O frio ártico dos Estados Unidos vai gerar uma ciclogénese explosiva e um comboio de depressões com efeitos em Portugal

Nos próximos dias, várias depressões que se vão desenvolver graças à entrada de ar ártico proveniente dos EUA, irão atravessar rapidamente o Atlântico devido a uma forte corrente de jato polar, cavando de forma explosiva: como vão afetar Portugal?

Nesta primeira metade da semana a depressão Garoe despejará chuva por todo o território de Portugal, incluindo os Arquipélagos, com o tempo adverso a chegar também à Madeira nesta ocasião. Entre a meia-noite e as 07:00 da manhã desta terça-feira (21) foram registadas 173 ocorrências em território do Continente, a maioria na Região Norte e Algarve. Quanto à Madeira, a depressão Garoe provocou o cancelamento de 11 voos e cinco aviões não foram capazes de aterrar.

Até ao final do dia de quarta-feira, 22 de janeiro, Garoe continuará a agravar o estado do tempo em Portugal continental, sobretudo com chuva, por vezes forte, com granizo e acompanhada de trovoada e agitação marítima. Estas condições meteorológicas obrigaram o IPMA a ativar aviso amarelo de precipitação até às 18:00 do dia 22 para 15 distritos do Continente (exceto Vila Real, Bragança e Guarda) e aviso amarelo e laranja de agitação marítima.

forte agitação marítima
As ondas de sudoeste poderão atingir uma altura máxima de 10 metros na faixa costeira dos distritos de Leiria, Lisboa, Setúbal, Beja e Faro entre a meia-noite e as 09:00 de quarta-feira, 22 de janeiro. O aviso laranja de agitação marítima foi emitido.

O aviso laranja de agitação marítima estará em vigor em 5 distritos (Leiria, Lisboa, Setúbal, Beja e Faro) por serem expectáveis ondas de sudoeste com 5,5 metros de altura significativa, podendo atingir 10 metros de altura máxima entre a meia-noite e as 09:00 da manhã de amanhã, quarta-feira, 22 de janeiro.

Ciclogéneses explosivas no Atlântico com origem nos EUA

A depressão Garoe vai abandonar Portugal continental nas primeiras horas da madrugada de quinta-feira (23), seguindo para Espanha, já bastante enfraquecida. Contudo, o Atlântico apresentará uma atividade ciclónica significativa na segunda metade da semana, com um jato polar muito forte que será favorável aos processos de ciclogénese (algumas delas explosivas) nas zonas de contacto entre o ar polar e o ar subtropical.

jato polar
A primeira tempestade recebeu o nome de Éowyn por parte do Met Office e irá intensificar e cavar de forma explosiva no Atlântico sob uma corrente de jato polar muito forte, com ventos a rondar os 300 km/h a cerca de 9 km de altitude.

Embora o termo ciclogénese possa parecer chocante ou impactante, na nossas latitudes refere-se, na realidade, ao processo de desenvolvimento ou formação de uma tempestade (ou depressão). Segundo o modelo de referência da Meteored, entre quinta (23) e sexta-feira (24) e entre sábado (25) e domingo (26), duas depressões que irão ‘nascer’ a leste dos EUA vão provavelmente cavar de forma explosiva a norte dos Açores, deslocando-se rapidamente para as Ilhas Britânicas.

A primeira depressão, denominada Éowyn pelo Met Office, desenvolver-se-á a leste da costa da Flórida, na zona de contacto entre o ar ártico que está a provocar temperaturas negativas em vários estados americanos e o ar subtropical do Golfo do México.

Estes processos intensos ocorrem normalmente sob uma forte corrente de jato polar nesta faixa onde interagem massas de ar quente e frio. As consequências mais adversas destas tempestades são esperadas nas Ilhas Britânicas, que receberão o seu impacto, enquanto Portugal continental estará longe do seu centro. No entanto, os seus efeitos também se farão sentir no nosso país.

Quais são os efeitos prováveis em Portugal? Eis o que revelam os mapas

Várias frentes muito ativas associadas a estas baixas pressões atlânticas vão atravessar Portugal continental, distribuindo chuva de noroeste para sudeste em grande parte da nossa geografia, prevendo-se que seja mais abundante nas regiões a norte do sistema montanhoso Montejunto-Estrela. Prevê-se que a precipitação volte a cair nas regiões a sul do Tejo, incluindo o Algarve, especialmente no sábado (25).

chuva fim de semana
Várias frentes associadas a estas depressões irão despejar chuva, que será mais abundante nas regiões a norte do Mondego e a oeste da Barreira de Condensação.

Quanto à neve, esta ficará limitada aos pontos elevadas da montanha mais alta de Portugal continental - Serra da Estrela -, já que o anticiclone dos Açores e estas depressões vão impulsionar ventos de Oeste e Sudoeste, muito húmidos e amenos, que atravessarão o Atlântico, pelo que as temperaturas manterão valores acima da média para a época do ano.

Entre sexta-feira (24) e sábado (25) preveem-se rajadas fortes (50-75 km/h) nas regiões a norte do rio Mondego, mas é para domingo (26) que se espera um aumento da intensidade do vento em grande parte da nossa geografia, se o cenário atual se cumprir. Por exemplo, para as terras altas e montanhosas do Minho são esperadas rajadas até 95 km/h.

Tanto para sábado (25) como para domingo (26) espera-se novamente uma situação de temporal marítimo, com mar muito agitado ao longo de toda a faixa costeira ocidental portuguesa, especialmente a norte do Cabo Carvoeiro, estando previstas ondas que podem atingir uma altura máxima entre 6 e 10 metros.

Há alguma expectativa perante a possível evolução de uma terceira tempestade

A incerteza é maior quanto à evolução de um outro processo de ciclogénese no Atlântico durante este fim de semana, que daria origem a uma tempestade que circularia mais a sul do que as outras duas. Os modelos projetam vários cenários, que vão desde um cavamento súbito ou explosivo até à absorção pela depressão do Reino Unido.

A incerteza na previsão meteorológica é maior quanto ao terceiro centro de baixas pressões, que circulará previsivelmente mais a sul do que os anteriores.

Outros cenários, por outro lado, revelam que a referida depressão poderia chegar viva ao noroeste da Península Ibérica (Galiza e Minho) no início da próxima semana, provocando um temporal de chuva e vento que afetaria principalmente as Regiões Norte e Centro de Portugal continental.

Tudo indica que as temperaturas amenas com ventos de Oeste irão prevalecer até ao final do mês de janeiro, mas, alguns mapas, já intuem a possibilidade de entradas de ar frio que poderão coincidir com a chegada de fevereiro.