Modelo de referência da Meteored revela mudança no padrão: eis como poderá afetar Portugal para o resto de fevereiro
Fevereiro arrancou estável, seco, soalheiro e com temperaturas acima da média. Mas a passada quarta-feira (7) trouxe mudanças no padrão meteorológico, com chuva, vento e agitação marítima a desencadearem múltiplos avisos em Portugal continental. Irão as próximas semanas ser meteorologicamente instáveis?
O mês de fevereiro manteve a toada de janeiro e arrancou meteorologicamente estável, seco, soalheiro e com temperaturas acima da média, para além da presença de poeiras do Saara em suspensão e elevados níveis de pólenes de amieiro.
Isto deveu-se, em grande medida, a um poderoso bloqueio anticiclónico que manteve a sua influência durante praticamente três semanas nas proximidades de Portugal continental, o que contribuiu para temperaturas significativamente acima da média e para a geração de uma quase inédita onda de calor em janeiro no nosso país, a maior desde há 83 anos.
Porém, esta quarta-feira (7) a estabilidade na nossa geografia foi finalmente interrompida devido ao enfraquecimento do anticiclone. Com o afastamento das altas pressões, o céu ficou gradualmente encoberto, as temperaturas baixaram ligeiramente e ocorreu a aproximação e queda dos primeiros pingos de chuva associados às frentes frias da Depressão Karlotta - tempestade atlântica nomeada pela AEMET.
Hoje - quinta-feira, 8 de fevereiro - e amanhã - sexta-feira, 9 de fevereiro - serão os dias em que o estado do tempo no nosso país se revelará mais adverso. A Depressão Karlotta, ligada a um rio atmosférico que transporta humidade extra e que reforçará o carácter abundante e persistente da precipitação, não atingirá diretamente Portugal continental, mas a sua frente fria associada sim.
A robusta superfície frontal fria, aliada ao rio atmosférico, provocará um autêntico temporal, lembrando-nos que ainda estamos no inverno. Isto porque além da chuva forte, preveem-se ventos intensos, com rajadas quase com força de furacão em diversas zonas do país e agitação marítima.
Para os dias seguintes, entre sábado (10) e terça (13) espera-se uma manutenção da instabilidade, mas já associada a diferentes tipos de massas de ar que, entre outros elementos climáticos, poderão trazer precipitação sob a forma de neve.
Mudança para um padrão meteorológico chuvoso: será algo temporário ou uma tendência para as próximas semanas?
A partir desta quinta-feira (8), Portugal continental “mergulhará” num breve período condicionado por frentes e depressões atlânticas, esperando-se condições meteorológicas adversas - chuva, vento, descida das temperaturas para valores mais típicos do inverno, neve e agitação marítima - com as devidas possíveis consequências que isso traz para a paisagem, isto é, o risco de inundações em zonas historicamente vulneráveis, cheias em áreas e/ou rios transbordáveis e/ou queda de árvores e infraestruturas.
Além dos mapas de anomalias mensais de temperatura e de precipitação da Meteored, que atualizaram recentemente (dia 5) e que mostram mudanças significativas em relação à anterior previsão lançada para o mês de fevereiro, os mapas de anomalias de precipitação e temperatura semanais mostram a mesma tendência para Portugal continental: as próximas semanas não só serão mais chuvosas em relação à média climatológica de referência de norte a sul da geografia, como também as anomalias de temperatura serão positivas e bastante pronunciadas.
De acordo com a atual previsão do mapa da Meteored para a precipitação, o que salta logo à vista é que as anomalias mais pronunciadas poderão ocorrer nos distritos de Viana do Castelo, Braga, Porto, Aveiro, Coimbra, Vila Real, Viseu, Guarda, Leiria e Castelo Branco, onde poderão cair até 50 mm acima da média. Do lado oposto, a anomalia de precipitação mais suave prevê-se para os distritos de Beja e Faro: entre 10 e 20 mm acima do normal. Para as restantes regiões do país são esperados entre 20 e 50 mm de chuva acima do habitual.
Quanto à cartografia respeitante às anomalias de temperatura, o mapa da Meteored aponta para temperaturas significativamente acima da média no que resta de fevereiro. Para mais de 80% da geografia do continente estimam-se temperaturas até 2 ºC superiores ao normal. As únicas exceções parecem ser as zonas correspondente ao Litoral Norte e ao Nordeste Transmontano, onde se estimam anomalias térmicas mais suaves.
Apesar da neve prevista para o fim de semana do Carnaval, fevereiro poderá registar calor acima da média
Portanto, deitando um olhar pelos mapas da Meteored, conclui-se que, de um modo geral, tudo aponta para que fevereiro de 2024 seja um mês significativamente mais quente e mais chuvoso do que o normal de norte a sul de Portugal continental.
Tendo isto em conta, para averiguar se as mudanças reveladas pelos mapas de previsão semanal e mensal são atestados por outras fontes do nosso modelo de referência (ECMWF), decidiu-se analisar os gráficos de probabilidades de regimes meteorológicos de longo prazo, onde surgem os vários possíveis regimes vigentes e quais aqueles que poderão impor-se nestas próximas semanas até ao final de fevereiro.
Possibilidade da NAO entrar em fase negativa na reta final do mês, o que significa isto?
Para os próximos dias (8 a 13 de fevereiro) estará em vigor o padrão NAO em fase negativa (assinalado a verde no gráfico abaixo), o que significa que frentes e depressões atlânticas estarão a circular em latitudes relativamente baixas, como a nossa. Isto vai de encontro precisamente à previsão meteorológica dos próximos dias: tempo chuvoso, ventoso, com agitação marítima, variabilidade nas temperaturas e até mesmo queda de neve, com o tempo instável a abranger todo o território de Portugal continental.
Mas, de acordo com o gráfico de probabilidades de regimes meteorológicos de longo prazo, o padrão de bloqueio anticiclónico (assinalado a vermelho) voltará a ganhar força entre os dias 13 e 23, o que resultaria num estado do tempo novamente mais estável e com menor probabilidade de precipitação no nosso país.
A Oscilação do Atlântico Norte (NAO), ou North Atlantic Oscillation, é um índice de circulação atmosférica que mede as flutuações da diferença de pressão entre a Islândia e os Açores. Tem duas fases: positiva e negativa.
Contudo, a partir de 24 de fevereiro e até pelo menos 1 de março, a NAO em fase negativa (ou NAO-) poderá voltar a afirmar-se, trazendo, outra vez, um período chuvoso e de instabilidade meteorológica como aquele que Portugal continental irá viver entre 8 e 13 de fevereiro.