Neve a caminho dos Açores para o Dia de São Valentim? Meteored analisa a possibilidade deste fenómeno para o arquipélago
As últimas atualizações dos mapas preveem possibilidade de queda de neve para os Açores nesta sexta-feira, 14 de fevereiro e Dia de São Valentim. A Meteored analisa onde e quando poderá nevar. Saiba a previsão completa!
Nas últimas saídas do modelo de confiança da Meteored têm-se vislumbrado perspetivas de queda de neve no arquipélago dos Açores entre as últimas horas de quinta (13) e as primeiras horas da madrugada e manhã de sexta-feira, 14 de fevereiro e Dia de São Valentim.
Apesar da ocorrência deste fenómeno não ser inédita no referido território insular português, a neve cai com alguma frequência na montanha do Pico (2351 metros de altitude). Como todos sabemos, a montanha do Pico é a mais alta entre as 9 ilhas do arquipélago e de toda a geografia de Portugal e a temperatura do ar desce proporcionalmente ao aumento da altitude (desce 0,6 ºC a cada 100 metros).
Abaixo analisamos as possibilidades de queda de neve nos Açores para este Dia de São Valentim, tendo em conta o extraordinário evento de ar frio - massa de ar polar proveniente de latitudes setentrionais - que invadirá o arquipélago de quinta (13) para sexta-feira (14). Além do ar frio, uma frente associada a uma depressão deixará precipitação.
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Além da expectável descida da temperatura provocada pela massa de ar polar, que baixará os termómetros em toda a Região Autónoma dos Açores para valores bem abaixo da média climatológica de referência, corroborando a previsão avançada pela Meteored na última semana em relação à anomalia térmica negativa esperada para os Açores na semana de 10 a 17 de fevereiro, prevê-se ainda ocorrência de precipitação, maioritariamente sob a forma de chuva. Mas será que vai haver precipitação sob a forma de neve?
As características do clima açoriano (subtropical húmido - classificação climática de Trewartha; ou temperado atlântico - classificação climática Köppen-Geiger) não favorecem a queda de neve como a que ocorre em Portugal continental, ou em qualquer outro país cuja massa terrestre seja mais extensa.
Comecemos pela variável da precipitação. Os mapas de precipitação e de probabilidade de precipitação preveem a ocorrência de precipitação nos Açores entre as últimas horas de quinta (13) e durante o dia de sexta-feira (14). Porém, uma grande parte dela deverá ser sob a forma de chuva e não de neve.
Passemos agora para as variáveis que dizem respeito diretamente à neve: cota de neve, profundidade da neve, neve e neve acumulada. O mapa das cotas de neve parece validar a queda de neve para os Grupos Ocidental e Central, excluindo o Oriental, ao colocar a possibilidade de queda de neve a partir dos 900 metros de altitude no período que já referimos (últimas horas de quinta, 13 de fevereiro e madrugada e manhã de sexta-feira, 14 de fevereiro).
Mas quando olhamos os mapas da profundidade da neve, neve e da neve acumulada, aprecia-se uma acumulação muito residual apenas para a ilha do Pico (entre 1 e 5 cm) para o período em análise.
Se olharmos para os mapas da temperatura a 850 hPa (que é o mesmo que a temperatura aproximadamente a 1500 metros de altitude), a queda de neve parece ser validada para os Grupos Ocidental e Central uma vez que se observam valores negativos da temperatura a esta altitude sobre as ilhas que pertencem aos referidos Grupos, corroborando a hipótese avançada pelo que se observa na previsão do mapa da cota de neve.
Que está e ainda vai ficar efetivamente mais frio do que o normal nos Açores, já todos os mapas de temperatura (anomalia de temperatura e temperatura a 850 hPa) o mostram.
Mas não é só a temperatura do ar (estar muito frio) e a sua combinação com a precipitação que provoca a queda de neve. Há outros fatores de índole geográfica e climática, gerados a partir da observação direta do terreno que devem ser tidos em conta, e não somente aquilo que é modelado e previsto pelos mapas meteorológicos. Então, o que é que os mapas nos estão a tentar dizer?
Sim, há possibilidade de queda de neve para os Açores. Mas quão provável será e em que locais?
O mapa de temperatura do ar a 2 metros (superfície) parece deitar por terra qualquer aspiração que os açorianos possam ter em observar queda de neve esta sexta-feira (14) e Dia de São Valentim. Os valores da temperatura do ar previstos são demasiado elevados para que ocorra queda de neve (os mais baixos sendo 6 ºC no Norte Grande - São Jorge; São Roque do Pico - Pico; ou Serreta - Terceira).
Embora os modelos sejam bastante precisos nas suas previsões hoje em dia, não conseguem muitas vezes apurar corretamente as diferentes elementos climáticos (temperatura do ar, precipitação, vento, etc) que compõem as previsões meteorológicas para locais muito específicos, sobretudo em territórios que apresentam relevos e topografias como as que os Açores possuem.
Os seguintes fatores geográficos e climáticos dos Açores, como a latitude do arquipélago, a orografia e altitude das diferentes ilhas (este fator é muitas vezes desprezado pela previsão determinista dos modelos, dado que ignora o papel vital que a altitude e o relevo desempenham na possibilidade de queda de neve) e o facto da temperatura do ar a 2 metros prever valores superiores em graus Celsius (ºC) ao que é preciso para nevar provocam bastante ceticismo quanto à possibilidade de queda de neve para sexta-feira, 14 de fevereiro.
De facto, como já foi referido, os mapas de referência da Meteored antecipam neve para os Açores nesta sexta-feira, 14 de fevereiro, mas apenas para a montanha do Pico (ilha do Pico).
Sim, para o Pico (ilha do Pico), de momento, prevê-se neve esta sexta-feira (14). E nas restantes ilhas? É bastante improvável, porém a meteorologia já nos mostrou por diversas vezes que há lugar para surpresas.
Deste modo, com o timing necessário, é possível que o caos (Teoria do Caos) associado às várias variáveis meteorológicas possa permitir queda de neve nos locais mais altos das ilhas dos Grupos Ocidental e Central, tais como o Morro Alto (Flores), Cabeço Gordo (Faial), Pico da Esperança (São Jorge), Serra de Santa Bárbara (Terceira), mencionando apenas alguns. De qualquer das formas, a ocorrer, seria em quantidades residuais e pouco significativas.
A neve que eventualmente possa sair em estado sólido das nuvens, chegaria líquida ao solo, derretendo muito rapidamente. O relevo da generalidade das ilhas dos Grupos Ocidental e Central não é suficientemente elevado e acidentado para reter o ar frio que manteria a neve.