Modelo de referência da Meteored confirma o bloqueio: “abril vai arrancar com tempestades direcionadas para Portugal”

As altas pressões prevalecerão até ao fim de março. Porém, a corrente de jato polar continuará ondulante, sendo favorável ao aparecimento de novas situações meteorológicas associadas ao padrão de bloqueio: saiba os possíveis efeitos para Portugal!
Ao longo desta última semana de março o anticiclone regressou a uma posição que lhe permite abranger toda a geografia de Portugal continental, bloqueando o fluxo extraordinariamente persistente de tempestades atlânticas que nos acompanhava desde o início de março.
A nova situação meteorológica, agora dominada pelo anticiclone, resultou num estado do tempo geralmente seco, estável e soalheiro, com geada em locais do interior Norte e Centro e formação de nevoeiro matinal em várias regiões costeiras. Apesar do panorama predominantemente anticiclónico no nosso país, a instabilidade localizada ainda surgiu nalguns locais montanhosos do interior do território, mas com muito pouca frequência e intensidade.
A corrente de jato polar vai continuar a ‘serpentear’
O jato polar continua a evidenciar muitas ondulações e o atual centro de altas pressões não é estacionário nem tem uma crista subtropical típica a suportá-lo. A ausência destas características fará com que o anticiclone, muito móvel, se vá deslocando gradualmente para norte e leste, rumo ao interior da Europa nos próximos dias.

Para este fim de semana, a configuração sinóptica consistirá na progressiva instalação de uma massa de ar quente sobre o nosso território, na subida gradual das temperaturas associada à massa de ar, na mudança de quadrante do vento que passará a soprar de Leste, e à (ainda) influência das altas pressões.
Também designado de corrente de jato ou “jet stream”, trata-se de um canal em forma de tubo de ventos muito fortes que corre a cerca de 9-16 km acima da superfície da Terra. Pode ser visto como um rio de ar que flui “acima das nossas cabeças” com velocidades de 100-250 km/h e milhares de quilómetros de comprimento, mas apenas alguns quilómetros de largura.
O panorama atmosférico vai continuar a revelar uma grande dinâmica na próxima semana - a primeira de abril - com as altas pressões a espalharem-se cada vez mais para latitudes setentrionais, sobre várias outras regiões da Europa.

As massas de ar frio deverão deslocar-se para a metade Sul do continente europeu, afetando as partes oriental e central do Mediterrâneo, ao passo que as tempestades atlânticas poderão começar a aproximar-se novamente do Sudoeste Europeu - isto é - de Portugal continental, Espanha e partes de França.
Mais calor e risco de trovoadas. Também está à vista a possibilidade de uma intrusão de poeiras do Saara
A primeira mudança significativa será sentida gradualmente nas próximas 72 horas. O ar frio retirar-se-á definitivamente da Península Ibérica, sendo substituído por uma massa de ar substancialmente mais quente procedente do Atlântico subtropical e do Norte de África, impulsionada por uma depressão que começará a rondar o arquipélago dos Açores.
A subida das temperaturas já será notada em Portugal continental neste último fim de semana de março, mas o calor será mais considerável no dia de segunda-feira, 31 de março, sobretudo nas Regiões Norte, Centro, Área Metropolitana de Lisboa e Alentejo.
As temperaturas máximas mais elevadas, de 24 a 25 ºC, estão previstas para as capitais de distrito de Braga, Coimbra, Leiria e Santarém. Apenas para o Algarve não se prevê um aquecimento do tempo para esse dia, com as mínimas a baixarem e as máximas a baixarem ou manterem-se iguais.

Na Região Norte a subida das temperaturas será especialmente acentuada numa questão de dias, dado que entre hoje - sexta-feira, 28 de março - e a próxima segunda-feira, dia 31, prevê-se que as máximas de vários distritos nortenhos registem uma subida de até 5 ºC.
Nas restantes regiões do Continente essa subida não será tão impactante. Além disto, prevê-se a possibilidade de ocorrência de intrusão de poeiras do Saara, caso os ventos de Sul e Sudeste sejam suficientemente robustos à superfície - algo que ainda está por determinar.
As primeiras trovoadas desta estação, com as típicas nuvens de desenvolvimento vertical de evolução diurna que costumam ocorrer na primavera e no verão, poderão crescer de forma dispersa em algumas zonas do interior da geografia de Portugal continental.
Apesar de não estar previsto que sejam particularmente fortes e abrangentes em termos de área geográfica, não se deve excluir a possibilidade de aguaceiros convectivos, dispersos e ocasionais, durante as tardes da próxima semana, especialmente entre quinta (3) e sábado (5).
Estes aguaceiros convectivos (precipitação, por vezes de granizo e acompanhada de trovoada) serão mais prováveis nas zonas montanhosas, mas a sua localização e intensidade dependerão de fatores locais que terão de ser determinados à medida que nos aproximamos das datas previstas da sua ocorrência.
Estes serão os possíveis efeitos do padrão de bloqueio em Portugal
Esta dinâmica vai arrastar-se ao longo dos primeiros de abril, num cenário que é confirmado pelos mapas do modelo de confiança da Meteored - o ECMWF -, que prevê um padrão de bloqueio (altas pressões) bem estabelecido sobre o norte da Europa e os sistemas de baixas pressões que o desgastam a sul. Dependendo da evolução desta situação sinóptica, é possível que o nosso país se depare perante dois cenários igualmente prováveis.
No primeiro cenário, o anticiclone em crista impediria a chegada de depressões até Portugal continental (mas não aos Açores e quiçá à Madeira).
Porém, estas poderiam aproximar-se o suficiente para continuarem a deixar um estado do tempo ameno e ligeiramente instável no Continente, eventualmente devido ao aparecimento de pequenas frentes e/ou vales depressionários, ou até mesmo pequenas depressões isoladas em altitude ou gotas frias, com o potencial de produzirem aguaceiros convectivos, com uma distribuição muito irregular e incerta pelo nosso país.

No segundo cenário o bloqueio poderia ser desgastado a ponto de poder gerar uma circulação com precipitação algo mais generalizada e uma descida das temperaturas.
Graças à complexidade da situação, a previsão meteorológica para a próxima semana continuará a evidenciar um elevado grau de incerteza. Todavia, todos os cenários parecem concordar no seguinte: ainda não é para já que ocorrerá o estabelecimento prolongado de uma grande estabilidade atmosférica.