Previsão de Alfredo Graça para a segunda quinzena de maio: trovoadas à espreita devido a padrão favorável às depressões
Após as recentes massas de ar polar, o modelo de referência da Meteored atualiza as suas previsões para a segunda quinzena de maio. Vislumbra-se a possibilidade de alterações significativas após as trovoadas e a depressão fria destes últimos dias.
Chegamos a meio do mês de maio com um estado do tempo variável e instável numa parte significativa da geografia de Portugal continental devido à influência exercida por uma depressão fria que se posicionou nas imediações das Ilhas Britânicas.
O referido centro de baixas pressões vai continuar a “injetar” ar frio (massa de ar polar) no nosso país ao longo dos próximos dias, produzindo temperaturas invulgarmente baixas para a estação. Aliás, por causa da combinação do ar frio em altitude com a precipitação tem ocorrido queda de neve nas últimas horas e dias nos pontos mais elevados das Serras da Estrela e do Gerês.
Tendo em conta que o verão climatológico está iminente (início a 1 de junho), a precipitação destes dias é bastante bem-vinda. Os aguaceiros têm sido fracos e irregulares, típicos do tipo de precipitação convectiva, pelo que a chuva não será generalizada.
A última análise climatológica ao território do Continente - relativa ao mês de abril - dá conta de um ligeiro agravamento da seca em zonas do Sul do país, precisamente quando estamos “às portas” da estação estival. Será que nas próximas semanas as regiões a sul do Tejo vão acumular a precipitação que necessitam para enfrentar o verão climatológico?
Irá a segunda quinzena de maio ser marcada pela chegada de mais massas de ar polar?
De acordo com as últimas previsões do modelo de referência da Meteored, prevê-se que as temperaturas no período de 20 a 27 de maio se situem entre 1 e 3 ºC abaixo da média climatológica de referência em quase todo o território do Continente, ou seja, são esperadas anomalias térmicas negativas. Isto traduzir-se-á então em tempo fresco ou frio.
As únicas zonas do país onde não se observa qualquer anomalia nas temperaturas em relação aos valores normais são os distritos de Castelo Branco, Beja e quase toda a região do Algarve (exceto a extremidade oeste, situada dentro do Barlavento e onde se preveem temperaturas inferiores ao habitual). Para a Ilha da Madeira tampouco se verifica alguma anomalia térmica segundo o mapa do ECMWF.
Porém, a outra face da moeda encontramo-la na Região Autónoma dos Açores. São esperadas temperaturas entre 1 e 3 ºC superiores ao normal em oito das nove ilhas açorianas. A exceção será a ilha de Santa Maria, a mais oriental dos Açores e situada precisamente no Grupo Oriental. No referido território insular a anomalia térmica positiva será mais suave, estimando-se valores de temperatura de até 1 ºC acima da média.
E como irá terminar o mês de maio? A incerteza aumenta consideravelmente na mesma proporção que a distância temporal, mas o cenário mais provável à data de hoje para o período entre 27 e 31 de maio (o que não significa necessariamente que é o que vai acontecer) revela temperaturas entre 1 e 3 ºC mais elevadas do que a média climatológica para as zonas fronteiriças da Beira Baixa, do Alentejo e do Sotavento Algarvio, cenário igualmente previsto para os Açores e, novamente, com a ilha de Santa Maria ligeiramente menos quente.
No distrito de Setúbal, na Beira Alta, no resto do Alentejo e no arquipélago da Madeira observa-se uma anomalia térmica positiva, mas mais suave (até 1 ºC acima dos valores normais). Para as restantes regiões não se vislumbram anomalias térmicas significativas, algo que é ilustrado pelas zonas manchadas a branco no mapa.
Perspetiva-se chuva abundante nas próximas semanas?
No que concerne às chuvas, como já explicado anteriormente aqui na Meteored, esta fase da primavera é frutífera em precipitação convectiva. Deste modo, os aguaceiros (por vezes de granizo) e as trovoadas tendem a dominar, o que torna bastante difícil e complexa a tarefa de determinar à escala local a sua provável ocorrência, mesmo com previsões efetuadas a curto e médio prazo.
Apesar de 92% do território não se enquadrar na seca meteorológica, ocorreu um agravamento no armazenamento de água nos solos das regiões mais meridionais (concelhos de Mértola - Beja; e Vila Real de Santo António - Faro) entre o final de março e o final de abril, tal como referido na nossa recém-lançada análise climatológica. Deste modo, urge a ocorrência de chuva em regiões como o Baixo Alentejo e o Algarve.
As últimas previsões do modelo ECMWF insistem que, de 20 a 27 de maio, a precipitação será inferior à média de norte a sul de Portugal continental e na R.A. da Madeira (exceto nalgumas pequenas zonas ‘neutras’ pintadas a branco no mapa, tais como Aveiro e Cordilheira Central).
Isto não significa que não choverá, apenas que de momento as cartas de tendência semanal para as anomalias de precipitação não vislumbram, do ponto de vista estatístico, valores significativos. Quanto aos Açores, para todas as ilhas do arquipélago evidencia-se uma anomalia de precipitação positiva, isto é, com valores até 10 mm superiores ao habitual.
Nos últimos dias de maio (27-31 de maio), parece que a precipitação irá situar-se em torno da média climatológica, apesar do tempo seco estar previsto para o interior Norte e Centro e para uma boa parte das zonas a sul do rio Tejo. Para os Açores e para a Madeira, do ponto de vista da precipitação, não se preveem anomalias significativas nessa semana.
Provável mudança de padrão meteorológico... talvez só nos últimos dias de maio
Durante boa parte da segunda quinzena de maio vigorará o padrão de bloqueio (assinalado a vermelho). Porém, a partir de segunda-feira, 27 de maio, o gráfico de probabilidades de padrão meteorológico, baseado na previsão de longo prazo do nosso modelo de referência - ECMWF - mostra que um padrão meteorológico indefinido, algo relacionado com a incerteza associada às principais teleconexões climáticas que moldam os estados de tempo no nosso país e no resto da Europa.
Com esta indefinição nos padrões meteorológicos de médio e longo prazo, a probabilidade de se impor em Portugal continental um estado do tempo estável, quente e soalheiro, com temperaturas acima da média nos últimos cinco dias de maio, acaba por ser a mesma de ficar exposto a eventuais gotas frias, depressões ou vales depressionários que se aproximem da nossa geografia, provenientes do Atlântico.