O perito Alfredo Graça avisa ao ver os últimos mapas: “Setembro pode trazer trovoadas fortes a Portugal”
Estamos prestes a entrar no outono climatológico, uma estação de transição, conhecida pela sua instabilidade e grande variabilidade de estados de tempo. Conheça o risco de gotas frias, frentes e depressões nas próximas semanas em Portugal.
Agosto está a terminar com temperaturas altas, embora não demasiado excessivas para o verão em grande parte de Portugal continental, sendo que até ao final do mês não se prevê qualquer situação de onda de calor.
Nesta altura do ano estes episódios tendem a tornar-se mais frequentes, anunciando a chegada iminente do outono climatológico, que arrancará já no próximo domingo, 1 de setembro.
Como é que costuma ser o mês de setembro? Bem, “ou seca as fontes ou leva as pontes”
Este provérbio é um dos mais célebres acerca do nono mês do ano e resume na perfeição o que podemos esperar. Em todas as regiões do Continente, a precipitação aumenta substancialmente em relação a agosto, ainda que muitas vezes o seu carácter seja irregular e localmente forte, resvalando numa distribuição geográfica bastante desigual.
Por vezes, há inundações ou deslizamentos de terra em zonas onde deflagraram incêndios durante a estação estival (verão). Isto porque a vulnerabilidade das zonas ardidas à erosão dos solos aumenta por efeito da ausência de vegetação que detém a capacidade de retenção e absorção/infiltração da precipitação. Por tudo isto se diz que pode “levar pontes”.
No entanto, em muitas outras ocasiões, setembro é praticamente um prolongamento do verão. É esta a origem de “seca as fontes” do provérbio, pois a escassez de água e a seca podem acentuar-se.
No que diz respeito às temperaturas máximas, nas regiões do interior tendem a ser, em média, cerca de 3/4 ºC inferiores às de agosto, enquanto no litoral e em ambos os arquipélagos a descida é menor devido ao efeito termorregulador do oceano Atlântico.
Em setembro, o encurtamento dos dias torna-se mais notório, pelo que as noites tendem a ser consideravelmente mais frescas ou frias. Convém também recordar os “verões prolongados” que têm ocorrido nos últimos anos, quando o calor ainda pode ser intenso.
Prevê-se muito calor nas próximas semanas?
As últimas previsões do nosso modelo de referência indicam que, durante a maior parte do mês de setembro, as temperaturas estarão entre 1 e 3 ºC acima da média da estação em grande parte do território de Portugal continental e no arquipélago dos Açores, com anomalias mais moderadas no arquipélago da Madeira, litoral Oeste e Barlavento Algarvio, mas também em zonas do interior como o Alto Alentejo.
No entanto, os mapas mostram que no período de 9 a 16 de setembro as temperaturas situar-se-iam em torno dos valores médios para as datas, e mesmo com anomalias térmicas negativas em zonas do interior de Portugal continental, como por exemplo o distrito de Portalegre. Nas unidades territoriais insulares predominariam as anomalias quentes, sendo mais significativas nos Açores do que na Madeira, caso o atual cenário se mantenha.
Setembro de 2024 tem o potencial de ser instável e tempestuoso
Em primeiro lugar é preciso realçar que setembro é um dos meses mais complexos para fazer previsões a longo prazo no que concerne à variável da precipitação, uma vez que, como já referido aqui na Meteored, tende a ser extremamente irregular e sob a forma de aguaceiros e/ou granizo e trovoada.
O modelo de referência da Meteored aposta numa primeira quinzena de setembro com precipitação potencialmente superior à média em pelo menos metade da geografia do Continente. De acordo com os mapas mais recentes, as anomalias de precipitação mais pronunciadas concentrar-se-iam em todas as regiões do interior, Sotavento Algarvio e arquipélago dos Açores, sendo que as trovoadas, ocasionalmente fortes, poderão fazer manchete.
Para a segunda quinzena, a priori, não se vislumbram anomalias significativas em nenhuma zona de Portugal continental ou arquipélago da Madeira, embora isso provavelmente sofra alterações em futuras atualizações. Somente para os Açores se preveem anomalias positivas de chuva (precipitação acima do normal).
Assim, de acordo com os modelos, parece provável que a metade oriental (regiões do interior) do Continente registe instabilidade meteorológica (trovoadas) na primeira metade de setembro, e os Açores durante quase todo o mês - exceto na primeira semana.
Existe o risco de depressões isoladas em altitude ou gotas frias?
Há sinais cada vez mais evidentes de que a corrente de jato polar poderá apresentar ondulações pronunciadas, o que permitiria a geração de um padrão de bloqueio, a possibilidade de ascensão em latitude da crista anticiclónica e a potencial ‘libertação’ de núcleos de ar frio ou algumas depressões isoladas em altitude (gotas frias) - possivelmente capazes de alcançar a nossa geografia. Por outro lado, este panorama é relativamente frequente nesta época do ano.