O perito Alfredo Graça avisa ao ver os últimos mapas: "Agosto pode trazer algumas surpresas devido a estes fenómenos"
Das fortes trovoadas da reta final de julho à perspetiva de calor intenso no primeiro decêndio de agosto, o modelo de referência da Meteored atualiza as suas previsões para o resto do mês de agosto e parece que poderão ser registadas algumas surpresas.
A canícula em Portugal continental está a decorrer com tempo quente em parte da nossa geografia (avisos amarelos ativos durante vários dias), e com uma ou mais sequências de episódios de temperaturas elevadas (por vezes muito elevadas) que duram alguns dias.
Felizmente, não estão a ser tão persistentes e extremas como nos últimos dois verões. Além disso, as trovoadas apareceram em várias zonas, sobretudo nos últimos dias de julho, descarregando localmente com força e produzindo alguns fenómenos adversos (granizo).
A canícula - período mais quente e seco do ano em todo o país - já está na reta final. É precisamente após o feriado da Nossa Senhora da Assunção que a atmosfera tende a tornar-se mais dinâmica, anunciando a chegada iminente do outono climatológico (1 de setembro), com as noites a ficarem ligeiramente mais frescas, inclusive nas regiões do interior. Será que é isto que vai acontecer nas próximas semanas?
Estará alguma onda de calor à espreita?
De acordo com a última previsão do nosso modelo de referência, as temperaturas para o resto do mês de agosto serão superiores à média em boa parte do país. As anomalias de calor numa parte significativa do território do Continente situar-se-ão entre 1 e 2 ºC acima da média, e poderão mesmo ser mais elevadas nalguns locais do interior Norte (Bragança), Beira Alta (Guarda) e Beira Baixa (Castelo Branco), onde poderão ser registadas temperaturas até 3 ºC acima do normal.
Por outro lado, as anomalias serão mais moderadas no arquipélago da Madeira, no Litoral Norte, no Alentejo, no Sotavento Algarvio e em grande parte do distrito de Santarém (entre 0,5 e 1 ºC acima do normal).
Por último, para o arquipélago dos Açores vislumbra-se uma anomalia de calor substancialmente acima do normal nos Grupos Ocidental e Central (+2 ºC), sendo que para o Grupo Oriental também se perspetivam temperaturas superiores ao habitual, mas com uma anomalia térmica positiva mais suave (entre 1 e 1,5 ºC acima da média).
Teremos por diante umas semanas tempestuosas?
No que diz respeito à precipitação, não é possível observar uma tendência clara, nem no Continente nem nos Arquipélagos. É preciso lembrar que a previsão de precipitação durante estas semanas estivais é complexa, uma vez que é geralmente do tipo convectivo (trovoadas), apresenta um carácter muito repentino, irregular e localizado, e traduz-se em acumulações pluviométricas muito desiguais a curtas distâncias.
Embora o nosso modelo de previsão não apresente anomalias significativas para este mês, parece que haverá algumas exceções. O Grupo Central dos Açores viverá um agosto globalmente mais húmido do que o normal (anomalia de precipitação positiva situada em +5 mm acima do normal).
Um exemplo desta alternância vislumbra-se para o litoral Norte e Centro de Portugal continental. De acordo com os mapas de anomalias médias semanais de precipitação do ECMWF, prevê-se que a semana de 12 a 19 de agosto possa ser ligeiramente mais chuvosa do que o normal nas áreas geográficas acima citadas (Viana do Castelo, Braga, Porto, Aveiro e Coimbra).
Não obstante, a incerteza na precipitação é elevada e a probabilidade deste cenário falhar é tão grande como a de acertar.
Assim, apesar de os mapas apostarem num reforço generalizado da crista subtropical nas condições meteorológicas em Portugal continental (tempo quente, seco e soalheiro), é provável que a corrente de jato polar apresente algumas ondulações, o que poderia originar pontualmente episódios de trovoada mais ou menos localizados. Até mesmo algumas frentes ou linhas de instabilidade procedentes do Atlântico poderiam alterar o balanço pluviométrico do mês numa questão de poucas horas.