Massas de ar quente deixarão uma segunda quinzena incomum em Portugal
Com o recente episódio de chuva que regou quase todo o país, é normal que muita gente questione se o tempo invernal ainda irá, ou não, chegar a Portugal continental antes do final de fevereiro. O que mostram as tendências meteorológicas para as próximas semanas?
Até agora, fevereiro de 2022 deu continuidade ao padrão atmosférico incrivelmente estável, seco e soalheiro do passado mês de janeiro. À exceção da superfície frontal fria que trouxe chuva generalizada às Regiões Norte e Centro de Portugal continental no dia 13, conseguindo perfurar o poderoso anticiclone de bloqueio estacionado nas nossas latitudes há várias semanas, o panorama meteorológico que se augura para a segunda quinzena de fevereiro não se afigura nada animador.
Chuva residual e o porquê da persistência deste padrão atmosférico em Portugal
Se deitarmos um olhar pelos mapas semanais de tendência do tempo para a próxima quinzena (14-20; 21-28 de fevereiro), quer os de geopotencial quer os de temperatura e precipitação, evidencia-se uma clara ausência de padrões de circulação atmosférica que antecipem a chegada de chuva abundante e generalizada.
Quanto muito poderão chegar até ao nosso país superfícies frontais, já muito debilitadas, ao norte do país, a regiões como Minho e Douro Litoral. Não se descarta tampouco a possível formação de alguma depressão isolada em altitude que poderia chegar ao sudoeste de Portugal continental ou à Madeira, mas sempre com reduzida probabilidade de precipitação generalizada.
Pelo contrário, a persistência do regime do anticiclone de bloqueio e suas cristas associadas vão impedir a chegada de tempestades e superfícies frontais ativas com chuva às regiões mais carentes de água. É seguro afirmar que naquilo que resta de fevereiro o tempo estará muito mais seco do que o habitual de norte a sul de Portugal continental, destacando-se de forma evidente o Minho. Como costuma ser a região mais chuvosa, o padrão seco fará com que registe a maior anomalia negativa em relação à normal climatológica de referência.
Saliente-se que estes mapas de tendências são de médias a 7 dias. Isto suaviza as potenciais incursões de ar de Norte (frio), ou do Sul (quente), de um ou outro dia em específico. O grau de incerteza e a fiabilidade decrescem conforme nos afastamos do horizonte temporal de previsão ou tendência.
E quanto às temperaturas? Em quase todo o país já parecerá primavera
Quanto às temperaturas, já podemos referir-nos a uma “primavera antecipada” devido à chegada precoce do calor. Há espécies que já estão em flor em várias regiões do país. Aliás, ainda no decorrer desta semana, graças à chegada de uma massa de ar subtropical veremos os termómetros a atingir valores muito invulgares para o mês de fevereiro. Várias cidades com máximas entre 18 ºC a 20 ºC (ou até mais), especialmente de Coimbra para sul.
Pontualmente, algumas localidades do Ribatejo, Baixo Alentejo e Algarve poderão atingir 23 ºC ou mais antes do final de fevereiro. Estes serão valores térmicos absolutamente invulgares e acima da média para a estação do ano, potenciados pelas massas de ar quente subtropical vindas de Sul e que farão disparar os termómetros, aspeto esse ainda mais acentuado pelo facto de que agora ganhamos cada vez mais minutos de luz solar diariamente. Teremos, assim, duas semanas mais quentes que o normal, com sinal de anomalia positiva bem saliente.
Que consequências para Portugal, caso estas previsões se confirmem?
Em suma, não estão previstas situações de precipitação generalizada no horizonte meteorológico ao recorrermos às tendências, por semana, do tempo. As temperaturas subirão gradualmente, não só graças às massas de ar quente, como também por estarmos num período em que o sol está cada vez mais elevado no horizonte.
Além disso, outro dos aspetos mais importantes a mencionar é a seca. A seca meteorológica poderá agravar-se substancialmente, porque mais do que a ausência de precipitação, isto poderá provocar e acentuar outros tipos de seca (a hidrológica, agrícola e socio-económica).
Aliás, com o lento e gradual aumento das temperaturas, bem como os ventos localizados, a temporada de incêndios florestais também poderá adiantar-se, estimulada pela ausência de chuva, pelos solos e folhas secas e pelo reduzido teor de humidade.