Outono 2022 em Portugal: agravamento da seca ou regresso da desejada chuva?
O outono climatológico está quase a começar e o que mais se deseja para Portugal é o regresso da chuva abundante, típica da estação. Entre o risco do agravamento da seca e a chegada de depressões atlânticas, que tempo nos reserva o próximo trimestre?
No próximo 1 de setembro o outono climatológico arranca. Terá início com todo o território assolado por uma seca gravíssima e que se foi acentuando este verão em muitas bacias hidrográficas, o que se repercutiu em medidas restritivas para o uso da água em várias autarquias.
Agora que uma nova estação está, do ponto de vista climatológico, prestes a começar, o que nos contam os modelos “cozinhados” aqui na Meteored sobre o tempo dos meses de setembro, outubro e novembro em Portugal?
Algumas observações climáticas acerca do outono
O outono climatológico (trimestre setembro, outubro e novembro) é um período bastante complexo do ponto de vista meteorológico e climático. As noites têm uma duração maior, a temperatura começa a diminuir, sobretudo no interior e na Região Norte e as geadas já aparecem com maior frequência nas áreas de alta montanha.
Mesmo assim, por vezes, a primeira metade desta estação pode ser um prolongamento do verão. Está a perder os seus traços de estação de transição. Mas, sem dúvida que, o protagonismo do estado do tempo é assumido pela chuva, algo que pode ser comprovado pela Climatologia.
De acordo com a normal climatológica (1971-2000), a precipitação média (273,7 mm) dos outonos climatológicos em Portugal continental é muito superior em relação ao verão (54,1 mm), e revela uma frequência ligeiramente superior em relação à primavera (263,5 mm), sendo por isso, o segundo período mais húmido do ano. As regiões que acumulam mais precipitação, são, em geral, o Minho, a Área Metropolitana do Porto e a Região de Aveiro.
Por último convém realçar que as situações de chuva podem assumir um carácter variável nesta altura do ano: desde trovoadas fortes e granizo, a chuvas torrenciais derivadas de gotas frias ou depressões isoladas em altitude, a rios atmosféricos (ventos ábregos ou de sudoeste) até às primeiras depressões atlânticas da temporada. Este ano muita gente está desejosa da chegada da água.
O início do outono será mais quente do que o normal
Com base nas previsões que manuseamos na Meteored, baseadas no nosso modelo de referência, setembro será um período mais quente que o normal em quase todo o país, prolongando-se o calor que vigorou durante todo o verão. Numa pequena parte do território de Portugal continental, as temperaturas poderão registar valores entre 1 e 1,5 ºC acima da média (Nordeste Transmontano, grande parte do distrito da Guarda, metade oriental do distrito de Castelo Branco e o leste dos distritos de Vila Real e Viseu).
Em boa parte do nosso país, prevê-se anomalia térmica positiva: 0,5 ºC a 1 ºC acima do normal em relação à média climatológica de referência. Isto poderá corresponder a quase toda a região minhota, distrito do Porto, norte e leste do distrito de Aveiro, metade ocidental dos distritos de Vila Real e Viseu, metade leste do distrito de Coimbra, pequena parte do distrito de Santarém, metade ocidental do distrito de Castelo Branco, distrito de Portalegre, distrito de Évora e metade oriental do distrito de Beja.
Em toda a faixa costeira ocidental e Arquipélagos dos Açores e da Madeira não se observam anomalias. Temperaturas ligeiramente inferiores ao habitual apenas estão previstas para pequenas áreas dos distritos de Lisboa, Setúbal, todo o Litoral Alentejano e Barlavento Algarvio. Analisando mais além, ou seja, outubro e novembro, as temperaturas deverão ter tendência para registar valores standard, à medida que o outono for decorrendo.
Em outubro poderão ser registadas temperaturas entre 0,5 ºC e 1 ºC mais elevadas em relação aos valores normais para a época (sobretudo no interior), enquanto que para novembro não se evidenciam anomalias no que concerne à média deste mês em nenhum ponto do Continente, o mesmo se aplicando à Madeira. No entanto, os Açores, deverão registar um período ligeiramente mais quente do que o habitual (anomalia térmica positiva 0,5 ºC a 1 ºC) em novembro.
Outono poderá continuar no mesmo tom dos últimos meses: precipitação inferior ao normal
A chuva é o elemento climático mais desejado neste momento, especialmente para aqueles que profissionalmente dela dependem. Deste modo, é bastante necessário que chegue cá em abundância para atenuar a grave seca que o país atravessa. Apesar da depressão de latitudes polares prevista para os primeiros dias de setembro em Portugal continental, as notícias, para já não são muito boas.
Para setembro perspetiva-se uma acumulação pluviométrica inferior ao normal em praticamente todo o território continental, exceto em pequenas partes do litoral Oeste e Alentejano, em grande parte do Alentejo e em todo o Algarve. Já para outubro e novembro tudo indica que a seca continuará a agravar-se, significando isto que o resto do outono poderá ser muito mais seco do que o normal. Em muitas regiões, já bastante afetadas pela seca, o cenário poderá tornar-se muito delicado do ponto de vista do armazenamento de água.
Para o arquipélago açoriano apreciam-se três cenários distintos no que diz respeito à precipitação: um setembro sem anomalias significativas, um outubro mais seco do que o normal (anomalia negativa -5 a -20 mm) e um novembro tripartido nos diferentes Grupos insulares. O Ocidental (Corvo e Flores - mais seco que o normal), o Central e o Oriental dentro do habitual, com exceção para a Ilha do Pico (Grupo Central - ligeiramente mais chuvosa na sua parte leste).
Quanto à Madeira, prevê-se, em traços gerais, um trimestre mais seco do que o normal, especialmente em setembro e outubro.
“Escudo anti-tempestades” no Atlântico?
As previsões que gerimos na Meteored indicam que, em princípio, não chegarão até à nossa latitude muitas tempestades atlânticas ou com ventos ábregos, já que os mapas antecipam que o anticiclone estará a circular entre os Açores e a Europa Central, bloqueando assim a chegada dos centros de baixas pressões.
Apesar de tudo, deteta-se uma provável corrente de jato mais ondulada e dinâmica, o que resultaria em potenciais bolsas de ar frio ou depressões isoladas em altitude nas redondezas da Península Ibérica.