Iminente efeito Fujiwhara às portas de Portugal Continental: o que é e como irá afetar o país nos próximos dias?
Nas próximas horas a gota fria que provocou chuva forte e granizo nalgumas regiões portuguesas vai interagir com o ex-furacão Franklin, originando uma “nova depressão”: será o exemplo perfeito de Efeito Fujiwhara. O que é isto e como poderá afetar Portugal?
A gota fria que tem afetado algumas regiões do nosso país nestes últimos dias - desde o arranque do outono climatológico (sexta, 1 de setembro) - através de chuva intensa, trovoada e queda de granizo, está agora a afastar-se da geografia do Continente em direção ao Atlântico, após deixar os seus últimos vestígios de instabilidade.
O seu fim será intrigante e fenomenal: unir-se-á ao ex-furacão Franklin pelo que será possível contemplar um incrível efeito Fujiwhara às portas de Portugal continental e Galiza.
O que é o efeito Fujiwhara?
Este fenómeno foi assim designado em homenagem a Sakuhei Fujiwhara, um meteorologista japonês que estudou entre 1921 e 1921 os vórtices ciclónicos que nascem no oceano, o que o levou a elaborar inúmeras experiências. Deste modo, descobriu que sob determinadas circunstâncias e se estiverem muito próximos, dois ciclones podem orbitar-se mutuamente, acabando por convergir para o centro da sua rotação.
Nas suas observações, concluiu que se um dos ciclones tende a ser mais forte, então terá um efeito dominante sobre o mais fraco. Além disso, isto pode desviar a trajetória original de um ou de ambos os ciclones. Os exemplos mais incríveis acontecem quando dois ciclones tropicais interagem, resultando em imagens de radar e de satélite impressionantes.
Todavia, este interessante efeito também pode produzir-se entre dois ciclones extratropicais. E isto é o que vai ocorrer nas próximas horas: o ex-furacão Franklin vai “devorar” a gota fria, originando uma “nova depressão”.
Nos ciclones extratropicais das latitudes médias, a interação do efeito Fujiwhara aparece quando estão a cerca de 2000 km de distância um do outro. Este fenómeno é raro nas proximidades de Portugal Continental e Espanha.
Eis como poderá afetar Portugal nos próximos dias
Segundo o nosso modelo de referência, esta depressão irá permanecer praticamente “estacionada” ao largo da costa oeste da Península Ibérica nos próximos dias, ao situar-se entre a Região Autónoma dos Açores e Portugal continental e Galiza.
Os modelos projetam os seguintes cenários: daqui poderá produzir-se uma típica depressão fria, ou, pelo contrário, pode vir a sofrer um processo de transição subtropical - possibilidade que, de momento, ainda não pode ser excluída.
O aspeto mais chamativo desta depressão é o facto de que irá “disparar” ar muito quente para Portugal continental, subindo sobre boa parte da Europa. A linha isotérmica de 20 ºC a 1500 metros de altitude poderia, inclusive, chegar até ao Mar do Norte!
No que diz respeito à precipitação associada, tudo indica que praticamente todo o território continental português será regado e beneficiado pela água da chuva na terça-feira, 5 de setembro, (numa altura em que 97% do território está em seca), sendo que nalgumas ocasiões apenas sob a forma de aguaceiros mais dispersos.
Caso as previsões dos mapas se concretizem, entre a reta final desta semana e o início da próxima, esta mesma depressão irá organizar-se e desenvolver-se, podendo aproximar-se de uma forma mais clarividente ao nosso país. No entanto, é importante realçar que a incerteza mantém-se bastante elevada e que os modelos, à data de hoje, projetam vários cenários.
No final desta semana existe a possibilidade de que efetivamente chegue a Portugal continental
Se atravessar o nosso país é provável que possa gerar uma reativação da instabilidade meteorológica (entre sábado dia 9 e terça 12), com períodos de chuva ou aguaceiros fracos e moderados, pontualmente fortes e provavelmente acompanhados de trovoadas irregulares e distribuídas de forma dispersa, ainda que possivelmente não tão intensos como os destes últimos dias. Também se prevê uma descida das temperaturas de oeste para leste.
Por outro lado, os vestígios da depressão podem vir a ser reabsorvidos pelo jato polar, sendo que os seus efeitos seriam meramente residuais. De qualquer das maneiras, aproveite para apreciar o espetacular efeito Fujiwhara, seja pelas nossas imagens de satélite ou in situ!