Irá fevereiro trazer uma mudança radical do tempo para Portugal?
Após um mês de janeiro caracterizado pela persistência do bloqueio anticiclónico, estamos às portas de fevereiro, um mês em que costumam ser habituais as mudanças súbitas no estado do tempo. O que nos poderá reservar fevereiro de 2022? Irá finalmente chegar a tão ansiada chuva?
Chegamos à reta final de janeiro com uma situação deveras preocupante (grave seca meteorológica), já que a persistência do bloqueio anticiclónico está a impedir a chegada da chuva, muito necessária e esperada, que nas últimas semanas fizeram aparições muito esporádicas e residuais.
Exceto as chuvadas ocasionais, por vezes com trovoada, que foram surgindo nos Açores e na Madeira, e um ou outro aguaceiro no sul de Portugal continental, o ambiente que dominou foi estável, frio, seco e soalheiro graças ao anticiclone.
Fevereiro, mês de grandes extremos e mudanças abruptas no tempo
No mês de fevereiro o tempo pode alterar-se rapidamente, numa questão de minutos. Vagas de frio, temperaturas veranis de até 25 ºC, neve, depressões, depressões isoladas em altitude (“Cut-Off”), entradas de ar frio, estabilidade anticiclónica… enfim; a atmosfera costuma ser imensamente dinâmica, e além disso já se vai notando claramente como o dia está a ganhar minutos em relação à noite, pelo que as temperaturas já não serão tão baixas como em janeiro.
De acordo com a normal climatológica de 1971-2000, fevereiro, apesar de muito diferenciado regionalmente (Norte muito mais chuvoso do que Centro, e sobretudo do que o Sul), é dos meses mais chuvosos no nosso país, constando em 4º lugar dos 12 meses do ano, acumulando, no Continente, uma média de 117,2 mm todos os anos. Por exemplo, no Alto Minho, Cávado, Ave e Área Metropolitana do Porto a precipitação média de fevereiro é superior à média do resto do país, oscilando entre os 220 e os 280 mm de pluviosidade. Isto contrasta imenso com as regiões mais secas e áridas, tais como Baixo Alentejo (58,2 mm) e Algarve (70 mm).
Um fevereiro mais estável e quente do que o habitual?
Tendo em conta as previsões do ECMWF, desde a Meteored-tempo.pt não estamos otimistas para as próximas semanas. Provavelmente vamos continuar sob a influência das altas pressões durante grande parte de fevereiro e poderemos passar de uma situação de bloqueio anticiclónico para uma de NAO+ (depressões a circular em latitudes altas e anticiclone nas nossas proximidades) à medida que os dias forem decorrendo. Contudo, tampouco se pode descartar que fevereiro, como em tantas outras ocasiões, nos traga mudanças repentinas no estado do tempo sob a forma de bolsas de ar frio ou que algumas perturbações frontais rocem o Norte do país (Minho, Douro Litoral, etc) graças a uma maior mobilidade dos centros de ação.
Com este cenário, os mapas salientam que as temperaturas vão registar valores mais elevados do que o normal em quase todo o país no conjunto do mês, sobretudo se começarmos a ser atingidos por massas de ar mais temperadas procedentes do Atlântico. Os registos térmicos poderão variar entre 1 ºC a 3 ºC acima da média em praticamente toda a extensão continental e Madeira. As únicas exceções serão o Nordeste Transmontano, que registará valores dentro do normal, e os Açores valores normais ou ligeiramente inferiores à média de referência.
Por outro lado, nos vales do interior transmontano, mais afetados por neblinas e nevoeiros, as temperaturas vão rondar valores normais. Para já, não se antecipa nenhuma situação de vaga de frio, embora haja indícios de que a corrente de jato possa apresentar mais ondulações nas nossas latitudes.
Menos chuvoso do que a média, mas a corrente de jato ainda terá uma palavra a dizer
Tampouco estamos muito otimistas aqui na Meteored em relação à chuva, e inclusive à neve (fenómeno pouco comum em Portugal continental) no que diz respeito à totalidade do mês. Fevereiro poderá ser muito mais seco do que o normal nas Regiões Norte e Centro. Isto não significa que não vá chover, ou até mesmo nevar nos pontos mais elevados das terras altas, mas sim que haverá menos tendência para a sua ocorrência em relação ao habitual. Também deverá estar um panorama menos húmido do que o normal de Leiria para sul (até ao Algarve), embora numa escala menos gravosa em relação às outras regiões.
Nos Açores parece que o cenário será semelhante ao do Continente. O único cenário mais normalizado poderá ser na Madeira, que deverá registar níveis de precipitação dentro do costume em termos climatológicos. Isto não são boas notícias, porque se esta previsão realmente se cumprir, o problema já de si complicado da seca irá continuar a agravar-se de forma significativa de norte a sul de Portugal continental, especialmente no Alentejo, Algarve e interior Norte. Ainda assim, há que ter esperança dado que fevereiro é conhecido pelas suas radicais mudanças do tempo que nos poderão trazer a tão desejada chuva.