Prevê-se uma corrente de jato polar caótica para a próxima semana: eis o que poderá acontecer na Europa e em Portugal
Ao longo dos próximos dias o jato polar irá alterar o seu comportamento em redor da Europa, aumentando a amplitude das suas ondulações. Isto poderá resultar na chegada de alguns vales depressionários e depressões isoladas em altitude a Portugal.
Nas últimas duas semanas as tempestades atlânticas foram as protagonistas indiscutíveis do estado do tempo, tanto em Portugal continental, como em boa parte da Europa. Garoe, Éowyn, Herminia e Ivo fizeram manchete em inúmeros meios de comunicação devido à sua força, tendo sido alimentadas por um jato polar muito forte e contrastes térmicos muito acentuados (ar polar e ar subtropical) no Atlântico Norte.
Um jato polar mais ondulado: efeitos possíveis
A tempestade Ivo, a última do comboio de depressões que atingiu o nosso país durante a segunda quinzena de janeiro, foi ligeiramente diferente das anteriores. Teve um desenvolvimento rápido, mas não tão explosivo como as suas antecessoras. Mesmo assim, afetou de forma mais direta a nossa geografia e provocou uma descida das temperaturas mais notória do que as anteriores após a passagem das frentes associadas, à medida que descia em latitude. Isto deve-se a uma dinâmica atmosférica que começa a alterar-se.
O que é o jato polar? Conhecida como corrente de jato, “jet stream” ou muito simplesmente jato, é um canal de ventos muito fortes, em forma de tubo. Pode ser entendido como um rio de ar que flui acima das nossas cabeças (a cerca de 9-16 km acima da superfície da Terra) e a velocidades de 100-250 km/h, com milhares de quilómetros de comprimento, mas apenas alguns quilómetros de largura.
O jato polar está a começar a ondular e continuará a fazê-lo ao longo dos próximos dias. Não perderá necessariamente velocidade ao longo de todo o seu trajeto, pois continuará a ser muito forte sobre o Atlântico, mas ficará muito mais irregular.
Traçará ondulações pronunciadas que suportarão grandes cristas anticiclónicas nas latitudes altas, com a possibilidade de vales depressionários e depressões isoladas em altitude se soltarem mais para sul. Embora este padrão já esteja a afirmar-se atualmente, ficará ainda mais vincado sobre o continente Europeu durante a próxima semana - a primeira de fevereiro de 2025.
Temperaturas mais baixas e menos precipitação
Com este panorama, as depressões que irão atingir-nos a partir de agora serão consideravelmente mais fracas, não só em Portugal continental, mas também no resto da Europa, apesar de circularem mais a sul. No nosso país, o vento forte perderá protagonismo meteorológico e a chuva será mais localizada e menos persistente.
Um exemplo disto será o próximo domingo, 2 de fevereiro. Para este dia prevê-se que um vale depressionário pouco intenso e a sua respetiva frente de fraca atividade gerem chuva ou aguaceiros, geralmente fraca e irregular, e um pouco de neve nos pontos mais elevados da principais serras portuguesas.
Porém, é expectável uma descida das temperaturas mínimas noturnas, que permitirão a formação de geada no interior Norte e Centro (distritos de Vila Real, Viseu, Bragança e Guarda) e em algumas áreas montanhosas.
Resta saber se, a médio prazo, chegará alguma massa ou bolsa de ar frio ao nosso país, cenário que é provável com este tipo de situação sinóptica.
Será que o bloqueio anticiclónico vai consolidar-se na próxima semana?
Uma das características deste panorama relaciona-se com o facto de muitos cenários projetarem a deslocação das cristas anticiclónicas para latitudes mais setentrionais, sendo provável a formação de um grande anticiclone de bloqueio até ao final da próxima semana no norte do continente europeu.
Deste modo, o fluxo de Oeste para essas latitudes deverá abrandar, sendo forçado a fluir irregularmente, tanto para norte como para sul. Isto facilitará um fluxo retrógrado que trará ar frio para o leste da Europa e para o Mediterrâneo oriental.
Por outro lado, se este cenário se mantiver por tempo suficiente, as baixas pressões e as massas de ar frio também poderão chegar às imediações da nossa geografia. Teremos de continuar a monitorizar de perto esta nova situação sinóptica que, para já, nos manterá afastados das tempestades atlânticas, mas que a médio e longo prazo poderá permitir o desenvolvimento de outros cenários meteorológicos, também eles típicos do inverno.
Assim, a curto prazo o estado do tempo em Portugal continental já não estará exposto à circulação atlântica clássica, tipicamente marcada pelos ventos de Oeste e Sudoeste. Porém, isto resultará numa situação meteorológica mais complexa de prever, não só no nosso país, mas também em grande parte do continente europeu.