Previsão do tempo em março em Portugal: irá o jato polar trazer chuva abundante e queda de neve?
Fevereiro despede-se com tempo frio, bons períodos de chuva e de queda de neve significativa nas serras portuguesas e em breve chega março, o primeiro mês da primavera. Contamos-lhe aqui a probabilidade de ocorrência de precipitação abundante nas próximas semanas em Portugal.
Fevereiro está prestes a terminar com um panorama meteorológico típico de inverno: tempo frio, vento forte, períodos de chuva ou aguaceiros e queda de neve a cotas médias e altas. Esta situação não é fora do comum para esta estação do ano em Portugal continental, contudo, devido à forma anómala como o inverno se foi exibindo, estar frio e cair neve é torna-se notícia!
Março está aí à porta e, para muita gente, o primeiro mês da primavera climatológica implica uma maior atenção ao céu e à previsão do estado do tempo por várias razões: a Semana Santa no seu todo, o dia de Páscoa em específico ou então, até mesmo para o desempenho de determinadas atividades profissionais, como a agricultura.
Nesta atividade do setor primário, a água é um bem fulcral e indispensável mas em certas regiões bastante escasso, sobretudo nas regiões mais meridionais do país e com menor abundância de precipitação, como o interior alentejano (sobretudo o Baixo Alentejo) e o Algarve.
Observações climatológicas acerca do mês de março
Em março, já se nota o aumento primaveril das temperaturas em relação às semanas que o antecedem, com valores médios cerca de 3 ºC mais elevados nas regiões do interior do que em fevereiro, sendo que a subida térmica é mais moderada nas regiões do litoral e bastante suave nos arquipélagos. O aspeto mais chamativo é que o tempo tende a ser muito incerto e com uma atmosfera propensa a produzir estados do tempo variáveis na nossa latitude.
Eis as capitais de distrito mais quentes e mais frias
De acordo com o IPMA, em março, a temperatura máxima média na cidade madeirense do Funchal (capital do Arquipélago da Madeira) ronda os 20 ºC. Já nos Açores, a cidade de Ponta Delgada (São Miguel) e também a capital desta Região Autónoma, possui uma temperatura máxima média de 17,6 ºC. Quanto ao Continente, destacam-se cidades como as de Santarém, Setúbal, Beja e Faro, onde as temperaturas máximas médias rondam os 19 / 20 ºC.
Por outro lado, em cidades como Vila Real, Bragança, Viseu e Guarda, as temperaturas máximas médias oscilam entre 12 ºC e 16 ºC. É precisamente nestas capitais distritais que se encontram as temperaturas mínimas mais baixas, com uma média de 3 a 6 ºC. As amplitudes térmicas mantêm-se bastante acentuadas nestas localidades em março.
Março não se enquadra nos meses mais chuvosos do ano, mas a precipitação é razoavelmente frequente
Em março, a precipitação média mensal ultrapassa os 100 mm no Minho, ficando muito perto desse patamar da centena de milímetros acumulados no Douro Litoral e no setor ocidental do distrito de Viseu. Por outro lado, no Alentejo Central, no Baixo Alentejo e no Algarve, a média da precipitação total em março ronda os 40 mm.
Deve-se, contudo, salientar o seguinte: a média não é uma boa referência para se analisar o elemento climático da precipitação, devido à irregularidade que a mesma apresenta ao longo do mês de março e à variabilidade interanual.
Embora não integre os meses mais chuvosos do ano em Portugal continental (de um modo geral é o 7º mês mais chuvoso entre um total de 12), a precipitação tem tendência a ser frequente, sendo normal que a sua irregularidade aumente na reta final do mês de março. Não se exclui a possibilidade de ocorrência de grandes quedas de neve ou nevões, associadas ao ar polar ou ártico.
Será que ainda vai ocorrer uma vaga de frio tardia?
De acordo com o nosso modelo de referência (ECMWF), os primeiros dias de março serão mais frios do que o normal (1 a 4 de março) de norte a sul de Portugal continental. De um modo geral espera-se uma anomalia térmica negativa de -1 ºC, podendo ser de -3 ºC em zonas da Região das Beiras e Serra da Estrela. Quanto aos Arquipélagos, prevê-se uma anomalia térmica positiva de 1 ºC no Grupo Oriental dos Açores e na R.A da Madeira e valores de temperatura dentro da normal climatológica de referência nas restantes ilhas açorianas.
