Kirk pode atingir Portugal na quarta-feira como uma tempestade e rio atmosférico agravará temporal de chuva, vento e mar

Kirk é um poderoso furacão de categoria 3. Nos próximos dias irá aproximar-se de Portugal continental, perdendo as suas características tropicais. Porém, prevê-se que provoque fenómenos meteorológicos muito adversos na nossa geografia.

A temporada de furacões no Atlântico está a tornar-se bastante prolífica na sua reta final. De acordo com os últimos dados do Centro Nacional de Furacões dos EUA (NHC, siglas em inglês), Kirk é um poderoso furacão de categoria 3 com ventos sustentados de 195 km/h e rajadas máximas em torno aos 195-220 km/h.

Nas próximas horas o furacão Kirk poderá diminuir de tamanho e perder alguma intensidade e grau de organização devido à sua passagem por águas mais frias (espera-se que baixe para a categoria 2 este domingo 6 de outubro às 12:00), mas nem por isso deixará de ser um potente sistema ciclónico tropical. A pressão central mínima do ciclone encontra-se neste momento com 949 hPa.

vento forte
Kirk, já como tempestade, produzirá um temporal de vento muito intenso no Norte e Centro de Portugal continental. No Minho há locais que poderão registar rajadas máximas de 110 km/h ou inclusive superiores.

Kirk está a deslocar-se para noroeste a uma velocidade de 25 km/h. Prevê-se que vire para norte e nordeste nas próximas horas, acelerando a sua velocidade de deslocação.

Kirk poderá tocar terra na Europa, mas não como furacão

Segundo o modelo de confiança da Meteored, é provável que Kirk perca a categoria de furacão ao final do dia de segunda-feira (7) a norte do arquipélago dos Açores. Isto deve-se ao facto de o ciclone encontrar um ambiente menos favorável à sua evolução: águas superficiais do mar ainda mais frias e um maior cisalhamento do vento.

Apesar de, na chegada à Europa, não estar prevista uma intensidade do vento tão extrema como os de um furacão “major” (ou grande furacão), o que os modelos sugerem é que após o processo de extratropicalização, o raio de ação dos ventos associados será mais extenso.

Após passar a norte dos Açores, Kirk tornar-se-á uma tempestade tropical e deslocar-se-á em direção à Europa. É pouco provável que Kirk chegue ao continente europeu como tempestade tropical e as probabilidades de vento com força (ou intensidade) de tempestade tropical são inferiores a 40%. Porém, no Alto Minho e noutras zonas montanhosas do extremo Norte de Portugal continental, a força do vento poderá, por vezes, ser equivalente à de uma tempestade tropical.

chuva Kirk Portugal
Alguns locais poderão acumular quase 250 mm de chuva em Portugal continental nos próximos 5 dias, caso as atuais previsões meteorológicas se mantenham.

Kirk perderá as suas características tropicais a meio do percurso entre os Açores e as costas do continente europeu ao interagir com a corrente de jato polar. É muito provável que influencie o estado do tempo no nosso país como uma forte tempestade das latitudes médias, mas sem o nome Kirk porque, quando cá chegar, o seu percurso enquanto furacão já terá passado à história.

Provável tempestade de grande impacto com fenómenos muito adversos

O facto de não chegar como furacão ou tempestade tropical não diminui os impactos e potenciais perigos associados a esta tempestade. Espera-se que o centro desta tempestade ou depressão de grande impacto se situe muito perto da costa da Galiza na manhã da próxima quarta-feira (9), percorrendo aceleradamente o Golfo da Biscaia e contornando a costa atlântica francesa nas horas seguintes. Nesse processo cavará até aos 980 hPa no Canal da Mancha.

Ao longo da sua passagem, o ex-furacão Kirk - já como uma tempestade de grande impacto e sem as características tropicais - provocará um temporal muito severo no mar, com ventos localmente intensos, ondas enormes e chuva forte e persistente.

Kirk vai impulsionar um rio atmosférico até ao nosso país, fazendo com que a chuva se torne localmente mais forte e persistente.

Em Portugal continental os efeitos poderão fazer-se sentir especialmente na Região Norte (e nesta, em particular no noroeste nas zonas a oeste da Barreira de Condensação - Viana do Castelo, Braga, Porto, setores oeste de Vila Real e Viseu), mas também parcialmente no Litoral Centro (Aveiro e Coimbra) entre o final da tarde de terça-feira (8) e durante grande parte do dia de quarta-feira (9).

Os fenómenos a ter em conta, de acordo com os mapas de referência da Meteored, são os seguintes:

  • Chuva persistente e pontualmente forte: entre 50 e mais de 80 mm poderão acumular-se em 24 horas no Noroeste de Portugal continental, especialmente em locais montanhosos do Minho, no extremo norte do distrito de Vila Real (Terras de Barroso) e ainda nas zonas de montanha da Região de Aveiro. É preciso referir também que a distribuição da precipitação ainda está muito incerta.
  • Rajadas de vento superiores a 90 km/h, especialmente no Minho, Douro Litoral, Alto Tâmega e Douro, Viseu Dão-Lafões, Nordeste Transmontano e Beira Alta. Prevê-se a possibilidade de velocidades a rondar ou até mesmo localmente superiores a 110 km/h no Alto Minho. Poderá ultrapassar os 70-80 km/h em vastas zonas das Regiões Norte e Centro, e inclusive mais a sul, como no Alto Alentejo - 75 km/h.
  • Agitação marítima: mar muito agreste em toda a costa ocidental portuguesa, com altura máxima de onda entre 5 e 8 metros no Litoral Centro e Sul, e entre 5 e 10 metros no Litoral Norte.

A maior ou menor intensidade destes fenómenos dependerá da trajetória da tempestade. O prazo de previsão deixa ainda margem para alterações significativas na distribuição e intensidade da chuva.

A tempestade no Noroeste de Portugal continental (englobando zonas a oeste da Barreira de Condensação, tal como os distritos de Viana do Castelo, Braga, Porto, Aveiro, Viseu e Vila Real) parece estar garantida, mas também está sujeita a possíveis variações na evolução do ciclone.