O modelo de referência da Meteored mostra uma mudança no padrão meteorológico: como poderá afetar Portugal?
Novembro arrancou com a chegada de várias depressões muito cavadas que foram provocando fortes temporais de chuva, mar e vento em Portugal continental. Contudo, dentro de poucos dias poderá registar-se uma mudança no padrão meteorológico. Eis a previsão!
O mês de novembro arrancou sem grandes mudanças no panorama meteorológico, mantendo-se o desfile de depressões atlânticas muito cavadas (primeiro Ciarán e depois Domingos, no passado fim de semana) que produziram chuva forte, ventos muito intensos com rajadas com força de furacão e temporais marítimos agrestes, com ondas gigantes, nas costas de vários países europeus, incluindo a de Portugal - tanto no Continente, como na Madeira. Bem diferente do início extremamente quente e seco do passado mês de outubro.
O "comboio" de frentes atlânticas traduziu-se em acumulações de precipitação bastante significativas nas zonas bem orientadas para estes fluxos de oeste, destacando-se a situação nas regiões a oeste da Barreira de Condensação, em particular no Minho e Douro Litoral. A precipitação alcançou todo o país, mas a sua distribuição e acumulação foi bastante diferenciada entre regiões. As do Sul foram as menos beneficiadas pela água.
Após a Depressão Domingos, tudo indica que a situação sinóptica que esteve vigente desde meados de outubro irá abrandar substantivamente, com o gradual estabelecimento das altas pressões de novo mais perto da nossa latitude. Ainda assim, destaque-se a provável influência de mais uma tempestade (possivelmente conectada a um rio atmosférico) em meados desta semana, entre quarta, dia 8 e quinta, 9 de novembro, e de alguns dias de precipitação, especialmente na Região Norte de Portugal continental.
Mudança de padrão meteorológico à vista, o que poderá acontecer em Portugal?
Desde sexta-feira 13 de outubro que o padrão predominante é o de NAO em fase negativa, com depressões a circularem em latitudes relativamente baixas, com tempo ameno, ventoso e chuvoso de norte a sul de Portugal, especialmente nas Regiões Norte e Centro e sobretudo na fachada atlântica. Todavia, esta situação deverá alterar-se em breve.
De acordo com o nosso modelo de referência, a partir da próxima semana estabelecer-se-á uma fase positiva da NAO, o que resultaria numa tendência cada vez maior das depressões a circularem para latitudes setentrionais, ao passo que na nossa latitude as altas pressões ganhariam “o comando” progressivamente. Se esta previsão se concretizar, a chuva e a nebulosidade terão tendência a ficar retidas na Região Norte e em particular no Noroeste, isto é, nas regiões a oeste da Barreira de Condensação.
À data de hoje, o cenário mais provável é o de uma situação NAO+ persistente durante uma grande parte do mês de novembro. Aquilo que se pode então esperar é um estado do tempo estável em grande parte das regiões portuguesas, com temperaturas amenas ou frescas durante o dia e frias à noite, destacando-se a formação de geadas no período noturno, em particular no interior e nas zonas montanhosas. Além disto, também é provável a formação de nevoeiro. As frentes associadas às depressões vão, portanto, “passar de raspão” pela Região Norte, chegando dificilmente ao resto do país.
De acordo com os mapas concebidos no Departamento de Meteorologia da Meteored e baseados no modelo que merece a nossa maior confiança (ECMWF), isto traduzir-se-ia eventualmente numa anomalia de precipitação positiva a Norte do sistema montanhoso Montejunto-Estrela e numa anomalia de precipitação negativa a sul deste acidente geográfico. Quanto às temperaturas, prevê-se valores de temperatura dentro da média climatológica de referência, não sendo detetáveis quaisquer anomalias térmicas de norte a sul do território de Portugal continental.
Não obstante, é importante realçar que não significa que o resto do mês seja sempre assim, pois referimo-nos a probabilidades e não a certezas. Alguns cenários não descartam um panorama de bloqueio em latitudes mais elevadas ou uma corrente de jato polar mais ondulada e, caso tal aconteça, o nosso país poderia ser atingido por algumas massas de ar frio. Há que acompanhar as atualizações dos mapas ao longo dos próximos dias.
Terá Domingos sido a última depressão do comboio de tempestades?
De momento, parece que sim, que foi a última. E isto, apesar da previsão da passagem de novas frentes associadas a uma depressão possivelmente suportada por um rio atmosférico na próxima quarta-feira (8). Ainda assim, esta depressão poderá não receber nome, se não encaixar nos critérios que levam os Serviços Meteorológicos a nomear uma tempestade.
Pode ter chovido abundantemente nas últimas semanas em várias regiões de Portugal continental - como o Norte e o Centro, sendo que nalgumas sub-regiões até já existem locais que apresentam solos saturados - mas, em regiões como o Alentejo e o Algarve, que estão numa grave seca crónica há vários anos, seria preciso que chovesse de maneira abundante e generalizada ao longo de vários meses.