Para a semana seguinte (4-11 de março) não se observam desvios significativos no Continente, pelo que as temperaturas rondarão a média para esta altura do ano. A R.A da Madeira vai manter a anomalia térmica positiva de 1 ºC. Já os Açores poderão ser surpreendidos por tempo bem mais frio do que o normal (até 3 ºC abaixo da média em quase todas as ilhas, exceto a de Santa Maria - apenas 1 ºC abaixo do habitual).
No que diz respeito à semana seguinte - 11 a 18 de março - a incerteza aumenta significativamente à medida que nos adentramos na segunda quinzena do mês. Contudo, as primeiras impressões do nosso modelo de confiança sugerem que os mapas mostram que os valores de temperatura poderiam situar-se entre 1 e 3 ºC acima da média na Região Norte e na R.A da Madeira, enquanto as anomalias térmicas positivas seriam mais moderadas no resto do país e em quase todas as ilhas açorianas (até 1 ºC superior ao normal).
Nas restantes semanas do mês (18 a 25 de março; e 25 de março a 1 de abril), já a coincidir com a Páscoa, o cenário poderá não alterar-se muito, com o tempo a manifestar-se, globalmente, mais quente do que o habitual (Continente, Açores e Madeira), embora com uma aproximação térmica aos valores normais nas regiões do interior de Portugal continental.
Após um início de março que se prevê com temperaturas próximas da média, a partir de meados do mês parece que o tempo irá aquecer, com valores térmicos acima do normal. Isto deixa antever a possibilidade de uma semana de Páscoa agradável, pelo menos no que diz respeito às temperaturas.
Esta distribuição térmica sugere possíveis situações de inversões térmicas ou nevoeiro em zonas do interior, especialmente em depressões ou vales, embora seja normal que o nevoeiro levante mais cedo em março, à medida que o sol aquece mais. A menos que haja surpresas, tudo indica que esta estação se irá despedir sem uma vaga de frio.
Previsão de chuva e neve em Portugal
No que concerne à precipitação, deverá chover algo até 4 de março mas sem expressão espacial significativa no Continente. No entanto, de 4 a 11 de março, tudo aponta para valores de precipitação superiores à média de norte a sul da geografia de Portugal continental, com as anomalias mais acentuadas previstas para o litoral Norte e Centro, Área Metropolitana de Lisboa, Nordeste Transmontano e Região Centro.
Posteriormente, é possível que a corrente de jato polar apresente ondulações significativas, permitindo a formação de um anticiclone de bloqueio na Escandinávia. Isto poderá potencialmente favorecer a formação de depressões e frentes associadas a oeste de Portugal continental.
Nesta altura do ano, a precipitação é normalmente muito difícil de prever a médio e longo prazo, e tudo indica que nas próximas semanas a corrente de jato polar estará bastante ondulada, o que poderá levar a estados do tempo muito variáveis.
Além do valor preditivo médio/reduzido dos mapas de tendência semanais de anomalias de precipitação, a já conhecida variabilidade e irregularidade da chuva em março aumenta a incerteza na previsão.
Porém, à data de hoje, tudo indica que março será mais chuvoso do que o normal em todas as semanas do mês e o aspeto mais chamativo das previsões prende-se mesmo com a questão geográfica: a precipitação não se prevê acima da média apenas para as regiões Norte e Centro, onde já é habitual chover com mais abundância, mas também naquelas a sul do Tejo e onde a água é mais escassa. À semelhança do Continente, nos Açores e na Madeira março também poderá ser chuvoso quase desde o seu início, isto é, desde 4 de março até ao dia 31.
Assim sendo, parece provável uma circulação atmosférica favorável a temporais atlânticos (frentes, depressões ou gotas frias), com as altas pressões a deslocarem-se em direção à Gronelândia e as depressões a circularem um pouco mais a sul, relativamente perto da nossa latitude.