Nova depressão, muito cavada e anómala, chega a Portugal no domingo: poderá tornar-se um ciclone subtropical?
Há já muito tempo que não se testemunhava o desenvolvimento de uma depressão tão cavada perto do litoral algarvio, pelo que alguns fenómenos associados poderão ser surpreendentes. Eis a análise da sua evolução.
Ao longo do próximo domingo - 22 de outubro - ocorrerá uma nova situação sinótica bastante incomum no domínio meteorológico respeitante a Portugal continental. Espera-se, assim, o desenvolvimento de uma nova depressão em condições muito estranhas, com um jato de latitudes médias a circular mais a sul do que o normal, ao qual se acrescentam umas águas do Atlântico extremamente quentes.
Isto constitui um panorama pouco comum, responsável por condicionar o estado do tempo no nosso país durante toda a semana que está agora a terminar, esperando-se que continue por mais uns 8 a 10 dias. O facto de uma depressão ser anómala não significa necessariamente que seja adversa, mas é necessário considerar a possibilidade de alguns fenómenos ocorrerem de maneira inesperada em certos locais, ou até mesmo com intensidades inesperadas.
Entre domingo (22) e segunda-feira (23) prevê-se a chegada de uma depressão muito cavada e anómala. Trata-se da mesma depressão que está agora mesmo a afetar os Açores, passará de raspão entre sábado (21) e domingo (22) na Madeira ao “mergulhar” para sudeste e depois, ao descrever uma nova mudança na sua trajetória, para nordeste, deverá intensificar-se, prevendo-se que atinja "em cheio" Portugal continental a partir do Algarve.
Este processo de intensificação é “denunciado”, entre tantos outros fatores, pela diminuição bem percetível da pressão mínima central atmosférica. Espera-se que passe dos 1008 hPa para 990 hPa desde o momento em que primeiramente afetou os Açores até ao momento em que alcançar o Sul de Portugal continental.
Esta é então uma típica depressão extratropical que está a percorrer as águas invulgarmente quentes do Oceano Atlântico, fator que poderá resultar na alteração do seu processo de ciclogénese, acrescentando uma atividade convectiva significativa à sua circulação. Em certos momentos do seu ciclo de vida poderá mesmo vir a adquirir algumas características subtropicais, tal como sugerem alguns modelos.
A probabilidade de formação de um ciclone subtropical a partir desta depressão é bastante baixa: inferior a 20% de acordo com o produto IFS do ECMWF. Contudo, a injeção “extra” de humidade e de convecção poderá favorecer uma intensificação adicional precisamente antes de atingir Portugal continental, mesmo após ter alcançado a sua fase de oclusão e de deixar o núcleo desprovido das suas frentes.
Chuva forte e trovoada
A incerteza na posição exata deste novo centro de baixas pressões proveniente do Atlântico será um fator-chave na compreensão do impacto real que a chuva terá nas várias regiões do país e é algo que se detetará melhor ao longo do dia de sábado (21), quando os modelos de alta resolução começarem a trabalhar com o panorama meteorológico de domingo (22) e segunda-feira (23).
Com o cenário mais provável - projetado atualmente - a chuva mais forte deverá, numa primeira fase (correspondente à segunda metade de domingo, dia 22) ocorrer nas regiões a sul do sistema montanhoso Montejunto-Estrela, isto é, Algarve, Alentejo, Lisboa e Vale do Tejo e Sado e Beira Baixa.
Já nas primeiras horas da madrugada e manhã de segunda-feira, dia 23, com a depressão a rodopiar para nordeste, prevê-se que a precipitação também seja intensa nas regiões a norte da Serra da Estrela, em particular nas áreas montanhosas do Minho, da Região de Aveiro, dos distritos de Vila Real e Viseu, e na Beira Alta e no Nordeste Transmontano. No Litoral Norte e Centro a quantidade de chuva também se estima significativa.
Em apenas 24 horas muitos locais destas regiões irão ultrapassar facilmente os 40 mm acumulados, não se descartando valores de precipitação acumulada localmente superiores, especialmente nas áreas de montanha. Além disso, há risco de ocorrência de trovoadas ocasionais e queda de granizo, que poderão aumentar a intensidade da precipitação e do vento.
Vento intenso e forte agitação marítima na costa algarvia e litoral alentejano
Outro elemento climático a ter em conta por causa da intensificação adicional desta depressão é o vento. Como já mencionamos acima no artigo, é uma depressão muito cavada para a área em que irá surgir, apresentando uma pressão mínima central a rondar os 990 hPa e um forte gradiente. Isto traduzir-se-á, potencialmente, em vento bastante forte.
Para domingo (22) estão previstas rajadas entre 45 e 70 km/h em vastas áreas do litoral e interior do Centro e Sul de Portugal continental, tais como Lisboa e Vale do Tejo e Sado, Beira Alta, Beira Baixa, Alto Alentejo e Alentejo Central. No Baixo Alentejo e no Algarve as rajadas ainda serão mais poderosas, podendo atingir velocidades máximas entre 70 e 90 km/h. Não se descarta que os 90 km/h sejam pontualmente superados.
Atenção também ao temporal marítimo que deixará o mar muito revolto na costa sul de Portugal continental e também nos pontos mais meridionais da faixa costeira ocidental. Ali prevê-se ondas entre 5 e 7 metros de altura, podendo atingir 8 metros de altura máxima significativa.