Poderá uma onda de calor instalar-se em Portugal na próxima semana? Eis o que revelam os mapas da Meteored
Portugal escapou esta semana à onda de calor que afetou vários países europeus. Porém, de acordo com as últimas previsões, o sol abrasador e as temperaturas elevadas vão instalar-se na próxima semana no nosso país. Eis as regiões potencialmente mais afetadas.
Esta semana foi caracterizada por duas partes em Portugal continental. A primeira durou dois dias (segunda, 15 e terça, 16) e as condições meteorológicas foram condicionadas pela chegada de uma frente atlântica que produziu bastante nebulosidade e precipitação fraca no Norte e Centro da nossa geografia. As temperaturas nessa dupla jornada do início da canícula revelaram-se bastante amenas para a época do ano de um modo geral, e frescas no litoral Norte.
O vento de Nor-Noroeste proveniente do Atlântico, comummente conhecido como Nortada e que é especialmente ativo durante as tardes de verão, vai soprando com intensidades variáveis no nosso país, estendendo a sua influência desde o litoral - onde é mais decisivo - ao interior. O mar, por sua vez, atua como um elemento termorregulador nas regiões do litoral. O efeito de proximidade destas regiões ao Atlântico faz com que as mesmas não aqueçam nem arrefeçam demasiado.
Na segunda metade da semana, entre quarta (17) e hoje - sexta-feira, 19 de julho - as temperaturas escalaram de maneira acentuada, especialmente nas regiões do interior, desencadeando a ativação de aviso amarelo por tempo quente devido à persistência de valores elevados da temperatura máxima.
Apesar da proximidade geográfica de Portugal continental com Espanha, o aviso de onda de calor foi declarado apenas no nosso (e único) país vizinho, que tal como outros países europeus (Grécia, Roménia, Itália, entre outros), também vai sofrendo com o calor extremo.
A crista norte-africana (altas pressões combinadas com massa de ar muito quente e seco proveniente do Norte de África), que chegou pelo sul-sudeste da Península Ibérica exerceu influência e intensidade em termos de área geográfica abrangida em grande parte de Espanha, mas em Portugal roçou apenas ao de leve, trazendo temperaturas quentes e ligeiramente acima da média ao interior Norte e Centro, Beira Baixa, Alentejo, Faro e Setúbal. Isto desencadeou aviso amarelo por risco moderado de calor, mas não passou disso mesmo.
Fim de semana de tréguas no calor, com chuva e descida das temperaturas
O fim de semana iniciará com descida das temperaturas praticamente de norte a sul de Portugal continental, à exceção do Sotavento Algarvio.
No sábado (20) a passagem de raspão de uma superfície frontal fria, associada a uma depressão situada a norte da Península Ibérica, produzirá chuva fraca e nebulosidade a oeste da Barreira de Condensação, isto é, no Minho (Viana do Castelo e Braga) e Douro Litoral (Porto), em zonas do distritos de Vila Real e Viseu, nas Regiões de Aveiro e Coimbra e, de forma mais pontual no litoral Oeste e na Área Metropolitana de Lisboa.
No domingo (21) o tempo estabilizará e as temperaturas registarão uma pequena subida.
Poderá o evento de temperaturas elevadas da próxima semana em Portugal traduzir-se numa onda de calor?
Tal como explicámos aqui na Meteored nas últimas previsões, a partir de domingo - 21 de julho - as temperaturas voltarão a recuperar e segunda-feira (22) não ficará atrás, prevendo-se nova subida. Até aqui tudo dentro do que é normal no verão no que toca aos valores de temperatura máxima do ar, tendo em conta os mapas de anomalia de temperatura do modelo de referência da Meteored.
Porém, já é possível vislumbrar, para os dias de terça (23) e quarta-feira (24), valores de temperatura máxima substancialmente acima da média climatológica de referência, com várias regiões - inclusive no litoral - a registar até 15 ºC acima do normal, podendo nalguns casos ultrapassar este patamar!
Além da influência do anticiclone e da massa de ar tropical continental, muito quente e seca, proveniente do Norte de África, o vento de Leste (ou Levante) poderá ser outro dos elementos climáticos que ajudará a reforçar o tempo quente e seco e a reduzir a humidade relativa do ar, embora afete apenas parcialmente a geografia de Portugal continental (regiões do interior).
Como a incerteza na previsão meteorológica aumenta substancialmente a partir de quinta-feira (25), ainda não é possível perceber se estarão reunidas as condições para um evento de onda de calor em Portugal continental na próxima semana.
Aquilo que se prevê, isso sim, é que os dias de terça (23) e quarta-feira (24) sejam quentes no litoral (Porto com 33 ºC de máxima) e muito quentes no interior (41 ºC em Castelo Branco e Évora, 40 ºC em Portalegre e Beja, podendo alguns locais do interior ultrapassar estes valores e chegar aos 43 ºC).
Que critérios definem uma onda de calor?
Uma onda de calor é um evento meteorológico extremo que coloca em risco a saúde humana e, em particular, os grupos populacionais mais vulneráveis (idosos, crianças grávidas, entre outros). Devido à sua complexidade muitas vezes só é classificada a posteriori como uma onda de calor, após a devida análise e validação dos dados recolhidos pelas estações meteorológicas oficiais.
Para que um evento de temperaturas elevadas seja classificado como uma onda de calor deve obedecer a uma série de parâmetros (intensidade, duração e extensão geográfica) estabelecidos criteriosamente por instituições legítimas como a Organização Meteorológica Mundial (OMM) ou o IPCC (Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas).
Porém, por vezes, um evento extremo como uma onda de calor pode ser significativamente mais perigoso em termos de impacto de saúde pública quando é observado num período mais curto do que o acima referido, ou seja, inferior a 6 dias.
A título de exemplo, a ocorrência de 3 dias em que a temperatura seja 10 °C acima da média terá certamente mais impacto na saúde humana do que 7 dias com temperatura 5 °C acima da média.