Previsão para abril atualizada: já se sabe quando a chuva regressa?
Cada dia mais próximos ao verão e a chuva generalizada continua ausente de Portugal. O panorama começa a preocupar, sobretudo em regiões com níveis de água muito baixos. Prevê-se alguma mudança radical para o resto de abril?
A Semana Santa está a ser marcada por uma grande amplitude térmica, evidenciada pela temperatura diurna de pleno verão que contrasta com um acentuado arrefecimento noturno. Nalguns pontos do interior de Portugal a mínima aproximou-se de 0 ºC e 1 ºC, registando-se geada pontual. O fim de semana da Páscoa ainda se antecipa mais quente, sobretudo no Sábado de Aleluia.
Por outro lado, a variabilidade primaveril não se tem exibido no que diz respeito à chuva, à exceção dos Açores, pontualmente na Madeira e por vezes no litoral Norte e Centro de Portugal continental. Nestes dias de Semana Santa é, sem dúvida, uma excelente notícia para as procissões religiosas e para aqueles que tiraram férias para ir à praia, mas é um cenário não tão positivo para os campos, montanhas e aquíferos.
À medida que a primavera avança, a precipitação de carácter frontal abre caminho à de carácter convectivo, mais forte, mas muito mais irregular. Às vezes, é mais prejudicial do que benéfica devido aos problemas e estragos causados, ou à grande erosão que provoca, sobretudo se já não chove há muito tempo. Recorde-se que, se não chover no que resta dos meses de primavera, o verão poderá ser duro nalgumas regiões.
É certo que os níveis de armazenamento hídrico em grande parte do país (grosso modo Norte e Centro – com exceções sub-regionais) estão consideravelmente melhores devido às chuvadas de novembro, dezembro e janeiro, mas, numa significativa porção territorial, correspondente ao Nordeste Transmontano, ao Sudoeste Alentejano e a praticamente todo o Algarve persistem níveis hídricos bastante reduzidos e inferiores ao que seria desejável nesta altura do ano.
Choverá em Portugal nos próximos dias?
Infelizmente, para já, não é possível dar boas notícias. Segundo o modelo que merece a nossa maior confiança (ECMWF), o cenário mais provável a médio e longo prazo é o regresso de um padrão com fluxo sensivelmente zonal em latitudes altas, com frentes a atingir mais a norte e, quiçá, uma ou outra descarga de ar frio em altitude. Se assim for, dificilmente choverá em quase todo o território de Portugal. E, claro está, as regiões mais carentes de água poderão ver a sua situação a agravar-se.
O “poder” das altas pressões vai manter-se dominante em redor da Península Ibérica e assim, Portugal e Espanha, serão os únicos países europeus nos quais não choverá a curto e médio prazo, à exceção da possível queda de precipitação muito fraca em pontos da Região Norte, prevista para a próxima quarta-feira 12 de abril. Assim, a curto prazo, só choverá nas Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira, sendo que nesta última a precipitação poderá dever-se à passagem de uma depressão isolada em altitude que será particularmente intensa na parte oeste da Ilha madeirense, nomeadamente em São Vicente.
O que se prevê para o resto de abril?
O nosso modelo atualizou recentemente a sua previsão para o mês de abril e, para já, não é possível dar boas notícias. Caso se cumpra o cenário desenhado pelos mapas, a temperatura estará entre 0,5 e 1,5 ºC acima da média climatológica para estas datas em quase todo o país, sendo que a anomalia térmica positiva será mais pronunciada em pontos do Centro e Sul da nossa geografia, destacando-se, em grande medida, todo o Alentejo e alguns pontos dos distritos de Castelo Branco, Santarém, Setúbal e Faro.
Para a Região Autónoma da Madeira também se espera uma anomalia de temperatura positiva, com valores até 1 ºC acima do normal, exceto numa pequenina área correspondente aos municípios de Santana e Machico (territórios sem anomalias estatisticamente significativas).
Exceções no Continente serão os territórios que correspondem ao Minho, distrito do Porto, nordeste do distrito de Aveiro, as metades ocidentais dos distritos de Vila Real e Viseu, bem como a totalidade do Arquipélago dos Açores dado que, para estas regiões, não estão previstas anomalias significativas. Mesmo assim, a situação terá de ser analisada semana a semana sendo que, nunca é demais relembrar que na primavera as mudanças do estado do tempo costumam acontecer bruscamente.
Sem precipitação generalizada à vista
No que concerne à chuva, o panorama tampouco é melhor. Na totalidade do mês de abril poderá chover significativamente abaixo da média em praticamente metade do território de Portugal continental, com anomalias mais evidentes na Região Norte e em pontos da Região Centro, sobretudo na primeira quinzena. A curto e médio prazo as altas pressões vão continuar a rodear a Península Ibérica, sendo que, a um prazo ainda mais distante não se perspetivam grandes situações de instabilidade.
O modelo com o qual trabalhamos aqui na Meteored realça que abril só será mais chuvoso do que o normal na parte oeste da Ilha da Madeira, ilha de Porto Santo e em parte das Ilhas Desertas. O resto do Arquipélago madeirense não apresenta anomalia de precipitação estatisticamente significativa. Nos Açores o cenário antecipado é bastante invulgar, esperando-se um abril bastante mais seco do que a média climatológica. A anomalia de precipitação prevê-se negativa (até 20 mm abaixo dos níveis pluviométricos de referência para as 9 ilhas).
Tal como a Madeira, para uma boa parte do território de Portugal continental - da Serra da Estrela ao Algarve -, prevê-se um mapa “pintado” a branco, o que indica ausência de anomalia estatisticamente significativa (possibilidade de chuva dentro dos limites da normal climatológica de referência).
Se este cenário se concretizar, o panorama para o verão começará a ganhar contornos preocupantes nalgumas áreas do país. Teremos de esperar até maio, que teria de ser um mês com alguma “fartura” em chuva, para que houvesse uma melhoria da situação atual nas regiões mais austrais de Portugal.