O vento que mais chuva deixa em Portugal vai entrar impetuosamente na Semana da Páscoa: mais de 150 mm nestas regiões

Os ábregos são ventos quentes e húmidos de sudoeste, associados às advecções que mais chuva deixam em Portugal continental, afetando mais zonas com precipitação do que qualquer outro tipo de advecção.

A partir de quarta-feira (27) as depressões atlânticas irão arrastar ventos do Sudoeste, fazendo com que a chuva seja abundante e abranja toda a geografia do Continente.

Este ano as previsões meteorológicas para a Semana Santa em Portugal estão a revelar-se particularmente complexas graças a uma alteração significativa que ocorrerá na circulação atmosférica em redor da Península Ibérica, já a partir deste próximo fim de semana.

Normalmente, um jato polar ondulante e a proximidade de centros de baixas pressões reduzem a previsibilidade a pequenas escalas. No entanto, em escalas maiores, a configuração sinóptica começa a tornar-se mais definida, bem como a advecção dominante no curto e médio prazo. Tendo isto em conta, já é possível vislumbrar as várias etapas do estado do tempo para a Semana da Páscoa.

Comecemos pelo Domingo de Ramos - 24 de março. Este será o dia em que ocorrerá a primeira mudança significativa. A corrente de jato polar reabsorverá a gota fria que se encontra quase estacionária a sudoeste da Península Ibérica. Isto porque estará praticamente estacionada durante quase 72 horas, a sudoeste do Continente, a produzir condições meteorológicas adversas de aguaceiros, trovoada e granizo nos Arquipélagos da Madeira e das Canárias.

Ao mesmo tempo, ainda no dia 24 de março, uma massa de ar frio polar marítimo descolará do Atlântico Norte, provocando a deslocação do jato polar para latitudes mais meridionais e permitindo o desenvolvimento de depressões nas redondezas de Portugal continental.

As frentes “nascidas” destas depressões barométricas irão atingir diretamente toda a geografia com chuva, vento forte, frio e húmido de Nor-Noroeste e, provavelmente, queda de neve intensa nas principais zonas de montanha das Regiões Norte e Centro. Este panorama meteorológico será bastante notório nos dias de segunda (25) e terça-feira (26).

neve páscoa Portugal
O tempo frio, chuvoso, com neve e vento de nor-noroeste surgirá bruscamente a partir de segunda-feira, 25 de março, mantendo-se durante o dia de terça (26). Esta é a previsão de neve acumulada até à meia-noite de 28 de março.

No entanto, à medida que a semana for avançando, um novo vale depressionário irá estabelecer-se no oceano Atlântico, com as baixas pressões a deslocarem-se em direção às Ilhas Britânicas. As sucessivas frentes que se forem gerando associadas às referidas depressões irão deixar ainda mais chuva, que deverá ser ainda mais abundante. Há uma elevada probabilidade de que se estabeleça um forte fluxo de ventos de sudoeste, os chamados ábregos, que são quentes e húmidos.

Adquirem a sua humidade ao percorrerem um longo caminho marítimo pelo Atlântico subtropical. Por causa do maior teor de humidade, contribuem para um aumento da precipitação, daí que se preveja que a mesma seja mais abundante, sobretudo nas regiões a norte do sistema montanhoso Montejunto-Estrela e, em menor escala, noutras zonas do resto do país. Esta nova massa de ar, por ser mais quente e proveniente de latitudes subtropicais, vai desencadear uma subida das temperaturas.

As fortes rajadas do vento de Sudoeste são outro aspeto do estado do tempo a ter em conta a partir da segunda metade da Semana Santa 2024 no Continente.

As zonas de Portugal continental que poderão registar mais chuva

Comecemos pela Segunda-feira Santa (25) e pela Terça-feira Santa (26): a advecção de nor-noroeste e a possibilidade de um ou vários centros de baixas pressões secundários atingirem Portugal continental diretamente. O país será regado de norte a sul, mas as regiões com maior potencial para receber chuva abundante são aquelas localizadas a oeste da Barreira de Condensação e também as que se situam na Cordilheira Central.

Até ao final de terça-feira - 26 de março - a precipitação acumulada rondará os 20-25 mm nos distritos de Viana do Castelo, Braga, Porto, Aveiro, Coimbra e Castelo Branco, zonas de Leiria e Lisboa, do Litoral alentejano e da Costa vicentina. Em menor escala, esta precipitação afetará o resto da geografia do Continente. O Algarve, o Nordeste Transmontano e algumas zonas do Baixo Alentejo são aquelas zonas onde será menos provável e frequente chover nesse período de dois dias.

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Esta é a previsão da precipitação acumulada até à meia-noite de Quarta-feira Santa, dia 27.

A partir de quarta-feira (27), se o fluxo de ábregos com origem subtropical marítima conseguir estabelecer-se, os valores máximos de precipitação continuarão a acumular-se a norte do sistema montanhoso Montejunto-Estrela, e em particular no Minho e Douro Litoral.

A chuva também irá cair no resto do país, e embora não se preveja tanta abundância nas regiões do interior ou naquelas que se situam a sul do Tejo, as acumulações poderão ainda assim ser bastante significativas.

De acordo com o nosso modelo de referência (ECMWF), a semana da Páscoa poderá ser bastante chuvosa, com uma acumulação de precipitação total possivelmente superior a 100 mm em praticamente todas as regiões e sub-regiões do Norte e Centro do Continente, e potencialmente superior a 150 mm no Minho, Douro Litoral, Região de Aveiro, zonas da Cordilheira Central e as metades ocidentais dos distritos de Vila Real e Viseu.

Vento forte, queda de neve, agitação marítima e riscos associados

Alguns cenários contemplam um rápido desenvolvimento de alguns dos centros de baixa pressão que irão atingir o país. Portanto, apesar da incerteza atual não permitir entrar em pormenores, vai ser preciso monitorizar a evolução destes sistemas devido à possibilidade de temporais de vento e agitação marítima que possam afetar o Continente.

A neve será outro hidrometeoro a ter em conta, tanto pelo seu aparecimento como pelo seu provável derretimento.

Com a situação prevista para o início da semana, poderá cair neve com alguma intensidade acima dos 1000 metros de altitude. Todavia, com a provável chegada de chuva abundante a partir do meio da semana, que estará associada a uma massa de ar quente húmida e temperada, a neve acabará por ficar confinada às cotas mais elevadas.

O derretimento da neve acarreta um risco mais do que significativo de ocorrerem inundações súbitas em rios e outros cursos de água, sobretudo aqueles cujos caudais já estão bastante volumosos após as chuvadas que ocorreram no outono e inverno.