Irão as auroras boreais ser vistas esta noite a partir de Portugal? Eis a previsão dos peritos em meteorologia espacial
Uma forte tempestade geomagnética vai desencadear auroras boreais em grande parte do hemisfério norte. Eis a explicação do fenómeno e os países em que serão observadas.
As auroras são fenómenos luminosos que surgem nas camadas superiores da atmosfera (termosfera e exosfera), sob a forma de bandas ou arcos. Nos céus dos Polo Norte (Hemisfério Norte) este efeito de luzes e brilhos fluorescentes recebe o nome da aurora boreal, enquanto nos céus do Polo Sul (Hemisfério Sul) designa-se aurora austral.
Tal como já referimos aqui na Meteored, as próximas horas poderão ser marcadas pela observação de auroras em grandes zonas do Hemisfério Norte, em latitudes mais a sul do que o habitual. As grandes ejeções solares que irão interagir com o campo magnético da Terra são as responsáveis por isto.
Como se formam as auroras?
Comecemos por entender o papel do Sol - a maior estrela do nosso sistema planetário - e a enorme importância do campo magnético terrestre. O “astro-rei” envia calor, luz e partículas em direção à Terra e o campo magnético terrestre atua como uma “barreira protetora” do nosso planeta, impedindo-o de receber a maior parte da energia e das partículas ejetadas pelo Sol.
Deste modo, a atividade luminosa associada às auroras é consequência da interação do vento solar com o campo magnético da Terra. As partículas ejetadas pelo Sol, que constituem os ventos solares, tornam-se eletricamente carregadas e são atraídas para os pólos pelo campo magnético da Terra.
Os eletrões e os protões do vento solar interagem com os eletrões e os protões dos gases presentes na atmosfera superior (termosfera e exosfera), como o azoto e o oxigénio. Estes últimos ficam “excitados”, emitindo energia sob a forma de luz de diferentes comprimentos de onda.
As auroras ocorrem geralmente na termosfera, a altitudes de 90-150 km, e são mais comuns perto dos pólos. Em certas ocasiões, grandes ejeções solares podem dar origem a tempestades geomagnéticas e provocar interferências nas comunicações (satélites, GPS, entre outros).
Gases como o oxigénio permitem cores como o verde e o vermelho fluorescente. O nitrogénio favorece um brilho intenso, com cores azul e púrpura. Mas também há alturas em que ocorrem misturas destes gases e as cores que se manifestam são muito diversificadas e abundantes, tais como rosa, amarelo, laranja e branco.
Nas próximas horas e dias (10-12 de maio) vários países e regiões do Hemisfério Norte irão testemunhar uma poderosa tempestade geomagnética de classe G4, a segunda mais forte numa escala de 1 a 5 (G1 mais fraca - G5 mais intensa), algo que por outro lado depende do estado do tempo.
Para observar uma aurora boreal, tem de olhar para Norte, para um horizonte limpo e sem poluição luminosa. O céu limpo (completamente ausente de nebulosidade) é um requisito fulcral pois as auroras formam-se muito acima do nível de condensação.
Auroras previstas para as próximas horas
O Instituto de Geofísica da Universidade de Fairbanks, no Alasca, prevê uma elevada atividade de auroras boreais para as próximas horas no hemisfério norte. O índice KP será de 5, indicando que a atividade geomagnética é elevada e que as auroras serão extensas.
Instituto de Geofísica da Universidade de Fairbanks, Alasca
Serão visíveis nesta noite de sexta-feira, 10 de maio, a partir da Islândia, Noruega, Suécia, Finlândia e Rússia. Nos Estados Unidos, poderão ser observadas tão a sul como Nova Iorque, Minneapolis ou Vancouver.
Serão vistas de Portugal?
Esta noite a probabilidade de vermos auroras a partir de Portugal é muito baixa. No entanto, este fenómeno já foi observado a partir do nosso país noutras ocasiões. Por exemplo, no passado dia 6 de novembro de 2023, uma aurora tingida de rosa surgiu no céu da Figueira da Foz (Coimbra).
Anteriormente, no século XX e em pleno Estado Novo, há a confirmação da observação de pelo menos duas auroras boreais em Portugal. Segundo informações recolhidas pelos professores e investigadores científicos Ana Paula Silva Correia e José Rodrigues Ribeiro, uma delas ocorreu na noite de 25 para 26 de janeiro de 1938 e foi testemunhada em locais tão diversos como Lisboa, Porto, Esposende, Barcelos e Madeira.
A 21 de janeiro de 1957 ocorreu uma outra aurora boreal, vista a partir de locais como Matosinhos, Viana do Castelo, Trancoso, Meda e Unhais da Serra e relatada em jornais da época. Segundo se lê no 'O Comércio do Porto' de 22 de janeiro de 1957, “Um fenómeno celeste com todas as características duma aurora boreal, foi observado, ontem, à noite, sobre a área de Matosinhos”.