Outono climatológico 2023: o que esperar do tempo para os próximos meses em Portugal?
A 1 de setembro arrancará o outono climatológico. O próximo trimestre é a época do ano em que o frio regressa e a chuva volta a ser protagonista, por vezes de forma torrencial. Eis a previsão sazonal para Portugal!
Setembro é um mês de transição entre o verão e o outono e uma época do ano na qual a atmosfera costuma revelar-se muito dinâmica. Assim, os estados do tempo em Portugal continental são instáveis e exibem uma enorme variabilidade, alternando entre condições meteorológicas secas e calor, ou então um panorama mais fresco ou frio, com chuva e trovoada. Daí o famoso provérbio “Setembro, ou seca as fontes ou leva açudes e pontes”.
Setembro de 2023, com calor e chuva acima da média?
Tal como analisamos na nossa previsão mensal para setembro de 2023 em Portugal continental, Açores e Madeira, a primeira quinzena do mês deverá ser caracterizada por extremos. De acordo com o modelo da nossa maior confiança (ECMWF), prevê-se que o início da primeira metade do mês seja bastante fresco, mas com a possibilidade de terminar muito quente, pelo menos no que toca ao Continente.
Quanto à segunda quinzena, as anomalias térmicas evidenciadas pelos mapas de médio e longo prazo esperam-se mais suaves - isto é - o tempo estará mais quente do que o habitual, mas com uma intensidade mais ligeira, aplicando-se isto quer a Portugal continental, quer aos Açores e à Madeira.
Quanto à precipitação, é importante salientar o seguinte: setembro é um dos meses mais complexos para a elaboração de previsões a longo prazo. A chuva nesta época do ano tanto pode ser extremamente irregular e intensa devido ao aparecimento de gotas frias erráticas e com trajetos incertos - ou seja as sobejamente conhecidas depressões isoladas em altitude, que se descolam do jato polar, trazendo em várias ocasiões trovoada (aguaceiros convectivos); ou precipitando de maneira mais contínua, mas igualmente impactante, sob a forma de depressões atlânticas.
Além disto, a chuva também pode estar totalmente ausente nos meses de setembro, dando origem a um estado do tempo completamente seco e revelando-se como um prolongamento do verão e que, em anos de seca, pode agravar a ‘agonia’ da seca nas regiões cronicamente mais afetadas pela falta de água. Tal como noticiado por diversas vezes, para estes primeiros dias de setembro de 2023 vislumbra-se instabilidade em boa parte de Portugal continental devido ao provável aparecimento de uma gota fria.
No geral, setembro poderá ser mais chuvoso do que o normal, com destaque para partes dos distritos de Castelo Branco, Coimbra, Santarém e Portalegre (10 a 20 mm acima da média). Por último, a desigual distribuição regional da chuva denotada pelo mapa de anomalia de precipitação sugere o possível aparecimento de mais gotas frias, ou outros sistemas de baixas pressões, nas próximas semanas.
Outubro: parecido com setembro, mas com anomalias mais suaves
As primeiras tendências para o mês de outubro de 2023 em Portugal continental apontam para um padrão atmosférico ligeiramente mais quente e húmido do que o normal. Quase todo o país registará até 1 ºC de temperatura acima do habitual, ou seja, valores um pouco mais quentes. As únicas exceções serão as terras junto do litoral atlântico, desde o Cabo Mondego ao Cabo de São Vicente. Para estes locais não se vislumbram quaisquer anomalias, de momento. Nos Açores e na Madeira, espera-se o mesmo que no Continente, isto é, temperaturas até 1 ºC acima da média, para o conjunto global destes territórios insulares.
No que diz respeito à chuva, observa-se uma distribuição pluviométrica muito interessante à escala regional. É de ressalvar, no entanto, que a probabilidade de esta previsão sofrer alterações substanciais é bastante elevada. Ainda assim, é curioso reparar que áreas geográficas como o Minho e o Baixo Alentejo e Algarve, completamente antagónicas no que diz respeito à precipitação anual acumulada, poderão registar níveis de chuva acima da média (até 10 mm).
Além disto, uma significativa porção da geografia do Continente (parte do Centro, Ribatejo e Alentejo Central) também poderá registar uma anomalia de precipitação positiva nestes mesmos moldes. O destaque do modelo Europeu vai naturalmente para parte do distrito de Portalegre (Alto Alentejo), em que parte da área da Serra de São Mamede, bem como a área a norte deste acidente geográfico, poderão receber até 20 mm acima da média mensal de outubro.
Quanto à Madeira, e tal como no Continente, também neste Arquipélago se prevê precipitação até 10 mm acima da média, exceto na parte sul da Deserta Grande e Bugio. Para os Açores, os primeiros sinais revelam um tempo mais seco do que o normal ou com índices de precipitação dentro dos valores de referência, destacando-se com anomalia de precipitação negativa os Grupos Ocidental e Central, ambos com possibilidade de até 10 mm abaixo da média.
Novembro: com temperaturas acima da média e bastante chuvoso?
Tal como para outubro, realçamos o valor incrivelmente baixo e muito pouco fiável destas previsões a longo prazo. Falamos então apenas de um cenário possível, cujas primeiras tendências já se podem acompanhar em traços gerais, já que referirmo-nos previsões meteorológicas a esta distância temporal é praticamente ficção científica!
Ainda assim, eis aqui o que começam a desvelar os modelos meteorológicos para novembro. Tendo em conta a atual carta de anomalia de precipitação para o 11º mês do ano civil e terceiro e último mês do outono climatológico, seria “ouro sobre azul” se este cenário aqui projetado se concretizasse. E porquê? Porque se prevê precipitação acima da média, que seria muito bem-vinda pois estamos a atravessar uma seca grave, especialmente a nível dos solos.
Novembro é um dos meses climatologicamente mais chuvosos do ano e, aquilo que se vislumbra neste momento é um mês no qual poderá chover bastante acima da média, com claro destaque, a nível visual, para as regiões do Minho, Douro Litoral, Aveiro, Vila Real e Viseu, isto é, a oeste da Barreira de Condensação e ligeiramente a norte e a oeste do rio Mondego.
Apesar deste cenário otimista para uma parte significativa de Portugal continental, do Tejo para sul estaríamos a falar de valores de precipitação apenas ligeiramente acima da média ou inclusive dentro do normal. Para os Açores e Madeira não se vislumbra, globalmente, uma anomalia significativa, exceto na ilha do Pico que poderá registar precipitação um pouco acima da média.
Por último, quanto à temperatura, prevê-se uma anomalia térmica positiva suave, com temperaturas entre 0,5 ºC e 1 ºC acima da média em grande parte dos territórios correspondentes a Portugal continental, Açores e Madeira, sendo que na parte menor são esperados valores térmicos dentro do habitual.