveis de precipitação dentro do habitual em todo o país, possivelmente mais húmido do que os seus “companheiros” do calendário primaveril. Há, assim, uma boa possibilidade de descarga de depressões isoladas em altitude (gotas frias), com as ocasionais trovoadas primaveris, ou até mesmo de mais frentes e/ou depressões atlânticas.
No que concerne às temperaturas, uma vez mais, à semelhança dos meses anteriores, espera-se que maio apresente temperaturas mais altas em relação aos valores de referência. Estima-se anomalia positiva de até 0,50 ºC acima do normal em Portugal continental. Saliente-se que a tão longo prazo falamos de tendências e não de previsões, pelo que num ápice tudo se pode alterar, especialmente numa época do ano irregular e variável como a primavera no que toca à dinâmica atmosférica.
Por último, o tempo previsto para os Arquipélagos dos Açores e da Madeira para o próximo trimestre sugere uma primavera climatológica quente e com valores de precipitação dentro do normal.