O que ocorrerá após o ciclone-bomba Bert? Eis como afetará Portugal o novo padrão de tempo previsto pelo modelo europeu

Um anticiclone nas latitudes altas, situado sobre a Europa, impedirá a passagem das típicas depressões atlânticas, levando à formação de nevoeiro. Porém, mais tarde, poderão ser gerados outros cenários meteorológicos com circulação irregular de tempestades.

Após a passagem da Depressão Caetano pelo interior de França, o vendaval que afetou grande parte do norte e leste da Península Ibérica nas últimas 24 horas (principalmente Espanha, mas também nalgumas zonas de Portugal continental) diminuiu consideravelmente de intensidade.

Caetano foi uma depressão típica do outono, cujos efeitos foram notoriamente mais significativos em França, onde também se registou um grande nevão. No entanto, é pouco provável que esta situação se repita, uma vez que o panorama meteorológico vai começar novamente a alterar-se em todo o continente europeu.

Nos próximos dias, uma depressão atlântica muito cavada, chamada Bert, posicionar-se-á a oeste das Ilhas Britânicas e um vale depressionário associado e respetiva frente fria estender-se-ão para sul, mantendo-se ao largo da faixa costeira ocidental de Portugal continental e da Galiza.

ciclone-bomba Bert
Este mapa mostra o ciclone-bomba Bert situado a oeste das Ilhas Britânicas e uma frente fria associada, muito extensa e bastante ativa, a penetrar pelo Noroeste da Península Ibérica nas últimas horas do próximo domingo, 24 de novembro.

Esta nova depressão - o “ciclone-bomba” Bert - não se aproximará tanto do Sudoeste Europeu, mas, mesmo assim, provocará um forte temporal de vento nas Regiões Norte e Centro do nosso país, precipitação forte e persistente no arquipélago da Madeira e nas regiões a norte do sistema montanhoso Montejunto-Estrela (Continente) e ainda uma subida generalizada das temperaturas durante o fim de semana. Nas próximas horas e em boa parte do dia de sábado será responsável pelo aviso amarelo nos Açores.

Além disto, também é esperada uma forte agitação marítima. Porém, este grande centro de baixas pressões irá deslocar-se gradualmente para norte, deixando uma grande massa de ar quente e estável sobre a Europa.

Este ar quente em níveis médios e altos dará origem a uma grande crista anticiclónica que cobrirá toda a parte ocidental da Europa, favorecendo a formação de uma grande área de altas pressões (anticiclone) que trará uma semana muito mais estável à geografia de Portugal continental.

padrão de bloqueio portugal
O padrão de bloqueio é o cenário meteorológico mais provável para os últimos dias de novembro.

No entanto, é provável que este anticiclone em crista se estabeleça bem mais a norte do que o habitual, dando origem a um padrão de bloqueio em que o modelo europeu - o modelo de referência da Meteored -, aposta na maioria dos cenários.

Temperaturas amenas, pouca chuva e nevoeiro

Com este panorama em vista, prevê-se que a próxima semana (25 novembro - 1 dezembro) apresente um carácter bastante primaveril, com um estado do tempo ameno, amplitude térmica significativa entre o dia e a noite, e ainda algum nevoeiro que se formará em planícies, planaltos, vales e algumas serras ou montanhas.

A chuva, a ocorrer, ficará restrita às regiões a norte do sistema montanhoso Montejunto-Estrela, não se descartando alguns aguaceiros fracos e ocasional nas zonas mais meridionais, situadas a sul do rio Tejo.

Eis os vários cenários possíveis que à data de hoje se vislumbram para a próxima semana

O reforço deste padrão de bloqueio observado em alguns cenários poderá conduzir a uma nova trajetória das depressões que atingem o Mediterrâneo ou mesmo a uma circulação retrógrada das massas de ar frio provenientes do interior da Europa para atingir esta parte do continente europeu a partir de leste. Se tal acontecer, a probabilidade de um regresso a longo prazo da precipitação ao Mediterrâneo aumentaria consideravelmente.

Neste mapa de anomalia de temperatura é possível observar como na próxima semana as temperaturas continuarão bastante amenas, quer em Portugal continental, quer noutros países da Europa Ocidental.

Outra possibilidade a ter em conta é que este bloqueio não seja particularmente forte e que a crista não atinja latitudes tão altas. Com este panorama, a chuva manter-se-ia escassa em Portugal continental e as temperaturas teriam tendência a descer progressivamente a partir do final da próxima semana, em parte devido à perda de temperatura provocada pela irradiação e, por outro lado, pela chegada de massas de ar ligeiramente mais frias, o que conduziria a um cenário meteorológico algo mais invernal, com possível formação de geada e um tempo mais seco.