Previsão de Alfredo Graça para outubro, um mês de ‘grandes chuvadas’: “vai ser muito variável e talvez com surpresas”
Para trás ficou um setembro com dias de muito calor e incêndios, mas também de chuvadas em várias zonas de Portugal. Como se prevê o arranque de outubro? Haverá chuva abundante para mitigar a situação de seca que volta a afligir várias regiões?
Setembro despedir-se-á com um estado do tempo variável devido à brusca descida e subida de temperatura prevista para estes últimos dias do mês. As últimas semanas em Portugal continental foram predominantemente estáveis e secas, mas nem por isso deixaram de registar períodos de grande variabilidade, não só na temperatura (grande alternância de massas de ar mais quente ou mais frio), como na precipitação.
Nos últimos dias, por exemplo, a depressão Aitor, alimentada por um grande rio atmosférico, trouxe muita chuva a regiões como o Minho e o Douro Litoral, enquanto na região interior do distrito de Beja e na região Sotavento do distrito de Faro pouco ou nada choveu e a seca agravou, voltando a ser um motivo de preocupação. Irá a chuva ser generalizada em Portugal em outubro?
Climatologicamente, como costuma ser outubro em Portugal?
Outubro é o primeiro mês plenamente outonal. De acordo com a normal climatológica 1981-2010, as temperaturas médias são 4/5 ºC mais baixas do que em setembro nos distritos do interior, enquanto nos do litoral e nos arquipélagos a descida é mais moderada por causa do efeito termorregulador do oceano Atlântico.
No interior Norte e Centro e em outras zonas montanhosas do território do Continente será recomendável ter um casaco sempre à mão, pois o tempo ficará mais fresco. À noite, em outubro, a geada começa lentamente a surgir nos locais mais abrigados e a poder estender-se a outras zonas. Em contrapartida, em boa parte do Alentejo, no Algarve, nos Açores e na Madeira, poderá continuar a usar roupa de manga curta com bastante frequência durante o dia.
No que diz respeito à precipitação, outubro é conhecido como um mês de grandes ‘chuvadas’. É habitual que comecem a chegar as primeiras depressões atlânticas de grande impacto - como Elsa em 2019, que provocou inundações no Norte e no Centro e múltiplas ocorrências, - bem como as suas frentes associadas. Basicamente, em outubro podem ocorrer diferentes tipos de situações sinópticas, capazes de gerar precipitação na geografia do Continente.
Outubro é um dos meses mais chuvosos do ano de norte a sul de Portugal continental e nas Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira. Em grande parte das 18 principais estações meteorológicas do Continente acumulam-se, normalmente, mais de 100 mm.
Os únicos distritos em que a média da precipitação total é, geralmente, inferior ao patamar dos 100 mm são: Santarém, Lisboa, Setúbal, Évora, Beja e Faro. Em Ponta Delgada (Açores) os 100 mm também são geralmente superados em outubro, enquanto no Funchal (Madeira) a precipitação acumulada ronda os 90 mm.
Fará frio ou calor nas próximas semanas?
No que concerne à temperatura, a primeira semana de outubro poderá decorrer com valores ligeiramente abaixo da média no extremo norte, na faixa costeira ocidental, algumas zonas dos distritos de Santarém e Portalegre e no Barlavento Algarvio. Para o resto do território do Continente, não se detetam anomalias significativas.
Na Madeira e nos Açores perspetivam-se anomalias térmicas positivas, isto é, temperaturas ligeiramente superiores à média no primeiro arquipélago referido (+1 ºC) e temperaturas significativamente acima do normal nos Açores (+1 a +3 ºC).
A última atualização do modelo de referência da Meteored prevê que, de 7 a 21 de outubro, as temperaturas ficariam dentro dos valores médios da normal climatológica de referência em grande parte de Portugal continental. Porém, o tempo poderá continuar ligeiramente mais fresco ou frio do que o normal na maioria das sub-regiões a norte do rio Mondego (-1 ºC). A sul do maior curso de água nascido em solo nacional, apenas o Barlavento Algarvio poderá, também, registar uma anomalia térmica negativa (-1 ºC).
Para a segunda quinzena de outubro, os mapas revelam, na presente data, que as anomalias quentes poderão ganhar terreno numa parte significativa da geografia do Continente. Se a última atualização do nosso modelo de confiança se concretizar, outubro poderá terminar com temperaturas entre 1 e 3 ºC superiores à média em várias zonas do território, embora na maioria delas prevaleçam as temperaturas tipicamente habituais para o décimo mês do ano.
É importante referir também que, para o resto do mês de outubro nos arquipélagos dos Açores e da Madeira, perspetiva-se uma tendência de anomalias térmicas muito semelhante àquela que se prevê para a primeira semana do mês.
Será que outubro vai ser um mês chuvoso e instável?
Como já referimos aqui na Meteored, outubro é um mês extremamente complexo para a previsão da precipitação, pois pode estar associado a várias situações sinópticas (desde frentes e depressões atlânticas ou gotas frias até anticiclones de bloqueio que duram várias semanas), sendo por isso, não poucas vezes, bastante desigual na distribuição pluviométrica pela nossa geografia. De acordo com os mapas de previsão, a primeira semana do mês poderá traduzir-se em chuva acima da média no Minho.
De 7 a 14 de outubro preveem-se anomalias positivas de precipitação de norte a sul de Portugal continental, com particular destaque para o Minho (Viana do Castelo e Braga), Douro Litoral (Porto) e setores ocidentais dos distritos de Vila Real e Viseu. Este poderá ser o período mais húmido e chuvoso do mês, quer em intensidade, quer em extensão geográfica pois nem mesmo o Alentejo e o Algarve ficarão de fora.
Nos Açores e na Madeira prevê-se o cenário oposto. A precipitação registaria valores dentro ou inclusive abaixo do normal, em particular no arquipélago madeirense.
Para a segunda quinzena (14-28 outubro) a incerteza aumenta significativamente, mas os primeiros sinais sugerem a continuidade de alguma instabilidade e pluviosidade no território de Portugal continental, embora mais localizada. Deste modo, tudo aponta para que o mês de outubro seja muito variável e condicionado por diferentes tipos de situações meteorológicas.
Será de esperar então que outubro seja caracterizado pela alternância de frentes atlânticas - associadas às típicas depressões do Atlântico Norte e que podem ou não chegar cá diretamente -, bolsas de ar frio e ainda cristas anticiclónicas. Toda esta panóplia de cenários poderá manter outubro muito ‘animado’ em termos meteorológicos!