Hoje e amanhã a tempestade Martinho e Portugal sofrerão com o “efeito Fujiwhara”: vêm aí chuva e vento forte

A tempestade Martinho aproxima-se rapidamente e trará ventos superiores a 130 km/h, chuva intensa e risco de fenómenos extremos. O efeito Fujiwhara intensificará a instabilidade, aumentando a severidade do tempo. A ANEPC e IPMA alertam para impactes significativos e recomendam precaução.
Após a passagem de Laurence, que originou chuvas localmente muito intensas e importantes em várias regiões, espera-se um agravamento do estado de tempo em Portugal Continental.
A tempestade Martinho está a causar um impacte significativo em Portugal, trazendo chuvas intensas, ventos fortes e condições meteorológicas adversas. O fenómeno do "efeito Fujiwhara", que ocorre quando dois sistemas ciclónicos interagem, deverá desempenhar um papel central na evolução desta tempestade.
A formação e evolução da tempestade Martinho
A tempestade Martinho, que se originou nas proximidades da Gronelândia, desceu em direção ao Atlântico Norte com uma forte influência de ar frio em altitude, favorecendo os processos de ciclogénese e o desenvolvimento de várias depressões secundárias. Nos próximos dias, até três centros de baixa pressão poderão coexistir na zona oeste da Península Ibérica, com Martinho a absorver algumas dessas formações secundárias. Esta interação resultará no efeito Fujiwhara, intensificando os ventos e a instabilidade atmosférica.
Embora mais comum em ciclones tropicais, este efeito também pode ocorrer em ciclones extratropicais e depressões, como a que se está a desenvolver atualmente sobre o Atlântico e que afetará Portugal nas próximas horas.
A influência da tempestade Martinho será sentida em Portugal já durante o dia de hoje, com um agravamento progressivo das condições meteorológicas. São esperados ventos fortes e rajadas superiores a 100 km/h, podendo ultrapassar os 130 km/h em áreas montanhosas como a Serra da Estrela.
Abaixo, o nosso mapa de rajadas de vento ilustra na perfeição o efeito Fujiwhara, com dois centros de baixas pressões a orbitarem-se mutuamente: observa-se o que estará a norte da R.A da Madeira e a sudoeste de Portugal continental com 998 hPa de pressão mínima central, e o que estará a oeste do Continente com 989 hPa.

A precipitação será persistente, com valores acumulados superiores a 100 mm em algumas áreas do Norte e Centro. No Sul do país, a chuva será intensa, mas de curta duração, acompanhada por trovoadas e possibilidade de queda de granizo.
De qualquer modo, a principal preocupação decorre da intensidade de vento, que motivou já o aviso laranja nos distritos das regiões Centro e Sul, em particular nos distritos de Leiria, Santarém, Lisboa, Setúbal, Beja e Faro, onde os ventos serão particularmente mais intensos.
Possibilidade de fenómenos meteorológicos extremos
Com a interação das depressões em altitude, espera-se um ambiente propício ao desenvolvimento de linhas de instabilidade, capazes de gerar trovoadas severas. Além disso, a combinação de forte wind-shear e altos valores de energia convectiva (CAPE acima de 1000J/Kg) pode resultar em downbursts e granizo, principalmente no interior Centro e Norte.
No sábado, a depressão Martinho deverá deslocar-se para latitudes mais altas, reduzindo o impacte sobre Portugal. Contudo, a circulação atmosférica continuará ativa, com ventos ainda moderados e aguaceiros dispersos no Norte e Centro.

A partir de domingo, um novo anticiclone poderá estabilizar o tempo, trazendo abertas e uma ligeira subida das temperaturas. No entanto, modelos meteorológicos indicam a possibilidade de novas perturbações atlânticas na próxima semana, pelo que a incerteza ainda é elevada.